quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Odete, a rainha do alto meretríssimo




Quinta-feira, três horas da manhã e meu indefectível Nokia 2004 toca da maneira que sabe, aos berros e trinados histéricos. Entre sonhando e dormitando, o instinto o trouxe ao meu ouvido. Do outro lado da célula (por favor, lembre-se - quem tem linha é o fixo) estava Odete, a rainha do alto meretríssimo do Planalto Central, segundo se intitulou.





Querida, que surpresa agradável depois de meses sem ouvir sua voz, mas perdoa-me pela ousadia, o que vem a ser meretríssimo?





Humm, amorrr, é um neologismo pós-cafetino madrilenho, com essência free shop do baixo-planalto. Uma ação franciscana que só dá pro chico e larga o Francisco, se é que me entende... Enfim, melhor dar para o chico e bater com haste em todos os franciscos, destes que se acham capazes de transpor as águas turvas para uma populaçãozinha pobre e desqualificada.





Uau, Odete, percebi aí uma mudança de comportamento social. Está na ala da comissão chevroniana?





Mais que isto, amorrr, eu agora evito subir a serra dos canalhas e esquiar nas neves enlameadas só para ver o morro onde não moro. Enfim, deixei-me levar pelo destino de ser amante, e daí estou feito as aves do paraíso que não tecem nem fiam e nem Dom Fernando, o Amante Velho, em todo o esplendor de sua glória, vestiu-se como um deles.





Escuta, meu bem, eu acho - e por favor não me leve a mal - que você está confundindo as parábolas com a origem das coisas.





Ai, como você é bobinho. Pois tudo que isto que está aí é para isto mesmo. A Creuzinha, casada com meu ex-amante preferido e minha melhor amiga, me contou que ouviu da Margarida, que é sua namoradinha de fim de semana, que soube pela Belinha, casada com o Nestor, uma coisinha da Câmara Baixa, que lhe disse que escutou da Maristela, que é amante e confidente de alto escalão da secretária dos lacerdinhas da Câmara Alta de que toda esta zona repleta de golpes de Muay Thai é depressiva e radioativa. Segundo fontes seguras, eles têm treinado muito para este jogo onde só entram para jogar confundindo. Todo o time deles mente, trai, desvia, trapaceia, rouba mas a cara de pau é só para roubar a choldra, com estilo armani, meu bem, sem rádio, sem notícia, mas com glamour, claro.



Mas, Odete, todo jogo tem regras claras, não é Arnaldo? Tem juiz, bandeirinhas, mesários.



Ai ai, amoreco, como você é inocente. Adoro seu jeitinho pacífico feito um jornal nacional...





Caramba, Odete, isto tudo me deixou meio tonto...





Huummm, então aproveita a fase e vem terminar embriagado em mim às margens do Paranoá, vem, vem, vem logo...





Não sei ... pensando bem ... tum tum tum ... merda, caiu a ligação logo agora que eu iria dizer que esta doido para lambuzar do seu mel... ai ai!!





É isto aí!

Odete, a rainha do alto meretríssimo

Quinta-feira, três horas da manhã e meu indefectível Nokia 2004 toca da maneira que sabe, aos berros e trinados histéricos. Entre sonhando e dormitando, o instinto o trouxe ao meu ouvido. Do outro lado da célula (por favor, lembre-se - quem tem linha é o fixo) estava Odete, a rainha do alto meretríssimo do Planalto Central, segundo se intitulou.

Querida, que surpresa agradável depois de meses sem ouvir sua voz, mas perdoa-me pela ousadia, o que vem a ser meretríssimo?

Humm, amorrr, é um neologismo pós-cafetino madrilenho, com essência free shop do baixo-planalto. Uma ação franciscana que só dá pro chico e larga o Francisco, se é que me entende... Enfim, melhor dar para o chico e bater com haste em todos os franciscos, destes que se acham capazes de transpor as águas turvas para uma populaçãozinha pobre e desqualificada.

Uau, Odete, percebi aí uma mudança de comportamento social. Está na ala da comissão chevroniana?

Mais que isto, amorrr, eu agora evito subir a serra dos canalhas e esquiar nas neves enlameadas só para ver o morro onde não moro. Enfim, deixei-me levar pelo destino de ser amante, e daí estou feito as aves do paraíso que não tecem nem fiam e nem Dom Fernando, o Amante Velho, em todo o esplendor de sua glória, vestiu-se como um deles.

Escuta, meu bem, eu acho - e por favor não me leve a mal - que você está confundindo as parábolas com a origem das coisas.

Ai, como você é bobinho. Pois tudo que isto que está aí é para isto mesmo. A Creuzinha, casada com meu ex-amante preferido e minha melhor amiga, me contou que ouviu da Margarida, que é sua namoradinha de fim de semana, que soube pela Belinha, casada com o Nestor, uma coisinha da Câmara Baixa, que lhe disse que escutou da Maristela, que é amante e confidente de alto escalão da secretária dos lacerdinhas da Câmara Alta de que toda esta zona repleta de golpes de Muay Thai é depressiva e radioativa. Segundo fontes seguras, eles têm treinado muito para este jogo onde só entram para jogar confundindo. Todo o time deles mente, trai, desvia, trapaceia, rouba mas a cara de pau é só para roubar a choldra, com estilo armani, meu bem, sem rádio, sem notícia, mas com glamour, claro.

Mas, Odete, todo jogo tem regras claras, não é Arnaldo? Tem juiz, bandeirinhas, mesários.

Ai ai, amoreco, como você é inocente. Adoro seu jeitinho pacífico feito um jornal nacional...

Caramba, Odete, isto tudo me deixou meio tonto...

Huummm, então aproveita a fase e vem terminar embriagado em mim às margens do Paranoá, vem, vem, vem logo...

Não sei ... pensando bem ... tum tum tum ... merda, caiu a ligação logo agora que eu iria dizer que esta doido para lambuzar do seu mel... ai ai!!

É isto aí!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A Física Quântica, minhas mulheres e os mundos multiplos




Caramba, esta foi a melhor performance sexual de toda a minha vida ...





Você é que é maravilhoso Geraldinho!





Que isto, Carminha; você é que é divina!





Gostoso!!





Gostosa!! - Adelaide?!





Como é o negócio? Eu não sou esta tal de Adelaide. Você é um cretino.





Não, Carminha, eu sei que você é você, mas Adelaide é ela, que está em pé à porta.





Ai!! Como uma bruxa desqualificada desta entrou aqui, Geraldinho?





Carminha, não tem outra forma de te dizer ...





Então diga, que já estou desesperada.





Adelaide é minha esposa.





Esposa? Como assim esposa? Você me disse que era solteiro.





Sim, eu disse, mas no campo civil tridimensional. Adelaide é uma personagem secundária que participou de um livro que escrevi, e acabamos nos apaixonando de tal forma que rompemos a barreira do imaginário, pois tudo é real dentro da mente. Se aqui fora os conceitos de matéria ainda estão longe da realidade quântica, no mundo da física moderna existem mecanismos que permitem penetrarmos no labirinto neural e vivermos experiências únicas, fantásticas e inigualáveis.





Geraldinho, então esta gorda horrorosa, vitrine de estrias e celulites, encostada no portal, com cara e roupa de puta barata e cabelo ridículo, fora o esmalte com bolhas e a rasteirinha de banca é objeto de desejo materializado? Me explica como uma coisa absurda desta pode ter sido desejo compulsivo do seu sonho pornoerótico, e revelar que prefere um muquifo deste porte a ter uma linda, gostosa, maravilhosa e infinitamente sexy, feito euzinha?





Ora, Carminha, saiba que  da mesma forma que existem outras interpretações da mecânica quântica, a interpretação de muitos mundos é motivada pelo comportamento que pode ser ilustrado pela experiência da dupla fenda. Quando partículas de luz, ou algo semelhante, são conduzidos através de uma dupla-fenda, uma explicação baseada no comportamento de onda para luz é necessária para identificar onde as partículas deverão ser observadas. Já quando as partículas são observadas, elas se mostram como partículas e não como ondas não localizadas.





Uau, Geraldinho. Neste caso, como eu não entendi nada, mas ainda achando que esta aí é uma rapariga adquirida com vinte reais na rua, vou aceitar seus argumentos e vem prá cá, Adelaide, que vamos então proporcionar uma fusão neste elemento...



É isto aí!




A Física Quântica, minhas mulheres e os mundos multiplos

Caramba, esta foi a melhor performance sexual de toda a minha vida ...

Você é que é maravilhoso Geraldinho!

Que isto, Carminha; você é que é divina!

Gostoso!!

Gostosa!! - Adelaide?!

Como é o negócio? Eu não sou esta tal de Adelaide. Você é um cretino.

Não, Carminha, eu sei que você é você, mas Adelaide é ela, que está em pé à porta.

Ai!! Como uma bruxa desqualificada desta entrou aqui, Geraldinho?

Carminha, não tem outra forma de te dizer ...

Então diga, que já estou desesperada.

Adelaide é minha esposa.

Esposa? Como assim esposa? Você me disse que era solteiro.

Sim, eu disse, mas no campo civil tridimensional. Adelaide é uma personagem secundária que participou de um livro que escrevi, e acabamos nos apaixonando de tal forma que rompemos a barreira do imaginário, pois tudo é real dentro da mente. Se aqui fora os conceitos de matéria ainda estão longe da realidade quântica, no mundo da física moderna existem mecanismos que permitem penetrarmos no labirinto neural e vivermos experiências únicas, fantásticas e inigualáveis.

Geraldinho, então esta gorda horrorosa, vitrine de estrias e celulites, encostada no portal, com cara e roupa de puta barata e cabelo ridículo, fora o esmalte com bolhas e a rasteirinha de banca é objeto de desejo materializado? Me explica como uma coisa absurda desta pode ter sido desejo compulsivo do seu sonho pornoerótico, e revelar que prefere um muquifo deste porte a ter uma linda, gostosa, maravilhosa e infinitamente sexy, feito euzinha?

Ora, Carminha, saiba que  da mesma forma que existem outras interpretações da mecânica quântica, a interpretação de muitos mundos é motivada pelo comportamento que pode ser ilustrado pela experiência da dupla fenda. Quando partículas de luz, ou algo semelhante, são conduzidos através de uma dupla-fenda, uma explicação baseada no comportamento de onda para luz é necessária para identificar onde as partículas deverão ser observadas. Já quando as partículas são observadas, elas se mostram como partículas e não como ondas não localizadas.

Uau, Geraldinho. Neste caso, como eu não entendi nada, mas ainda achando que esta aí é uma rapariga adquirida com vinte reais na rua, vou aceitar seus argumentos e vem prá cá, Adelaide, que vamos então proporcionar uma fusão neste elemento...

É isto aí!


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Beijo Eterno - Olavo Bilac





Quero um beijo sem fim, 





Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo! 





Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo,





Beija-me assim! 





O ouvido fecha ao rumor





Do mundo, e beija-me, querida! 





Vive só para mim, só para a minha vida,





Só para o meu amor!
















Fora, repouse em paz 





Dormida em calmo sono a calma natureza,





Ou se debata, das tormentas presa, -





Beija inda mais!





E, enquanto o brando calor 





Sinto em meu peito de teu seio,





Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio, 





Com o mesmo ardente amor!












De arrebol a arrebol,





Vão-se os dias sem conto! e as noites, como os dias, 





Sem conto vão-se, cálidas ou frias!





Rutile o sol





Esplêndido e abrasador!





No alto as estrelas coruscantes,





Tauxiando os largos céus, brilhem como diamantes!





Brilhe aqui dentro o amor!









Suceda a treva à luz!





Vele a noite de crepe a curva do horizonte;





Em véus de opala a madrugada aponte





Nos céus azuis,





E Vênus, como uma flor,





Brilhe, a sorrir, do ocaso à porta,





Brilhe à porta do Oriente! A treva e a luz - que importa?





Só nos importa o amor!













Raive o sol no Verão!





Venha o Outono! do Inverno os frígidos vapores





Toldem o céu! das aves e das flores





Venha a estação!





Que nos importa o esplendor





Da primavera, e o firmamento





Limpo, e o sol cintilante, e a neve, e a chuva, e o vento?





- Beijemo-nos, amor!










Beijemo-nos! que o mar





Nossos beijos ouvindo, em pasmo a voz levante!





E cante o sol! a ave desperte e cante!





Cante o luar,





Cheio de um novo fulgor!





Cante a amplidão! cante a floresta!





E a natureza toda, em delirante festa,





Cante, cante este amor!







Rasgue-se, à noite, o véu





Das neblinas, e o vento inquira o monte e o vale:





"Quem canta assim?" E uma áurea estrela fale





Do alto do céu





Ao mar, presa de pavor:





"Que agitação estranha é aquela?"





E o mar adoce a voz, e à curiosa estrela





Responda que é o amor!







E a ave, ao sol da manhã,





Também, a asa vibrando, à estrela que palpita





Responda, ao vê-la desmaiada e aflita:





"Que beijo, irmã! Pudesses ver com que ardor 





Eles se beijam loucamente!"





E inveje-nos a estrela... - e apague o olhar dormente, 





Morta, morta de amor!..






Diz tua boca: "Vem!"





"Inda mais!", diz a minha, a soluçar... Exclama 





Todo o meu corpo que o teu corpo chama:





"Morde também!" 





Ai! morde! que doce é a dor





Que me entra as carnes, e as tortura! 





Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,





Morto por teu amor!







Quero um beijo sem fim, 





Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo! 





Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!





Beija-me assim! 





O ouvido fecha ao rumor





Do mundo, e beija-me, querida! 





Vive só para mim, só para a minha vida,





Só para o meu amor

Beijo Eterno - Olavo Bilac


Quero um beijo sem fim, 

Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo! 

Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo,

Beija-me assim! 

O ouvido fecha ao rumor

Do mundo, e beija-me, querida! 

Vive só para mim, só para a minha vida,

Só para o meu amor!




Fora, repouse em paz 

Dormida em calmo sono a calma natureza,

Ou se debata, das tormentas presa, -

Beija inda mais!

E, enquanto o brando calor 

Sinto em meu peito de teu seio,

Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio, 

Com o mesmo ardente amor!


De arrebol a arrebol,

Vão-se os dias sem conto! e as noites, como os dias, 

Sem conto vão-se, cálidas ou frias!

Rutile o sol

Esplêndido e abrasador!

No alto as estrelas coruscantes,

Tauxiando os largos céus, brilhem como diamantes!

Brilhe aqui dentro o amor!


Suceda a treva à luz!

Vele a noite de crepe a curva do horizonte;

Em véus de opala a madrugada aponte

Nos céus azuis,

E Vênus, como uma flor,

Brilhe, a sorrir, do ocaso à porta,

Brilhe à porta do Oriente! A treva e a luz - que importa?

Só nos importa o amor!



Raive o sol no Verão!

Venha o Outono! do Inverno os frígidos vapores

Toldem o céu! das aves e das flores

Venha a estação!

Que nos importa o esplendor

Da primavera, e o firmamento

Limpo, e o sol cintilante, e a neve, e a chuva, e o vento?

- Beijemo-nos, amor!


Beijemo-nos! que o mar

Nossos beijos ouvindo, em pasmo a voz levante!

E cante o sol! a ave desperte e cante!

Cante o luar,

Cheio de um novo fulgor!

Cante a amplidão! cante a floresta!

E a natureza toda, em delirante festa,

Cante, cante este amor!

Rasgue-se, à noite, o véu

Das neblinas, e o vento inquira o monte e o vale:

"Quem canta assim?" E uma áurea estrela fale

Do alto do céu

Ao mar, presa de pavor:

"Que agitação estranha é aquela?"

E o mar adoce a voz, e à curiosa estrela

Responda que é o amor!

E a ave, ao sol da manhã,

Também, a asa vibrando, à estrela que palpita

Responda, ao vê-la desmaiada e aflita:

"Que beijo, irmã! Pudesses ver com que ardor 

Eles se beijam loucamente!"

E inveje-nos a estrela... - e apague o olhar dormente, 

Morta, morta de amor!..

Diz tua boca: "Vem!"

"Inda mais!", diz a minha, a soluçar... Exclama 

Todo o meu corpo que o teu corpo chama:

"Morde também!" 

Ai! morde! que doce é a dor

Que me entra as carnes, e as tortura! 

Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,

Morto por teu amor!

Quero um beijo sem fim, 

Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo! 

Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!

Beija-me assim! 

O ouvido fecha ao rumor

Do mundo, e beija-me, querida! 

Vive só para mim, só para a minha vida,

Só para o meu amor

sábado, 6 de fevereiro de 2016

O Analista da Pitangueira e a Paft High Teck




Bom dia, Afonso!





Isto, doutor, mas pode me chamar de Afonsinho.





Bem, Afonso, sente-se. Aqui na sua ficha consta que você é casado, três filhos, profissional liberal. O que o trás aqui? e na última sessão você terminou falando que estava solteiro. Vamos começar de onde paramos?





Sou ex-casado.





Humm, então por que não alterou este dado na sua ficha? 





Bem doutor, eu tentarei explicar através de um fato que ocorreu comigo enquanto aguardava a consulta. Estava ainda há pouco lá fora, na ante-sala desta clínica. Éramos doze pessoas sentadas comportadamente e comodamente em poltronas confortáveis, ar refrigerado e ambiente agradável. Mas há algo que me incomodava profundamente naquele instante.





Eram mesmo doze pessoas?





Sim, já disse isto, mas entre estas uma era criança entre dois e três anos, e sem exceção, todos estavam calados. 





Calados? Como assim? 





Bem, desde a gostosa de vestido justo até o senhor impaciente ao meu lado, todos digitavam coisas na tela de seu smartphone. Somente eu e a criança sonolenta estávamos ali como num mundo distante.





Mas é provável que você tenha um celular, mesmo que seja simples, uma televisão de LCD/Plasma, cartão magnético de múltiplas atividades, carro com componentes eletrônicos e isto obrigatoriamente o inclui nesta comunidade.





Sim e não, talvez até uma coisa ou outra acusaria um delito de contato com a inteligência artificial, mas é o meu limite, e quando estou envolvido nestes processos, não faço disto uma relação asséptica. Eu tenho a necessidade de falar e escutar vozes humanas, doutor, eu tenho carência de humanidade, do exercício do olhar, do toque, dos sentimentos expressos nas palavras.





E isto te incomoda? Toda esta parafernália high-teck assusta, amedronta ou aterroriza você?  





Pois então ... é confuso estar inserido neste contexto, pois os amigos, meus amores e paixões que por aqui dentro do meu peito vadiam, não vadeam como aqueles lá fora. E tem sido assim com minha esposa. 





Deixa ver se estou entendendo ... tem lenço de papel sobre a mesa, ao lado do seu sofá, pode usá-lo. Não se preocupe, espero. Você gosta de ter alegria do contato humano consigo e contigo, por isto explanou com muita propriedade que as pessoas que ama podem e devem divertir-se e diverti-lo num motocontínuo. É isto?





Exatamente isto, doutor, eu tenho carência de vida. 





Mas então, segundo você, as pessoas estão preferindo, com suas próprias pernas, cruzar a vau para o lado das relações assépticas, sem respostas neuro sensoriais, sem carinho, sem açúcar e sem afeto, revisando a poesia do Chico para encaixar na sua dor.





Exatamente, doutor. É isto mesmo. E sofro muito por isto. Eu tenho cura doutor? tenho cura?





Veja, Afonso, Darwin nos trouxe à luz conceitos interessantes de preservação das espécias mediante adaptações, algumas pequenas, outras bizarras ... espera, o que está fazendo? Larga meu smartphone agora, Afonso, solta já meu aparelho, me da isto, solta logo, não, não , nããããoooo.





Olha, seu smartphone não tem chip ... hummm, então seu discurso é inútil ... hummm. Crashhhh!!!!



Seu, seu, seu cretino!



Na próxima semana, no mesmo horário, doutor?





Sim, mas meu Iphone será debitado no seu cartão de crédito.





Sem problema, mas lembre que ele não tem chip.





Não tem chip, não é? Paft ... não tem chip então ... paft





Que isto doutor, o senhor está me agredindo.





Paft ... não tem chip .. vai agora para a sala de pensamento e só saia de lá quando eu mandar .. paft ...



Não doeu ... não doeeeu ... não tem chip ... não tem chip ... não doeeeuuu!!!!



Paftt!





É isto aí!

O Analista da Pitangueira e a Paft High Teck

Bom dia, Afonso!

Isto, doutor, mas pode me chamar de Afonsinho.

Bem, Afonso, sente-se. Aqui na sua ficha consta que você é casado, três filhos, profissional liberal. O que o trás aqui? e na última sessão você terminou falando que estava solteiro. Vamos começar de onde paramos?

Sou ex-casado.

Humm, então por que não alterou este dado na sua ficha? 

Bem doutor, eu tentarei explicar através de um fato que ocorreu comigo enquanto aguardava a consulta. Estava ainda há pouco lá fora, na ante-sala desta clínica. Éramos doze pessoas sentadas comportadamente e comodamente em poltronas confortáveis, ar refrigerado e ambiente agradável. Mas há algo que me incomodava profundamente naquele instante.

Eram mesmo doze pessoas?

Sim, já disse isto, mas entre estas uma era criança entre dois e três anos, e sem exceção, todos estavam calados. 

Calados? Como assim? 

Bem, desde a gostosa de vestido justo até o senhor impaciente ao meu lado, todos digitavam coisas na tela de seu smartphone. Somente eu e a criança sonolenta estávamos ali como num mundo distante.

Mas é provável que você tenha um celular, mesmo que seja simples, uma televisão de LCD/Plasma, cartão magnético de múltiplas atividades, carro com componentes eletrônicos e isto obrigatoriamente o inclui nesta comunidade.

Sim e não, talvez até uma coisa ou outra acusaria um delito de contato com a inteligência artificial, mas é o meu limite, e quando estou envolvido nestes processos, não faço disto uma relação asséptica. Eu tenho a necessidade de falar e escutar vozes humanas, doutor, eu tenho carência de humanidade, do exercício do olhar, do toque, dos sentimentos expressos nas palavras.

E isto te incomoda? Toda esta parafernália high-teck assusta, amedronta ou aterroriza você?  

Pois então ... é confuso estar inserido neste contexto, pois os amigos, meus amores e paixões que por aqui dentro do meu peito vadiam, não vadeam como aqueles lá fora. E tem sido assim com minha esposa. 

Deixa ver se estou entendendo ... tem lenço de papel sobre a mesa, ao lado do seu sofá, pode usá-lo. Não se preocupe, espero. Você gosta de ter alegria do contato humano consigo e contigo, por isto explanou com muita propriedade que as pessoas que ama podem e devem divertir-se e diverti-lo num motocontínuo. É isto?

Exatamente isto, doutor, eu tenho carência de vida. 

Mas então, segundo você, as pessoas estão preferindo, com suas próprias pernas, cruzar a vau para o lado das relações assépticas, sem respostas neuro sensoriais, sem carinho, sem açúcar e sem afeto, revisando a poesia do Chico para encaixar na sua dor.

Exatamente, doutor. É isto mesmo. E sofro muito por isto. Eu tenho cura doutor? tenho cura?

Veja, Afonso, Darwin nos trouxe à luz conceitos interessantes de preservação das espécias mediante adaptações, algumas pequenas, outras bizarras ... espera, o que está fazendo? Larga meu smartphone agora, Afonso, solta já meu aparelho, me da isto, solta logo, não, não , nããããoooo.

Olha, seu smartphone não tem chip ... hummm, então seu discurso é inútil ... hummm. Crashhhh!!!!

Seu, seu, seu cretino!

Na próxima semana, no mesmo horário, doutor?

Sim, mas meu Iphone será debitado no seu cartão de crédito.

Sem problema, mas lembre que ele não tem chip.

Não tem chip, não é? Paft ... não tem chip então ... paft

Que isto doutor, o senhor está me agredindo.

Paft ... não tem chip .. vai agora para a sala de pensamento e só saia de lá quando eu mandar .. paft ...

Não doeu ... não doeeeu ... não tem chip ... não tem chip ... não doeeeuuu!!!!

Paftt!

É isto aí!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Fiado e Ano Novo? Só depois do carnaval.

Gente, eu ainda não engrenei neste 2016. É uma preguiça danada esta, viu?!

Amigos mandam mensagem, outros perguntam - cadê os fatos e casos da Pitangueira? E eu ali, quietinho, mais parado que gato velho de armazém.

Odete me liga, as coisas acontecem e eu deitado na rede  por conta de ver a conta vencendo. Mas isto vai mudar... depois do carnaval, eu acho!

Um abraço