domingo, 30 de abril de 2017

O argumento da força X a força do argumento.

General Pirro
Está viralizado na rede o filme e a sequência de fotos de um homem de 33 anos sendo atingido violentamente por um outro homem, com uniforme de oficial militar. O homem vinha correndo de uma confusão criada pela atividade de outros homens com uniforme militar, na área onde estavam concentrados os manifestantes contrários a um governo desgovernado e caótico.

O outro homem, com uniforme de oficial militar, estava parado, estático, com um cassetete à mão, e em leve movimento foi em direção ao homem de 33 anos e descarregou toda a sua energia contra a testa daquele que não estava armado, não estava ameaçando, não estava gritando, não estava em rota de fuga por algum crime cometido, e nem sabia que a sua vida seria exposta ao risco da morte por estar ali, correndo de uma confusão criada pelos homens com uniforme militar,

O Papa Francisco vem desde 2013 enfrentando o ódio pelas suas percepções sociais e espirituais e o mais grave, pelas suas declarações oficiais sobre elas. Depois de várias batalhas no campo teológico, o campo político dominado pelo mesmo poder que acionou o cassetete do homem com uniforme de oficial militar prepara-lhe um ataque frontal, da mesma forma que bateu numa presidente eleita pela vontade popular, bem como da mesma forma que atingiu o homem de 33 anos.

Há no fálico cassetete a simbologia de que é o único* argumento másculo da força de dissipação capaz de calar e/ou intimidar os inimigos com riscos minimizados, mas é ineficaz contra a legítima força do argumento que uma vez liberta, exclui ódio, dúvidas e combate as sabotagens à democracia. *(excluindo armamentos pérfuro-contundentes por permitirem a distância da vítima, pérfuro-cortantes (raramente utilizados) e spray de pimenta que não denota poder e sim aversão às pessoas)

O argumento da força leva ao caos, sempre, seguido de um enorme vazio, seguido de depressão, seguido de dores e ranger de dentes, seguido de perversões e maldades, seguido de corrupção e sacanagem. Trás consigo a supressão dos direitos humanos, trabalhistas, religiosos e acadêmicos. No pacote da maldade estão embutidos ditadores, fascistas, nazistas, mulheres vazias e homens covardes.

O argumento da força não é exclusividade humana, faz parte da irracionalidade do mundo animal, vegetal, monera, protista e fungi. Só a força do argumento é humana, por que exige mente, corpo e alma, sobretudo alma.

É isto aí!

Dançou!






Querida, tem alguma coisa na sala.





Sim, eu já ouvi há muito tempo.





E por que não foi ver?





Por que não sou o homem da casa.





Nem eu.





Mas ele não está e você está no lugar dele.





Como assim no lugar dele? Eu não sou substituto do seu marido.





Sim, de fato não é.





O que você quis dizer com isto? Não gosto de comparações, hem!!





Eu disse o que eu sei - você é bom, mas é muito rápido, já chega e pronto, e com sorte rola uma segunda corridinha depois de muito tempo, além disto não lê livros, não assiste filmes cults, não lê blogs sujos ...





Não sou seu marido e sou bom naquilo que faço.





É, é bom, mas muito rapidinho, sabe, você parece movido a pilha duracell, e eu gosto de valsa vienense, sabe, com ele é uma delícia, nisto ele é bom.





Isto foi demais. Quer saber? Eu vou embora.





Isto, vai mesmo, mas antes checa o barulho na sala, por que ele parou enquanto discutíamos a relação.





Parou? Parou mesmo? Como assim? Vou ver isto.





Ora, ora, já és um homenzinho ...





Não provoca. Eu vou.





Ué, já voltou?





Já - era seu marido que estava na sala.





Meu Deus do céu, minha santa madalena dos pecados remidos, estou acabada. Ele ainda está lá?





Não, foi embora, mas tinha uma felicidade tão inenarrável na face que não parava de rir da nossa discussão. Não entendi muito a parte onde ele agradeceu muito a minha performance e disse que depois ligaria para você. O que significa "performance"?





É isto aí!




Dançou!

Querida, tem alguma coisa na sala.

Sim, eu já ouvi há muito tempo.

E por que não foi ver?

Por que não sou o homem da casa.

Nem eu.

Mas ele não está e você está no lugar dele.

Como assim no lugar dele? Eu não sou substituto do seu marido.

Sim, de fato não é.

O que você quis dizer com isto? Não gosto de comparações, hem!!

Eu disse o que eu sei - você é bom, mas é muito rápido, já chega e pronto, e com sorte rola uma segunda corridinha depois de muito tempo, além disto não lê livros, não assiste filmes cults, não lê blogs sujos ...

Não sou seu marido e sou bom naquilo que faço.

É, é bom, mas muito rapidinho, sabe, você parece movido a pilha duracell, e eu gosto de valsa vienense, sabe, com ele é uma delícia, nisto ele é bom.

Isto foi demais. Quer saber? Eu vou embora.

Isto, vai mesmo, mas antes checa o barulho na sala, por que ele parou enquanto discutíamos a relação.

Parou? Parou mesmo? Como assim? Vou ver isto.

Ora, ora, já és um homenzinho ...

Não provoca. Eu vou.

Ué, já voltou?

Já - era seu marido que estava na sala.

Meu Deus do céu, minha santa madalena dos pecados remidos, estou acabada. Ele ainda está lá?

Não, foi embora, mas tinha uma felicidade tão inenarrável na face que não parava de rir da nossa discussão. Não entendi muito a parte onde ele agradeceu muito a minha performance e disse que depois ligaria para você. O que significa "performance"?

É isto aí!

"Mas nós sabemos que a lei é boa, contanto que dela se faça um uso legítimo" 1 Timóteo 1:9




Eu queria escrever que este grupo que tomou de assalto a pátria é nefasto, mas estou com muita raiva para escrever sobre isto.





Eu queria escrever sobre a classe média que sente vergonha de ser classe média e fica lambendo e babando na sola dos ricos, mas estou muito decepcionado por ter amigos nesta condição.





Eu queria escrever sobre a falência provocativa do SUS, mas estou me sentido enojado da gula dos grandes grupos que estão para tomar de assalto as dores do povo.





Eu queria escrever sobre meu amigo Sérgio que buscou hoje a saída abrupta deste plano existencial deixando o testemunho de que toda esta maldade golpista o havia consumido e destruído seus sonhos.





Eu queria escrever sobre o ensino público, vendido e destruído para louvor e glória de grandes filhos de putas ricas.





Eu queria escrever sobre o crime do sistema financeiro sobre a classe média, com juros desleais e custos estratosféricos.





Eu queria escrever sobre coisas bonitas da manifestação popular de ontem, mas a violência desproporcional dos senhores que se julgam superiores sobre os homens e mulheres que trabalham e produzem a riqueza deste país, neste dia de paralisação e greve nacional foi criminosa. Um dia, e este dia chega, a conta vence.





Eu queria escrever sobre a justiça cega, sobre a insegurança, sobre os bilhões roubados por canalhas instalados nos poderes constitucionais e  que fazem escárnio da nossa luta, mas como direito de todos os cidadãos, a justiça realmente está cega. 





É isto aí!

"Mas nós sabemos que a lei é boa, contanto que dela se faça um uso legítimo" 1 Timóteo 1:9

Eu queria escrever que este grupo que tomou de assalto a pátria é nefasto, mas estou com muita raiva para escrever sobre isto.

Eu queria escrever sobre a classe média que sente vergonha de ser classe média e fica lambendo e babando na sola dos ricos, mas estou muito decepcionado por ter amigos nesta condição.

Eu queria escrever sobre a falência provocativa do SUS, mas estou me sentido enojado da gula dos grandes grupos que estão para tomar de assalto as dores do povo.

Eu queria escrever sobre meu amigo Sérgio que buscou hoje a saída abrupta deste plano existencial deixando o testemunho de que toda esta maldade golpista o havia consumido e destruído seus sonhos.

Eu queria escrever sobre o ensino público, vendido e destruído para louvor e glória de grandes filhos de putas ricas.

Eu queria escrever sobre o crime do sistema financeiro sobre a classe média, com juros desleais e custos estratosféricos.

Eu queria escrever sobre coisas bonitas da manifestação popular de ontem, mas a violência desproporcional dos senhores que se julgam superiores sobre os homens e mulheres que trabalham e produzem a riqueza deste país, neste dia de paralisação e greve nacional foi criminosa. Um dia, e este dia chega, a conta vence.

Eu queria escrever sobre a justiça cega, sobre a insegurança, sobre os bilhões roubados por canalhas instalados nos poderes constitucionais e  que fazem escárnio da nossa luta, mas como direito de todos os cidadãos, a justiça realmente está cega. 

É isto aí!

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Mulheres de luz



Quando vejo

as fotos nuas

das moças pálidas

sob luz difusa



Siliconadas

Torneadas

Saradas

e plastificadas



Sem suor, sem poros

nas curvas aloiradas

onde a luz filtra

o difuso desejo



Aos macambúzios

aos solitários

aos idiotizados

e macários satanizados



Penso nas moças

pagãs, lindas,

tangíveis nas sombras

e imperdíveis ao tato.



Sob a luz dura

sem maiores alardes

gemem, sussurram, amam

se entregam devardes



Livres, sem pressa

Ah! Mulheres sem filtro

são musas divinas

feito messe luzidia.





 É isto aí!





* Na foto - Maria Antonieta Pons: Dançarina, atriz e maior mito do cinema mexicano dos anos 1940,  nasceu no dia 11 de julho de 1922, em Havana, Cuba e faleceu aos 82 anos em 20 de agosto de 2004 na Cidade do México , México.

Mulheres de luz

Quando vejo
as fotos nuas
das moças pálidas
sob luz difusa

Siliconadas
Torneadas
Saradas
e plastificadas

Sem suor, sem poros
nas curvas aloiradas
onde a luz filtra
o difuso desejo

Aos macambúzios
aos solitários
aos idiotizados
e macários satanizados

Penso nas moças
pagãs, lindas,
tangíveis nas sombras
e imperdíveis ao tato.

Sob a luz dura
sem maiores alardes
gemem, sussurram, amam
se entregam devardes

Livres, sem pressa
Ah! Mulheres sem filtro
são musas divinas
feito messe luzidia.


 É isto aí!


* Na foto - Maria Antonieta Pons: Dançarina, atriz e maior mito do cinema mexicano dos anos 1940,  nasceu no dia 11 de julho de 1922, em Havana, Cuba e faleceu aos 82 anos em 20 de agosto de 2004 na Cidade do México , México.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Como fazer um poema

Alto lá
Este poema não é meu
Copiei e colei
Autor - Itárcio Ferreira*
Fonte - Se não canto, pelo menos grito



Primeiro, finja-se de morto,
distraído, o idiota da aldeia.
E como quem não quer nada,
agarre a perninha do poema.
Segure-a de leve, puxando-a com carinho.
Deite o poema no papel, sorria.
Balance o pequeno poema recém-nascido,
examine-o: cada letra, cada palavra, cada som, cada silêncio.
Banhe-o com a palavra solidariedade,
que só pode ser encontrada no vocabulário do socialismo.
Dispa-se de qualquer preconceito:
entregue-o ao leitor.

* Itárcio Ferreira nasceu em Carpina-PE (1962), mora em Recife. É poeta, contista e cantor. Publicou “Se Não Canto, Pelo Menos Grito” (poemas — 1983); “Apocalipse e Outros Poemas” (poemas — 1989); “A Construção e Outros Contos” (contos — 1991) e “Toda Colheita” (poemas — 2016). Em 2002 gravou o CD “Maracatu Prá Ela”. Publica seus poemas no blog “Itárcio Ferreira, poemas” (http://itarcioferreira.blogspot.com.br/).

Admiração (Paulinho Moska)


Meus olhos, famintos, não se cansam


de te acariciar 


Procuram sempre um novo ângulo 


pra te admirar


E sonham mergulhar na sua boca de vulcão


Provar todo o calor que há na sua erupção





Escorregar nos rios claros


das margens dos teus pêlos 


E encontrar o ouro escondido 


que brilha em seus cabelos


Devorar a fruta que te emprestou o cheiro


E talvez desfrutar de um amor puro e verdadeiro





Esquecer o espaço, o tempo e o viver


Perder a noção do que é ter a noção do perder


Se um dia eu fui alegria ao te conhecer


Agora canto porque sinto a dor de não te ter









Admiração (Paulinho Moska)

Meus olhos, famintos, não se cansam
de te acariciar 
Procuram sempre um novo ângulo 
pra te admirar
E sonham mergulhar na sua boca de vulcão
Provar todo o calor que há na sua erupção

Escorregar nos rios claros
das margens dos teus pêlos 
E encontrar o ouro escondido 
que brilha em seus cabelos
Devorar a fruta que te emprestou o cheiro
E talvez desfrutar de um amor puro e verdadeiro

Esquecer o espaço, o tempo e o viver
Perder a noção do que é ter a noção do perder
Se um dia eu fui alegria ao te conhecer
Agora canto porque sinto a dor de não te ter


Chico Buarque - Fado Tropical - (abertura "Grândola Vila Morena" de Zeca...










Poema completo de Ruy Guerra e Chico Buarque:





Oh, musa do meu fado 


Oh, minha mãe gentil


Te deixo consternado 


No primeiro abril


Mas não sê tão ingrata 


Não esquece quem te amou


E em tua densa mata 


Se perdeu e se encontrou





Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal


Ainda vai tornar-se um imenso Portugal





"Sabe, no fundo eu sou um sentimental


Todos nós herdamos no sangue lusitano 


uma boa dose de lirismo


(além da sífilis, é claro)


Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas


 em torturar, esganar, trucidar


Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."





Com avencas na caatinga Alecrins no canavial


Licores na moringa Um vinho tropical


E a linda mulata Com rendas do Alentejo


De quem numa bravata Arrebato um beijo





Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal


Ainda vai tornar-se um imenso Portugal





Meu coração tem um sereno jeito


E as minhas mãos o golpe duro e presto


De tal maneira que, depois de feito


Desencontrado, eu mesmo me contesto





Se trago as mãos distantes do meu peito


É que há distância entre intenção e gesto


E se o meu coração nas mãos estreito


Me assombra a súbita impressão de incesto





Quando me encontro no calor da luta


Ostento a aguda empunhadura à proa


Mas o meu peito se desabotoa


E se a sentença se anuncia bruta


Mais que depressa a mão cega executa


Pois que senão o coração perdoa





Guitarras e sanfonas, 


Jasmins, coqueiros, fontes


Sardinhas, mandioca 


Num suave azulejo


E o rio Amazonas 


Que corre Trás-os-Montes


E numa pororoca deságua no Tejo





Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal


Ainda vai tornar-se um imenso Portugal







Chico Buarque - Fado Tropical - (abertura "Grândola Vila Morena" de Zeca...



Poema completo de Ruy Guerra e Chico Buarque:

Oh, musa do meu fado 
Oh, minha mãe gentil
Te deixo consternado 
No primeiro abril
Mas não sê tão ingrata 
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata 
Se perdeu e se encontrou

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

"Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano 
uma boa dose de lirismo
(além da sífilis, é claro)
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas
 em torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..."

Com avencas na caatinga Alecrins no canavial
Licores na moringa Um vinho tropical
E a linda mulata Com rendas do Alentejo
De quem numa bravata Arrebato um beijo

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto

Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto

Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadura à proa
Mas o meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa

Guitarras e sanfonas, 
Jasmins, coqueiros, fontes
Sardinhas, mandioca 
Num suave azulejo
E o rio Amazonas 
Que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca deságua no Tejo

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal


quarta-feira, 26 de abril de 2017

O Censo Fonográfico







Bom dia, senhor, somos do Censo Fonográfico do Ministério da Ordem Pública e Social do nosso glorioso e destemido Governo Instaurado, Inserido, Implantado e Protegido pela Companhia do Sagrado Coração dos Homens de Bem do Pato Amarelo, liderado pelo poluto e imaculado grande líder Dom Miguel, o Velho, doravante denominado somente como O Grande Líder, e queremos saber quais músicas o senhor escuta quando está triste.





Ahn? Como é que é?





Em nome da lei e da ordem, por determinação do Grande Líder, eu quero a relação das músicas que o senhor escuta quando está triste





Todas?





Não,  limitamos a doze, pois cientificamente acima disto o gosto musical começa a ser repetitivo, tendendo para apenas um ritmo, segundo estudos psico-fonográficos feitos pelo Estado Maior das Forças Sonoras do governo do nosso Grande Líder.





Interessante, não sabia que existiam estas coisas.





Há mais coisas entre o Poder Pleno dos Homens de Bem do Pato Amarelo e o senhor do que possa imaginar seu insignificante estado de ser e existir, senhor.





Bem, em sendo assim compulsório, visto a presença destes silenciosos senhores armados com potentes equipamentos de cunho letal, vou revelar:





Cunha, o senhor falou Cunha?





Não, podem abaixar isto daí, eu disse cunho, Cunho CU-NHO





Ah, bom, pode prosseguir.





Eu vou dar um pulo lá dentro para pegar meus cds.





Lulalá? O senhor disse lulalá?





Nãããããão. Caramba, precisa bater? Que isto agora? Não era só um censo? Eu disse um-pu-lo-lá.





Ah, bom, mas não pode sair daqui. Tem que ser espontâneo.





Tudo de uma vez?





Dilma vê? Dilma vê o que, senhor? Quer ser preso por desacato a autoridade? Está achando o que, seu merdinha?





Esquece. Vou citar alguns de cabeça, ok?





Certo, mas não vá nos enganar, hem - detectamos terroristas só pelo andar deles.





Terroristas? Mas não era só uma pesquisa ...





Quem pergunta aqui sou eu, senhor. Quero a delação, digo, a relação agora.





Bem, assim de ouvido, vamos lá:





Eu escuto Izumi Sakai  cantando Can't take my eyes off of you


Aquela japonezinha? Boa escolha




Eu escuto Vander Lee cantando Onde Deus possa me ouvir.


Hummm ... muito bom!




Eu escuto Stevie Wonder cantando For once in my life


Clássico, não é? É um clássico!




Eu escuto Willie Nelson cantando Crazy


Rapaz, você fica triste mesmo, hem!




Eu escuto Aline Hrasko cantando Eu não existo sem você


A garota capixaba. Gostei, está indo bem!




Eu escuto Yamandu Costa & Dominguinhos tocando Pedacinho do Céu


Excelente escolha! Excelente escolha. O que mais?




Eu escuto Astor Piazzola tocando Adios Nonino


Isto sim é ficar triste com classe. Prossiga.




Eu escuto Tom Jobim cantando Falando de amor


Musiquinha nheco nheco, mas cada um é triste à sua maneira. Próxima.




Eu escuto Raíssa Amaral tocando Bachianinha n° 1 (Paulinho Nogueira)


Linda a moça, e qualquer música cai bem nela. Boa escolha. Próxima.




Eu escuto Diana Krall cantando Este teu olhar


Um sofrimento com bossa, boa. Próxima.




Eu escuto Dalida cantando Paroles Paroles


Musa, não é? Musa. Parabéns pela escolha. Muito bem, senhor. Só mais uma e está liberado.





Mais uma ... mais uma ... puxa vida, difícil demais, vamos lá:


Eu escuto Pink Floyd cantando Another Brick In The Wall





Eu sabia!! Terroristazinho de merda! Por qual motivo o senhor escuta Pink Floyd?





Não sei, pelo amor de Deus, nem sei por que falei isto ... me dá mais uma chance, eu falo uma do Roberto.





Já teve a sua chance, senhor.





Não, eu canto qualquer coisa, eu nem sei de onde saiu esta música, nem conheço este pessoal, olha eu peço desculpas ...





Não há mais nada a fazer neste caso, e segundo o Código o senhor fez de boa fé uma delação de réu confesso e conforme as seis testemunhas oficiais aqui designadas em nome do Grande Líder e pelos poderes a mim instituídos, o senhor está sendo multado em 300.000 dinheiros por destruir a sequência lógica de manifestação sonora autorizada para estados tristes segundo decreto-lei 23.654-AX9 do Grande Líder, também conhecida como Lei Magna do Calado, para servir a ele, que é a  nossa força maior.




Além disto, como suspeito de terrorismo intelectual, está detido para averiguação musical de relevância ácida, digamos assim, e por porte de memória estranha à nova ordem. Por favor nos acompanhe ...





Madalena ... Ô mulher, Madalena!!!! Pelamordedeus, vem cá, mulher!!!!!





O que foi? Mas o que é isto? Agenor, o que está acontecendo? Quem são estas pessoas? Você está algemado?





Madalena, não tenho tempo para explicar, liga para o Osório e pede para ele ir urgente na na ... para onde vocês estão me levando mesmo?





Olha aqui seu terrorista, traidor da pátria, para onde estamos te levando não te interessa. E se está falando do Osório Almeida, aquele advogadozinho comunista da Avenida das Mangas, pode esquecer, por que ele já está lá.





Já está lá? Como assim já está lá?





Fez uma relação fraquinha fraquinha e em ato falho incluiu a esquerdochata Tracy Chapman, mas bastou uma pequena conversa que tivemos em local incerto e não sabido, te entregou rapidinho e posso ver que você é mais perigoso do que ele  - vamos vamos, lugar de terrorista é no buraco.





Madalena, faça alguma coisa ... liga para minha mãe ... liga para o Papa Francisco ... Madalena ...





É isto aí!

O Censo Fonográfico


Bom dia, senhor, somos do Censo Fonográfico do Ministério da Ordem Pública e Social do nosso glorioso e destemido Governo Instaurado, Inserido, Implantado e Protegido pela Companhia do Sagrado Coração dos Homens de Bem do Pato Amarelo, liderado pelo poluto e imaculado grande líder Dom Miguel, o Velho, doravante denominado somente como O Grande Líder, e queremos saber quais músicas o senhor escuta quando está triste.

Ahn? Como é que é?

Em nome da lei e da ordem, por determinação do Grande Líder, eu quero a relação das músicas que o senhor escuta quando está triste

Todas?

Não,  limitamos a doze, pois cientificamente acima disto o gosto musical começa a ser repetitivo, tendendo para apenas um ritmo, segundo estudos psico-fonográficos feitos pelo Estado Maior das Forças Sonoras do governo do nosso Grande Líder.

Interessante, não sabia que existiam estas coisas.

Há mais coisas entre o Poder Pleno dos Homens de Bem do Pato Amarelo e o senhor do que possa imaginar seu insignificante estado de ser e existir, senhor.

Bem, em sendo assim compulsório, visto a presença destes silenciosos senhores armados com potentes equipamentos de cunho letal, vou revelar:

Cunha, o senhor falou Cunha?

Não, podem abaixar isto daí, eu disse cunho, Cunho CU-NHO

Ah, bom, pode prosseguir.

Eu vou dar um pulo lá dentro para pegar meus cds.

Lulalá? O senhor disse lulalá?

Nãããããão. Caramba, precisa bater? Que isto agora? Não era só um censo? Eu disse um-pu-lo-lá.

Ah, bom, mas não pode sair daqui. Tem que ser espontâneo.

Tudo de uma vez?

Dilma vê? Dilma vê o que, senhor? Quer ser preso por desacato a autoridade? Está achando o que, seu merdinha?

Esquece. Vou citar alguns de cabeça, ok?

Certo, mas não vá nos enganar, hem - detectamos terroristas só pelo andar deles.

Terroristas? Mas não era só uma pesquisa ...

Quem pergunta aqui sou eu, senhor. Quero a delação, digo, a relação agora.

Bem, assim de ouvido, vamos lá:

Eu escuto Izumi Sakai  cantando Can't take my eyes off of you
Aquela japonezinha? Boa escolha

Eu escuto Vander Lee cantando Onde Deus possa me ouvir.
Hummm ... muito bom!

Eu escuto Stevie Wonder cantando For once in my life
Clássico, não é? É um clássico!

Eu escuto Willie Nelson cantando Crazy
Rapaz, você fica triste mesmo, hem!

Eu escuto Aline Hrasko cantando Eu não existo sem você
A garota capixaba. Gostei, está indo bem!

Eu escuto Yamandu Costa & Dominguinhos tocando Pedacinho do Céu
Excelente escolha! Excelente escolha. O que mais?

Eu escuto Astor Piazzola tocando Adios Nonino
Isto sim é ficar triste com classe. Prossiga.

Eu escuto Tom Jobim cantando Falando de amor
Musiquinha nheco nheco, mas cada um é triste à sua maneira. Próxima.

Eu escuto Raíssa Amaral tocando Bachianinha n° 1 (Paulinho Nogueira)
Linda a moça, e qualquer música cai bem nela. Boa escolha. Próxima.

Eu escuto Diana Krall cantando Este teu olhar
Um sofrimento com bossa, boa. Próxima.

Eu escuto Dalida cantando Paroles Paroles
Musa, não é? Musa. Parabéns pela escolha. Muito bem, senhor. Só mais uma e está liberado.

Mais uma ... mais uma ... puxa vida, difícil demais, vamos lá:
Eu escuto Pink Floyd cantando Another Brick In The Wall

Eu sabia!! Terroristazinho de merda! Por qual motivo o senhor escuta Pink Floyd?

Não sei, pelo amor de Deus, nem sei por que falei isto ... me dá mais uma chance, eu falo uma do Roberto.

Já teve a sua chance, senhor.

Não, eu canto qualquer coisa, eu nem sei de onde saiu esta música, nem conheço este pessoal, olha eu peço desculpas ...

Não há mais nada a fazer neste caso, e segundo o Código o senhor fez de boa fé uma delação de réu confesso e conforme as seis testemunhas oficiais aqui designadas em nome do Grande Líder e pelos poderes a mim instituídos, o senhor está sendo multado em 300.000 dinheiros por destruir a sequência lógica de manifestação sonora autorizada para estados tristes segundo decreto-lei 23.654-AX9 do Grande Líder, também conhecida como Lei Magna do Calado, para servir a ele, que é a  nossa força maior.

Além disto, como suspeito de terrorismo intelectual, está detido para averiguação musical de relevância ácida, digamos assim, e por porte de memória estranha à nova ordem. Por favor nos acompanhe ...

Madalena ... Ô mulher, Madalena!!!! Pelamordedeus, vem cá, mulher!!!!!

O que foi? Mas o que é isto? Agenor, o que está acontecendo? Quem são estas pessoas? Você está algemado?

Madalena, não tenho tempo para explicar, liga para o Osório e pede para ele ir urgente na na ... para onde vocês estão me levando mesmo?

Olha aqui seu terrorista, traidor da pátria, para onde estamos te levando não te interessa. E se está falando do Osório Almeida, aquele advogadozinho comunista da Avenida das Mangas, pode esquecer, por que ele já está lá.

Já está lá? Como assim já está lá?

Fez uma relação fraquinha fraquinha e em ato falho incluiu a esquerdochata Tracy Chapman, mas bastou uma pequena conversa que tivemos em local incerto e não sabido, te entregou rapidinho e posso ver que você é mais perigoso do que ele  - vamos vamos, lugar de terrorista é no buraco.

Madalena, faça alguma coisa ... liga para minha mãe ... liga para o Papa Francisco ... Madalena ...

É isto aí!

terça-feira, 25 de abril de 2017

Ana Lobo esteve aqui

Para minha alegria (imensurável), recebo agora como leitora deste expositor das coisas do Reino da Pitangueira, a Ana Lobo.



Olha, Ana Lobo é um doce, uma das minhas maiores alegrias, que bom! que bom!



Olha, Ana, ache aqui um canto, se acomode, e declaro que até onde sua vista alcança é da sua liberdade total vagar, sem freio, sem censura, sem protestos,



Venha sempre, vem sem pressa!



Um forte abraço

Ana Lobo esteve aqui

Para minha alegria (imensurável), recebo agora como leitora deste expositor das coisas do Reino da Pitangueira, a Ana Lobo.

Olha, Ana Lobo é um doce, uma das minhas maiores alegrias, que bom! que bom!

Olha, Ana, ache aqui um canto, se acomode, e declaro que até onde sua vista alcança é da sua liberdade total vagar, sem freio, sem censura, sem protestos,

Venha sempre, vem sem pressa!

Um forte abraço

Esta é a Forma Fêmea (Walt Whitman, in "Leaves of Grass" )

flickr
Antes de falar sobre a forma fêmea de Walt Whiltman, vamos dar um breve giro sobre a mulher do ponto de vista da poesia da pátria amada, idolatrada, salve salve todos menos os misóginos  - nada a temer e sua trupe torpe:

- Abrindo um salão / Passas em exposição / Passas sem ver teu vigia / Catando a poesia / que entornas no chão (Vitrines - Chico Buarque)

- Quando passas, tão bonita / Nessa rua banhada de sol / Minha alma segue aflita (Falando de amor - Tom Jobim)

- Oh! como és linda, mulher que passas / Que me sacias e suplicias / Dentro das noites, dentro dos dias! (Soneto da devoção - Vinicius de Moraes)

- Como as mulheres são lindas! / Inútil pensar que é do vestido... (Mulheres - Manuel Bandeira)

- É que esta criatura, adorável, divina, / Nem se pode explicar, nem se pode entender: / Procura-se a mulher e encontra-se a menina, / Quer-se ver a menina e encontra-se a mulher! (Falenas - Machado de Assis)

Agora, num momento espiritual, a descrição da mulher amada e desejada como está na Bíblia, nos Cântico dos Cânticos (Cantares) de Salomão 7, 2-10

"Como são graciosos os teus pés nas tuas sandálias, filha de príncipe! A curva de teus quadris assemelha-se a um colar, obra de mãos de artista; 3.teu umbigo é uma taça redonda, cheia de vinho perfumado; teu corpo é um monte de trigo cercado de lírios; 4.teus dois seios são como dois filhotes gêmeos de uma gazela; 5.teu pescoço é uma torre de marfim; teus olhos são as fontes de Hesebon junto à porta de Bat-Rabim. Teu nariz é como a torre do Líbano, que olha para os lados de Damasco; 6.tua cabeça ergue-se sobre ti como o Carmelo; tua cabeleira é como a púrpura, e um rei se acha preso aos seus cachos. 7.- Como és bela e graciosa, ó meu amor, ó minhas delícias! 8.Teu porte assemelha-se ao da palmeira, de que teus dois seios são os cachos. 9.Vou subir à palmeira, disse eu comigo mesmo, e colherei os seus frutos. Sejam-me os teus seios como cachos da vinha. 10.E o perfume de tua boca como o odor das maçãs; teus beijos são como um vinho delicioso que corre para o bem-amado, umedecendo-lhe os lábios na hora do sono. 


Esta é a Forma Fêmea

Esta é a forma fêmea: 
dos pés à cabeça dela exala um halo divino, 
ela atrai com ardente 
e irrecusável poder de atração, 
eu me sinto sugado pelo seu respirar 
como se eu não fosse mais 
que um indefeso vapor 
e, a não ser ela e eu, tudo se põe de lado 
— artes, letras, tempos, religiões, 
o que na terra é sólido e visível, 
e o que do céu se esperava 
e do inferno se temia, 
tudo termina: 
estranhos filamentos e renovos 
incontroláveis vêm à tona dela, 
e a ação correspondente 
é igualmente incontrolável; 
cabelos, peitos, quadris, 
curvas de pernas, displicentes mãos caindo 
todas difusas, e as minhas também difusas, 
maré de influxo e influxo de maré, 
carne de amor a inturgescer de dor 
deliciosamente, 
inesgotáveis jatos límpidos de amor 
quentes e enormes, trémula geleia 
de amor, alucinado 
sopro e sumo em delírio; 
noite de amor de noivo 
certa e maciamente laborando 
no amanhecer prostrado, 
a ondular para o presto e proveitoso dia, 
perdida na separação do dia 
de carne doce e envolvente. 

Eis o núcleo — depois vem a criança 
nascida de mulher, 
vem o homem nascido de mulher; 
eis o banho de origem, 
a emergência do pequeno e do grande, 
e de novo a saída. 

Não se envergonhem, mulheres: 
é de vocês o privilégio de conterem 
os outros e darem saída aos outros 
— vocês são os portões do corpo 
e são os portões da alma. 

A fêmea contém todas 
as qualidades e a graça de as temperar, 
está no lugar dela e movimenta-se 
em perfeito equilíbrio, 
ela é todas as coisas devidamente veladas, 
é ao mesmo tempo passiva e ativa, 
e está no mundo para dar ao mundo 
tanto filhos como filhas, 
tanto filhas como filhos. 
Assim como na Natureza eu vejo 
minha alma refletida, 
assim como através de um nevoeiro, 
eu vejo Uma de indizível plenitude 
e beleza e saúde, 
com a cabeça inclinada e os braços 
cruzados sobre o peito 
— a Fêmea eu vejo. 

Walt Whitman, in "Leaves of Grass" 



É isto aí!

Vinicius de Moraes, o profeta!

Highland Patriot 
SONETO DE SEPARAÇÃO

De repente do riso fez-se o pranto 
Silencioso e branco como a bruma 
E das bocas unidas fez-se a espuma 
E das mãos espalmadas fez-se o espanto. 

De repente da calma fez-se o vento 
Que dos olhos desfez a última chama 
E da paixão fez-se o pressentimento 
E do momento imóvel fez-se o drama. 

De repente, não mais que de repente 
Fez-se de triste o que se fez amante 
E de sozinho o que se fez contente. 

Fez-se do amigo próximo o distante 
Fez-se da vida uma aventura errante 
De repente, não mais que de repente.

Vinicius escreveu este poema, Soneto de Separação, em setembro de 1938 a bordo do Highland Patriot, navio britânico de extrema importância comercial para a América do Sul pois fazia a rota regular Buenos Aires - Santos - Glasgow desde o início dos anos 30, com sua tara de mais de 14.000 toneladas.

Em 29 de dezembro de 1939, o Highland Patriot, navio civil de carga e de passageiros, foi atacado ao largo das Ilhas Canárias por um submarino francês. O comandante do submarino alegou que o navio parecia ser um corredor de bloqueio alemão. Nenhum dano grave foi detectado e o navio conseguiu chegar a Glasgow sem perda de vidas.

Às 06.47 horas do dia 1º de outubro de 1940, o Highland Patriot  foi atingido no meio do barco por dois torpedos G7e do submarino U-38, cerca de 500 milhas a oeste de Bishop Rock. Às 07:08 horas, o navio abandonado teve seu golpe de misericórdia feito por um torpedo G7a do U-38. Pegou fogo e afundou. Três tripulantes (ou cinco) morreram no episódio .

O comandante, 135 membros da tripulação e 33 passageiros foram apanhados pelo navio militar de escolta britânico HMS Wellington (L 65) (Cdr R.E. Hyde-Smith, RN) e aportaram em Greenock - Escócia.

Curiosamente, com os ataques aos navios do Atlântico Sul, fortaleceram-se os laços comerciais entre as partes do Atlântico Norte. Nada pessoal, apenas negócios ...
Submarino alemão U38

HMS Wellington


segunda-feira, 24 de abril de 2017

O "poder" é complexo e invencível

Alto lá

Este texto não é meu

Copiei e colei

Autor - Max

Fonte - Informação Incorrecta 







O "poder" é complexo e invencível




É o medo, meus senhores, tudo isso é o medo. O "poder" é feito de indivíduos, como nós, com as suas falhas, os seus defeitos, as suas paixões. Somos nós que acrescentamos o medo e este "poder" se torna algo superior, feito de tecnologias avançadas futuristas e inexistentes, feito de medidas aparentemente incompreensíveis mas na realidade absolutamente humanas.



O primeiro passo para combater o sistema não é entender como este funciona mas conseguir pô-lo no nosso mesmo plano: ultrapassar o natural sentido de inferioridade que cada indivíduo tem perante um organismo aparentemente mais complexo, perceber que este organismo é feito de muitas partes, cada uma pequena e cada uma perfeitamente ao nosso alcance.




Se não fizermos isso, o organismo permanece enorme, incompreensível, incontrolável, demasiado complexo: invencível. Mas é mesmo assim que proliferam os mitos: é desta forma que somos obrigados a inventar conspirações universais para tentar justificar coisas que aparentemente fogem à nossa lógica. Tal como o homem primitivo via um Deus atrás do relâmpago, da mesma forma nós tentamos explicar fenómenos aparentemente complexos com algo igualmente complexo e misterioso.



Vice-versa, uma vez analisado o relâmpago podemos entender que Deus nada tem a ver com isso: e o medo desaparece (fica só o medo de ser atingido por um relâmpago: mas, aos menos, morremos com a satisfação de saber que não foi por culpa dum Deus zangado connosco).



Afastadas as grandes conspirações galácticas, o medo desaparece de forma natural, as coisas regressam para o plano do humano, do perfeitamente compreensível. E o que pode ser compreendido pode também ser modificado. Não por nós, porque a simples realidade é que nós, todos nós, estamos velhos, independentemente da idade anagráfica.




O "poder" é complexo e invencível

Alto lá
Este texto não é meu
Copiei e colei
Autor - Max
Fonte - Informação Incorrecta 


O "poder" é complexo e invencível

É o medo, meus senhores, tudo isso é o medo. O "poder" é feito de indivíduos, como nós, com as suas falhas, os seus defeitos, as suas paixões. Somos nós que acrescentamos o medo e este "poder" se torna algo superior, feito de tecnologias avançadas futuristas e inexistentes, feito de medidas aparentemente incompreensíveis mas na realidade absolutamente humanas.

O primeiro passo para combater o sistema não é entender como este funciona mas conseguir pô-lo no nosso mesmo plano: ultrapassar o natural sentido de inferioridade que cada indivíduo tem perante um organismo aparentemente mais complexo, perceber que este organismo é feito de muitas partes, cada uma pequena e cada uma perfeitamente ao nosso alcance.

Se não fizermos isso, o organismo permanece enorme, incompreensível, incontrolável, demasiado complexo: invencível. Mas é mesmo assim que proliferam os mitos: é desta forma que somos obrigados a inventar conspirações universais para tentar justificar coisas que aparentemente fogem à nossa lógica. Tal como o homem primitivo via um Deus atrás do relâmpago, da mesma forma nós tentamos explicar fenómenos aparentemente complexos com algo igualmente complexo e misterioso.

Vice-versa, uma vez analisado o relâmpago podemos entender que Deus nada tem a ver com isso: e o medo desaparece (fica só o medo de ser atingido por um relâmpago: mas, aos menos, morremos com a satisfação de saber que não foi por culpa dum Deus zangado connosco).

Afastadas as grandes conspirações galácticas, o medo desaparece de forma natural, as coisas regressam para o plano do humano, do perfeitamente compreensível. E o que pode ser compreendido pode também ser modificado. Não por nós, porque a simples realidade é que nós, todos nós, estamos velhos, independentemente da idade anagráfica.

O mal e o sofrimento (Leandro Gomes de Barros) declamado por Ariano Suassuna


Fonte no Youtube - Lázaro Almeida


Se eu conversasse com Deus
Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando viemos pra cá?
Que dívida é essa
Que a gente tem que morrer pra pagar?
Perguntaria também
Como é que ele é feito
Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
Por que foi que ele não fez
A gente do mesmo jeito?
Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Moramos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?

O mal e o sofrimento (Leandro Gomes de Barros) declamado por Ariano Suassuna


Fonte no Youtube - Lázaro Almeida

Se eu conversasse com Deus
Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando viemos pra cá?
Que dívida é essa
Que a gente tem que morrer pra pagar?
Perguntaria também
Como é que ele é feito
Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
Por que foi que ele não fez
A gente do mesmo jeito?
Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Moramos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?

domingo, 23 de abril de 2017

Cartas de amor



Córrego da Passagem, domingo de tardinha

Deolinda amor da minha vida

Sinto sua falta, sinto muito a sua falta. Aliás a falta é tanta que falta até assunto. Nem sei o que dizer dessa sua querença de estudar na cidade. Nós nascemos aqui, Deolinda, somos torreões desta vila.

Saudade, muita saudade.

Do seu hoje e eternamente sempre Zé.


Ribeirão Bonito, 12 de janeiro.

Querido Zé,

Só hoje, passados sete dias, recebi sua cartinha. Linda, gostei demais da conta. Sete dias, Zé, pensa bem. Aqui na cidade tem um modo de mandar carta que dura um pensamento. O sujeito depois que aperta o botão onde escreve a carta não pode nem pensar em arrepender.
Também tenho saudades,

Deolinda.  

Córrego da Passagem, sábado de manhã, beirando o almoço.

Deolinda minha alma gêmea,

Não compreendi bem este negócio de carta em pensamento, daí que resolvi levar este papel nos lugares que a gente gostava de ir, para que leve também o cheiro e a paisagem daqui no pensamento. Nesta semana a porquinha que seu pai me deu, criou quatro leitõezinhos. Precisa ver que lindeza. Resolvi escrever a carta daqui do chiqueiro para que ela leve o perfume e a alegria da porca. precisa ver que belezura. Também fui até debaixo do pé de manga que tem na ponta do curral, onde nós dois crescemos em juras de amor. Mostrei o papel para as folhas, para as flores que estavam em ramo no chão, ainda não tem manga, mas quero desfrutar delas ao seu lado.

Do seu amor para toda a vida, Zé 

Ribeirão Bonito, 26 de janeiro.

Querido Zé,

Que bom que as coisa na roça estão sendo bem cuidadas. Aqui na cidade também tem cuidado para tudo. Tem caminhão só para pegar o lixo das casas, tem automóvel só para levar as pessoas prá lá e prá cá, tem  jardins e praças, umas tristes outras alegres, tem escolas tão grandes que parecem um castelo. Mas aqui tem muita modernidade que me leva a perceber que fiz a escolha certa. Quero que você seja feliz.

Deolinda. 

Córrego da Passagem, tardinha da sexta-feira, beirando a noite.

Deolinda, minha flor

Li sua carta e não entendi bem algumas palavras e principalmente o sentido delas, aí levei para a Augusta, lembra dela? Minha prima por parte de mãe, para ela me explicar. Ah! Deolinda, ela ficou muito feliz com a sua carta. Disse que ali estava o futuro dela bem na minha frente. Rodei os olhos para um lado, para o outro e não entendi bem o rumo da prosa. Sai mais confuso que que quando fui. Nestes dias a tia e o tio, pais dela, teve aqui em casa e ficou rodeando conversa com pai e mãe. Acho que eles estão querendo casar a moça com alguém da vila, só pode ser isto.

Do seu sempre Zé.

Ribeirão Bonito, 07 de fevereiro

Zé, meu amor,

Não mostre esta carta para ninguém, principalmente para a sirigaita da sua prima. Eu quero que você largue tudo aí e venha para cá imediatamente. Já arrumei um emprego para você, um lugar para morar, e já tracei todo o projeto do nosso destino. Vou mandar um dinheiro para você pela minha mãe, pois se meu pai souber, melhor nem saber. Aí você compra a passagem e vem.

Da sua Deolinda ...

Córrego da Passagem, noite de domingo com lua cheia

Deolinda,

Recebi sua cartinha, fiquei apreensivo achando que você estava passando mal, alguma coisa do tipo. Mas fiquei calado até o dia de hoje, quando a Augusta, o tio, a tia, os primos e até seu pai e sua mãe vieram aqui em casa comemorar meu noivado com ela. Acho que isto está ficando sério. 

Zé.

É isto aí!

A incrível história de Mineirinho, Dona Candinha, uma miríade de anjos e a delação premiada.









Mineirinho era viciado em velórios. Havia nele uma dependência quase beirando a loucura. Começou na infância quando um grande amigo da família faleceu. Naquele momento não só ficou triste e comovido, como também sentiu-se obrigado a participar dos velórios. Dizia que uma luz mostrou-lhe esta sina e uma voz celestial afirmou que ao velar o morto, a sua presença permitiria que este entrasse no reino dos céus.





Desta forma sua presença era motivo de orgulho na cidade. Durante vinte e dois anos seus discursos foram famosos, longos, densos e passionais. Cada defunto tinha um tema, uma história glorificante ao som da Banda Municipal de São Cristóvão. Na maioria das vezes era comunicado até mesmo antes do padre, do médico ou do serviço funerário para dar tempo de preparar o discurso e o salmo que cantaria. Como a taxa de mortalidade era pequena, uma média de uma por semana, a vida seguia sem maiores problemas.





Um dia, ah!!! um dia ... procurou o pároco novo da comunidade e confessou que um serafim deu a graça da sua presença e deu-lhe regras claras que jamais poderiam ser quebradas:





- não velar crianças até os doze anos por que já pertenciam ao reino dos céus.


- não velar moças virgens solteiras por que já pertenciam aos reinos dos céus.


- não velar beatas do Padre Claudinho, que com seus 70 anos de sacerdócio já as elevara ainda em vida ao reino dos céus.


- não velar as moças da casa de Dona Darcy, pois era assunto para a cúpula celestial.


- não velar os imorais, os idólatras, os adúlteros, os homossexuais, os ladrões, os avarentos, os bêbados, os caluniadores e os assaltantes por que não entrariam no reino dos céus.





O padre novo, gordo e de olhos esbugalhados, olhou para ele, ficou vermelho, coçou o queijo, esfregou as mãos ... e pausadamente falou - diga meu filho, isto está valendo a partir de quando?




- Desde agora, seu padre,





É, mas aí tem um problema.




- Problema nenhum seu padre.





Mineirinho, meu filho, você tem certeza mesmo disto? Um Serafim? Não pode ter sido um anjo menos graduado?




- Certeza certa, convicta e absoluta, seu padre.





Deu que naquela semana morreu o senador, que detinha este título por ter sido o terceiro suplente de determinado político, e tinha extensa ficha criminal. Mineirinho, devido à atenção celestial não foi, mas com uma forte compulsão já pressentida para estes momentos, acorrentou-se numa coluna interna da casa, e entregou a chave do cadeado ao sacristão que repassaria ao Padre, conforme combinado. 





Naquele dia o mundo desabou no velório. Foi um bafafá, um trelélé, um rififi que não tinha fim. Pressionado, o padre em total desespero falou que ele estava passando mal.





- Logo foi desmentido pelo Doutor Juquinha.





O padre em pânico pediu perdão por que não poderia revelar o motivo mas afirmou que Mineirinho estava cumprindo penitência





- Silêncio total - aquilo poderia ser verdade e não tinha como desmentir.  





Passado quase seis meses, quando ninguém mais se lembrava do episódio, já que tudo voltou ao normal, morreu Dona Candinha, uma mulher de 96 anos, folclórica pelas atividades culturais que agitaram o clube social e as festas da alta sociedade. E mais uma vez Mineirinho não foi. Era viúva do suplente de senador e matriarca da família mais rica de toda a região.





O delegado, neto da falecida, que já tinha escutado boatos da história do serafim através da esposa do sacristão, que era sua confidente íntima, mandou buscar Mineirinho em casa. Ao chegarem, os soldados depararam com ele preso à corrente. Bateram busca pela casa toda, não acharam a chave, mas um serrote serviu para cortar a coluna de braúna e aos tapas, empurrões, e uso de força excessiva, o conduziram ao velório.





Foi um vexame - esperneava, gritava em total pânico, debatia, virava os olhos, agarrava-se aos carros, às pessoas que estavam do lado de fora, saltava, se contorcia, se espremia, até que foi colocado no salão da casa. Ali aumentaram seus estrebuchos e movimentos histéricos. 





Um grupo de cidadãos o tiraram do lugar e o levaram para a igreja, pois em meio aos estridentes alaridos, pedia para ser deixado lá. Uma vez colocado na porta, aconteceu um milagre.



Segundo testemunho fiel do Padre Claudinho, que por obra do milagre divino, apesar de ser cego e surdo para atos de fé angelicais, viu, sentiu e ouviu a igreja sacudida por um forte tremor, seguido de fechos de luz fantásticos e o rufar de asas. Foi neste momento que ele testemunhou Mineirinho ascender aos céus junto com dona Candinha, levados por uma miríade de anjos.





É isto aí!