domingo, 23 de junho de 2013

Por que não cuido mais da Pitangueira




O texto não é meu, mas minha identificação é plena. Postarei aqui coisas outras que falem das estrelas, da alma, e só.


Atendendo à curiosidade de alguns e pedidos de outros tentarei esclarecer o misterioso fenômeno aqui ocorrido. O falecido blog nasceu com a finalidade de combater a mídia golpista, lembram dela? - continua firme, forte e golpista - mas problemas iguais ou maiores surgiram no caminho do infeliz blogueiro. O primeiro problema atende pelo nome de Dilma Rousseff. Excelente ministra, grande gerente e terrível presidente; um ser que abomina a política e vive no mundo das planilhas e das pesquisas de opinião. O cargo de presidente é político, não gerencial, fosse assim faríamos um concurso público para preencher o cargo e não eleições. Dilma é um desastre político de dimensões ainda incertas, não se sabe onde  vai terminar esse drama sem fim. Cercado pelo pior e mais reacionário ministério já escolhido em tempos democráticos, temos um governo que não só pede para ser derrubado, mas financia e elogia os que o odeiam.

Dito isso, esclareço que não defendo coisa nenhuma contra Dilma, nem sequer sua substituição em 2014 por Lula ou alguém com vocação política. Não é viável. Devido ao nível vergonhoso, criminoso e aterrador da oposição, toda ela, votarei em Dilma de novo em 2014, se não tivermos um golpe até lá, torcendo para que o pior não aconteça.

A segunda pedra no meu caminho é a chamada "blogosfera progressista", coletivo de gente burra e reacionária com a qual não suporto mais ser confundido. O apoio entusiasmado desse bando de iletrados à turba totalitária e fascistoide que tomou as ruas de São Paulo e depois do Brasil inteiro causou-me um mal-estar físico, uma vontade incontrolável de ter nascido em outro lugar ou outro tempo, livre dessas companhias.

O fato inacreditável de o único blogueiro importante a ter denunciado essa corja totalitária desde o primeiro instante e mantido e aprofundado a crítica mesmo quando o movimento foi oficialmente adotado pela mídia corporativa e assumiu bandeiras descaradamente golpistas ter sido Reinaldo Azevedo foi o tsunami, não a gota d'água, que afogou esse pobre ser nas profundezas do terror existencial. Não foi para ter Reinaldo Azevedo como companheiro de armas que entrei nessa fria.

À pergunta "E para onde ir agora e o que fazer?" eu respondo que não sou Lenin e, portanto, não pretendo escrever uma cartilha chamada "Que fazer?". Vou viver um dia de cada vez e enfrentar os problemas que surgem da melhor maneira possível sabendo que uma grande treva paira no horizonte. Meu consolo é já ter mais de 50 anos e saber que por pior que seja o futuro, não vai durar muito para mim.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Buscando em Hamlet

No célebre romance de Shakespeare, Hamlet, após perceber e afirmar que havia "algo de podre no reino da Dinamarca", passou a fingir-se de louco incapaz de compreender o que se passava ao seu redor, no intuito de meramente não ser eliminado e poder sobreviver. No final do romance, Hamlet consegue eliminar o seu cruel algoz, embora não tenha sido capaz de sobreviver porque seu algoz foi capaz de, antes de morrer, feri-lo de raspão com uma espada embebida em veneno mortal.

Ser ou não ser... Eis a questão. Que é mais nobre para a alma: suportar os dardos e arremessos do fado sempre adverso, ou armar-se contra um mar de desventuras e dar-lhes fim tentando resistir-lhes? Morrer... dormir... mais nada... Imaginar que um sono põe remate aos sofrimentos do coração e aos golpes infinitos que constituem a natural herança da carne, é solução para almejar-se. Morrer..., dormir... dormir... Talvez sonhar... É aí que bate o ponto. O não sabermos que sonhos poderá trazer o sono da morte, quando alfim desenrolarmos toda a meada mortal, nos põe suspensos. É essa idéia que torna verdadeira calamidade a vida assim tão longa! Pois quem suportaria o escárnio e os golpes do mundo, as injustiças dos mais fortes, os maus-tratos dos tolos, a agonia do amor não retribuído, as leis morosas, a implicância dos chefes e o desprezo da inépcia contra o mérito paciente, se estivesse em suas mãos obter sossego com um punhal? Que fardos levaria nesta vida cansada, a suar, gemendo, se não por temer algo após a morte - terra desconhecida de cujo âmbito jamais ninguém voltou - que nos inibe a vontade, fazendo que aceitemos os males conhecidos, sem buscarmos refúgio noutros males ignorados? De todos faz covardes a consciência. Desta arte o natural frescor de nossa resolução definha sob a máscara do pensamento, e empresas momentosas se desviam da meta diante dessas reflexões, e até o nome de ação perdem." Ato III, cena I

sexta-feira, 14 de junho de 2013

A pátria amada



Queria falar sobre política, o poder, o terror  e o mal disseminado entre o mundo, mas tudo isto é fato intensivo em toda a mídia, e não tenho muito o que falar nem para combater. O problema é que a grande tribo tupy-guarany está em polvorosa convulsão. Estamos cada dia mais traídos por uma paranoica necessidade dos ricos ficarem mais ricos, desde que sejam brancos, eslavos e nórdicos.

Para tentar explicar utilizando um outro contexto o que está ocorrendo na pátria amada, vamos ver o que circula na rede nacional 

Conspirações pelo Brasil

Acre
A conspiração do Acre é uma teoria da conspiração satírica em volta do estado brasileiro do Acre, onde é afirmado que este não existe, ou que dinossauros habitam o território. (aqui)

Amazonas
Um estudo recente mostra que cerca de 20% do total da Amazônia já emite mais dióxido de carbono do que absorve, ou seja, mais um pouco e deixa de existir. (aqui)

Bahia
Jorge Amado alarmou que "Baiano é um estado de espírito". Têm seu próprio dialeto - o dialeto baiano ou baianês, que é um dialeto do português brasileiro, cujos falantes têm como região geográfica o estado da Bahia, Por vezes, pela semelhança, é confundido com o dialeto nordestino. (aqui

Ceará
Cearense não é bem o que você pensava. A formação do cearense se deve a povos vikings que dominaram a Europa séculos atrás. (aqui)

Brasília - Distrito Federal
Como dizia Niemeyer: "você pode gostar ou não da cidade, mas nunca poderá dizer que já viu algo assim". Para começar, a cidade tem a forma de um avião, que fica dentro de um quadradinho, o Distrito Federal. Não tem esquinas e é a única cidade brasileira a receber uma corrida de... cadeiras de escritório. (aqui)

Espírito Santo
É um hiato meio bahiano, meio mineiro meio fluminense, mas se acha mesmo carioca sem sotaque. (aqui), como prova disto, cidade de Vitória, no Espírito Santo, é a única capital brasileira sem destaque no serviço do Google de mapeamento (aqui)
- para o capixaba as coisas não estragam, "daum tilt".
- capixaba adora falar "ninguém merece" pra tudo.
- capixaba não diz como vai, diz "qualé".
- capixaba inicia as frases com "deixa falar...".

Goiás
Se tem um negócio que os goianos fazem naturalmente é não usarem pronomes reflexivos., que são aqueles que expressam a igualdade entre o sujeito e o objeto da ação. “aném” ao 'tem base" começam ou encerram quaisquer diálogos. É o único estado que foi protetorado de São Paulo desde a sua criação
cujo nome não tem origem de referência.  Aném!! Goiás é Goiás e pronto, tem base?

Maranhão
O Maranhão nunca conseguiu se definir geograficamente. Parece Norte, já foi Meio-Norte e ultimamente tem de forma tímida se apresentado como Nordeste. Mas na verdade, na verdade mesmo, Maranhão é caribenho, criador do Reggae, simbioticamente vinculado à Jamaica (aqui). O Maranhão foi anexado ao pais somente em 1823, pelos ... ingleses, ah! estes ingleses... os mesmos que libertaram os jamaicanos dos malvados espanhóis Antes disto passou pela mão dos franceses e holandeses.

Mato Grosso
Pelo Tratado de Tordesilhas, pertencia à Espanha, até que abriram mão, já que era num lugar entre o quase e o fim do mundo. Para se ter uma ideia,  a notícia da independência do Brasil , que ocorreu em 7 de setembro de 1822, só chegou na província de Mato Grosso em 22 de janeiro de 1823, um pouco desacreditada, mas oficialmente chegou nesta data. Tem fuso horário diferente e confuso, já que não são todas as regiões que adotam este procedimento. Como vê, continuam longe.

Mato Grosso do Sul
Não existe. O que se autodenomina MS não passa de uma expansão gaúcha, com aquelas prendas lindas, aquele churrasco típico, aquelas danças coloridas, chimarrão, poncho e vinho, mas muito garrafão de vinho nas colônias espalhadas no território. 
 
Minas Gerais
No plural, caso único de duplo plural cultural, linguístico, econômico etc. Tudo em Minas é plural, tudo passa por Minas, assim no plural, exceto Goiás, mas Goiás não conta. Mineiro é uma incógnita universal que transcende.

O mineirês é um dialeto do português brasileiro falado na região central do estado. O Triângulo fala um mineirês Nheengatu, um dialeto bem rico e quase incompreensível ao português clássico. Na prática todo berlandês é no mínimo bilíngue.  
 
O implacável é o Uai. Nada se compara a ele. É a marca registrada do mineiro. Já tentaram colar muitas hipóteses para explicar o Uai, mas nenhuma delas se sustenta. O Uai existia antes do primeiro mineiro falar. É atávico, Uai é a ontogêneses explicando a filogênese de ser mineiro. Ah! E lá no Goiás, se fala Uai também, deve ser rastilho do plural.   

E tem o Trem, e o Trem é uma palavra que designa a Teoria de Tudo, ou Teoria do Todo, ou ainda teoria unificada ou unificadora de Minas. Poderia ser uma teoria científica hipotética que unificaria, procuraria explicar e conectar em uma só estrutura teórica, todos os fenômenos linguísticos do planeta num único tratamento teórico gramatical, linguístico  e quântico.

Pará
Em extensão territorial, é maior do que todo o sudeste, e fica só nisto. 

O Pará era para ser membro da União Europeia, mas os ingleses, ah!! Os ingleses. Tudo que se sabe é que quando o Brasil se torna independente no dia 7 de setembro e a Província do Grão Pará não aceita fazer parte do Brasil, fiel a Portugal.
 
Um ano depois alçou as sandálias da humildade e aderiu ao Brasil. Porém, essa adesão não foi tão simples. Dom Pedro I, Imperador do Brasil, enviou (sic) pro Pará um comandante de fragata inglês, John Grenfill, que havia sido contratado para formar a nossa Marinha. E ele foi com a missão única  e exclusiva de incorporar o Pará ao Brasil, custe o que custar. Chegou lá e assim o fez de maneira dramática, conta o historiador Jean Ribeiro. (aqui)

Paraná
A capital paranaense, Curitiba e alguns torcem para o Coritiba, que manteve a grafia de 1909, tem os pé vermelhos, tem os coxas brancas e uma infinidade de outras derivações étnicas. Só foi colonizado pelos portugueses tardiamente, e hoje soma uma abundância de etnias como portugueses, espanhóis, italianos, alemães, neerlandeses, eslavos, poloneses, ucranianos, árabes, coreanos, japoneses, gaúchos, catarinenses, paulistas, mineiros, nordestinos, indígenas e africanos, as quais colaboraram para o fortalecimento da identidade do povo paranaense. 

Ah, sim, fala-se português no Paraná, apesar dos nativos acharem que é uma língua estrangeira. 

Pernambuco
Dom João VI, quando veio fazer da província um co-império, cometeu a deselegância e desprezar Recife, a capital da mais rica e próspera capitania do brasil de então. Dali em diante Pernambuco virou uma efervescência de desconjuras. Deu revolução de dar no pau, e criou o maracatu, o frevo e o forró.  

Em 1817, cansados de carregar a corte na maré mansa do Rio de Janeiro, fizeram uma grande revolução, apoiada pelos ricos e pela igreja local. Os revoltosos buscaram o apoio dos ingleses, ah! os ingleses fizeram-se de surdos. 

Com uma enorme pressão, Dom João VI sufocou a rebelião separatista de uma forma abrupta, com prisões, violência, mortes e torturas. Depois de apaziguar sob o poder das armas, foi aos poucos dividindo a capitania de Pernambuco, criando os estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas.

Tenho orgulho danado destes pernambucanos.

Rio Grande do Sul
O nome do estado originou-se de uma série de erros e discordâncias cartográficas, quando se acreditava que a Lagoa dos Patos fosse a foz do Rio Grande. Tri legal!!

Segundo a wikipédia, Gaúcho é uma palavra oriunda do castelhano gaucho, um adjetivo que, aplicado a pessoas, pode significar "nobre, valente e generosa" ou "camponês experimentado em pecuária tradicional", ou ainda "velhaco, astuto, dissimulado ou ardiloso experiente", mas também pode ter o sentido de "vagabundo, contrabandista, desregrado e desprivilegiado". (aqui)

Como se sabe, gaúcho fala, entende lê e escreve bem o alemão, e tem noções de português para poder suportar os nordestinos de Santa Catarina para cima. 

Rio de Janeiro
Não existe. É uma crença popular, talvez o maior problema de identidade cultural dos nativos da terra brasilis. O que temos de verdade na alma do povo é a Guanabara rodeada de fluminenses, uns capixabas, outros mineiros e outros paulistas. 

Que venham os ventos da liberdade e devolvam ao país a sua capital cultural, social e maravilhosa.

Rondônia
Nunca deixou de ser o Guaporé lá das bandas do Acre.

Santa Catarina
Estado membro da União Europeia, com capital oficial em Berlim.

São Paulo
No princípio era São Paulo!

No princípio criou Deus o Brasil.
E o Brasil era sem forma e vazio; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas da Guanabara.
E disse Deus: Haja São Paulo; e houve São Paulo.

Com a perda da identidade cultural da Guanabara, o Brasil acabou isolando também São Paulo, como se tivéssemos vergonha de sermos felizes e sermos competentes para fazer e acontecer um grande desenvolvimento nacional. 

São Paulo caminha a passos largos para a desindustrialização, o que o descaracterizará completamente. Estamos testemunhando um movimento disruptivo de pátria. Triste sina ou maledicência? 

É isto aí!


quarta-feira, 12 de junho de 2013

Olavo Bilac, o Poeta Pornográfico.










Satânia


(...)


Sobe... cinge-lhe a perna longamente;


Sobe...- e que volta sensual descreve


Para abranger todo o quadril!- prossegue,


Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura,


Morde-lhe os bicos túmidos dos seios,


Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo


Da axila, acende-lhe o coral da boca,


E antes de se ir perder na escura noite,


Na densa noite dos cabelos negros,


Pára confusa, a palpitar, diante


Da luz mais bela dos seus grandes olhos.


E aos mornos beijos, às carícias ternas,


Da luz, cerrando levemente os cílios,


Satânia os lábios úmidos encurva,


E da boca na púrpura sangrenta


Abre um curto sorriso de volúpia...


Beijo Eterno


Diz tua boca: "Vem!"


"Inda mais!" diz a minha, a soluçar...Exclama


Todo o meu corpo que o teu corpo chama:


"Morde também!"


Ai! morde! que doce é a dor


Que me entra as carnes, e as tortura!


Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,


Morro por teu amor!


Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!


Beija-me assim!<


O ouvido fecha ao rumor


Do mundo, e beija-me, querida!


Vive só para mim, só para a minha vida,


Só para o meu amor!





Delírio


Nua, mas para o amor não cabe o pejo


Na minha a sua boca eu comprimia.


E, em frêmitos carnais, ela dizia:


Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!


Na inconsciência bruta do meu desejo


Fremente, a minha boca obedecia,


E os seus seios, tão rígidos mordia,


Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.


Em suspiros de gozos infinitos


Disse-me ela, ainda quase em grito:


Mais abaixo, meu bem! ? num frenesi.


No seu ventre pousei a minha boca,


Mais abaixo, meu bem! ? disse ela, louca,


Moralistas, perdoai! Obedeci…





Última Página


Primavera. Um sorriso aberto em tudo. Os ramos


Numa palpitação de flores e de ninhos.


Doirava o sol de outubro a areia dos caminhos


(Lembras-te, Rosa?) e ao sol de outubro nos amamos.


Verão. (Lembras-te Dulce?) À beira-mar, sozinhos,


Tentou-nos o pecado: olhaste-me... e pecamos;


E o outono desfolhava os roseirais vizinhos,


Ó Laura, a vez primeira em que nos abraçamos...


Veio o inverno. Porém, sentada em meus joelhos,


Nua, presos aos meus os teus lábios vermelhos,




(Lembras-te, Branca?) ardia a tua carne em flor...




Olavo Bilac, o Poeta Pornográfico.



Satânia
(...)
Sobe... cinge-lhe a perna longamente;
Sobe...- e que volta sensual descreve
Para abranger todo o quadril!- prossegue,
Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura,
Morde-lhe os bicos túmidos dos seios,
Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo
Da axila, acende-lhe o coral da boca,
E antes de se ir perder na escura noite,
Na densa noite dos cabelos negros,
Pára confusa, a palpitar, diante
Da luz mais bela dos seus grandes olhos.
E aos mornos beijos, às carícias ternas,
Da luz, cerrando levemente os cílios,
Satânia os lábios úmidos encurva,
E da boca na púrpura sangrenta
Abre um curto sorriso de volúpia...
Beijo Eterno
Diz tua boca: "Vem!"
"Inda mais!" diz a minha, a soluçar...Exclama
Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
"Morde também!"
Ai! morde! que doce é a dor
Que me entra as carnes, e as tortura!
Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,
Morro por teu amor!
Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
Beija-me assim!<
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!

Delírio
Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!
Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.
Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
Mais abaixo, meu bem! ? num frenesi.
No seu ventre pousei a minha boca,
Mais abaixo, meu bem! ? disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci…

Última Página
Primavera. Um sorriso aberto em tudo. Os ramos
Numa palpitação de flores e de ninhos.
Doirava o sol de outubro a areia dos caminhos
(Lembras-te, Rosa?) e ao sol de outubro nos amamos.
Verão. (Lembras-te Dulce?) À beira-mar, sozinhos,
Tentou-nos o pecado: olhaste-me... e pecamos;
E o outono desfolhava os roseirais vizinhos,
Ó Laura, a vez primeira em que nos abraçamos...
Veio o inverno. Porém, sentada em meus joelhos,
Nua, presos aos meus os teus lábios vermelhos,

(Lembras-te, Branca?) ardia a tua carne em flor...

Drummond, o poeta pornográfico

Cinco poemas pornográficos de Drummond, extraídos do livro O AMOR NATURAL
Maria La Piedra

Sugar e ser sugado pelo amor
Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
Que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar o ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.

A língua lambe
A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.
E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.

A castidade com que abria as coxas
A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava.
Na mansuetude das ovelhas mochas,
e tão estreita, como se alargava.
Ah, coito, coito, morte de tão vida,
sepultura na grama, sem dizeres.
Em minha ardente substância esvaída,
eu não era ninguém e era mil seres
em mim ressuscitados. Era Adão,
primeiro gesto nu ante a primeira
negritude de corpo feminino.
Roupa e tempo jaziam pelo chão.
E nem restava mais o mundo, à beira
dessa moita orvalhada, nem destino.

Mimosa boca errante
Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.
Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?
Mimosa boca e santa,
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.
Já sei a eternidade: é puro orgasmo.

Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficaste de joelhos
em posição devota.
O que passou não é passado morto.
Para sempre e um dia
o pênis recolhe a piedade osculante de tua boca.
Hoje não estás nem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto ou comunicação.
Não te vejo não te escuto não te aperto
mas tua boca está presente, adorando.
Adorando.

Nunca pensei ter entre as coxas um deus.