domingo, 29 de novembro de 2015

A deusa da minha rua (Newton Carlos Teixeira e Jorge Vidal Faraj, 1939)


A Deusa da minha rua
Tem os olhos onde a lua
Costuma se embriagar
Nos seus olhos eu suponho
Que o sol num doirado sonho
Vai claridade buscar
Minha rua é sem graça
Mas quando por ela passa
Seu vulto que me seduz
A ruazinha modesta
É uma paisagem de festa
É uma cascata de luz

Na rua, uma poça d'água
Espelho da minha mágoa
Transporta o céu para o chão
Tal qual o chão da minha vida
A minh'alma comovida
O meu pobre coração
Espelhos da minha mágoa
Meus olhos são poças d'água
Sonhando com seu olhar
Ela é tão rica, eu tão pobre
Eu sou plebeu , ela é nobre
Não vale a pena sonhar



Marilyn Monroe, por Earl Moran

Marilyn Monroe, por Earl Moran




















Marilyn Monroe, por Earl Moran

Marilyn Monroe, por Earl Moran


sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Reflexões inúteis











Certo dia, destes que mudam o destino da humanidade, o famoso e renomado filósofo alemão Johann Keyserling Friedrich, do grupo da elite intelectual e cultural de Verbandsgemeinde Eisenberg, estava ali ao relento meditando e filosofando, quando de repente viu a luz no fim do túnel do alto saber humano.






Pena de galinha... pena de ganso... pena de pato... pena de pavão... pena de cisne... pena de papagaio... penas... interessante isto, pois se nós, de notório saber e capacidade intelectual acima dos mortais comuns,  só conseguimos ter pena de um bípede do sexo feminino quando ela é uma galinha, imagina a choldra em pândega.





É isto aí!










Reflexões inúteis


Certo dia, destes que mudam o destino da humanidade, o famoso e renomado filósofo alemão Johann Keyserling Friedrich, do grupo da elite intelectual e cultural de Verbandsgemeinde Eisenberg, estava ali ao relento meditando e filosofando, quando de repente viu a luz no fim do túnel do alto saber humano.

Pena de galinha... pena de ganso... pena de pato... pena de pavão... pena de cisne... pena de papagaio... penas... interessante isto, pois se nós, de notório saber e capacidade intelectual acima dos mortais comuns,  só conseguimos ter pena de um bípede do sexo feminino quando ela é uma galinha, imagina a choldra em pândega.

É isto aí!




quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Olhos de gata




A primeira vez que a vi, foi quando estava em completo estado de desespero, e, claro, desejando ardentemente uma fuga para algum lugar onde nem eu mesmo me conhecesse.  





Apenas dei uma discreta olhada e achei lindinha, gostosinha, mas foi só isto, eu acho, mas não sei, por que lembro dela ter me olhado n'alma, com aqueles olhos de gata, que em priscas eras condenavam feiticeiras ao fogo.





Passaram umas duas semanas, quase refeito das dores pela queda de um ex-grande amor, deparei com sua presença numa festa destas muito chatas, com música new age, garçonetes exóticas e painéis abstratos. Vi que suas orelhas de gata se movimentaram em minha direção, como que desejando ler meus pensamentos. Pensei cá comigo - é fria, sai fora. É só mais uma bruxa para te cozinhar no caldeirão. Mas ela tinha um ar tão cândido. Mas, como uma gata, desapareceu felinamente falando.





Deu que um mês depois, no teatro, tive a sensação de que era ela na primeira fila, mas como estava lá em cima, nas galerias, a penumbra, não sei, tive dúvidas, mas a sensação era tão nítida que resolvi que deveria ir ao seu encontro após o espetáculo. Perdi o interesse pela peça que me custou muito dinheiro, e agora nem assistia mais, só pensando no momento mágico. Cheguei a sentir seus lábios tocarem os meus, seu corpo vedando meus poros, enfim estava taradão. 





Quando encerrou o espetáculo e o povo foi se levantando, tive uma das ideias mais estúpidas da minha vida. De súbito dei um salto do alto da galeria  para uma poltrona já vazia da parte de baixo. Aqui cabe um adendo, pois achei que a distância era curta, e a maciez das poltronas absorveria o impacto, porém torci o tornozelo esquerdo e lesionei os ligamentos da mão direita e, manco, tentei atravessar o teatro no sentido contrário à multidão saindo, e vendo que esta tática não funcionava, fui pulando as poltronas até chegar à primeira fila. Não estava mais lá.





Adquiri um celular com câmara potente, zoom, etc e tal, fiz um curso de fotografia pelo Youtube,  e fiquei só ligado na possibilidade de revê-la. Um dia, numa quarta-feira, sete semanas depois do teatro, saindo do cinema, a vi. Ao longe, a reconheci pelo andar felino. Apressei o passo, fui aproximando, aproximando, aproximando, toquei no seu ombro nu, levemente e virou-se - olhou-me mais uma vez no fundo dos olhos, rodou uma bolsa de uns trinta quilos em direção ao meu rosto, e enquanto dobrava os joelhos por nocaute técnico, ouvi-a angelicalmente proferir as primeiras palavras à minha pessoa - seu velho tarado! 





É isto aí!

Olhos de gata

A primeira vez que a vi, foi quando estava em completo estado de desespero, e, claro, desejando ardentemente uma fuga para algum lugar onde nem eu mesmo me conhecesse.  

Apenas dei uma discreta olhada e achei lindinha, gostosinha, mas foi só isto, eu acho, mas não sei, por que lembro dela ter me olhado n'alma, com aqueles olhos de gata, que em priscas eras condenavam feiticeiras ao fogo.

Passaram umas duas semanas, quase refeito das dores pela queda de um ex-grande amor, deparei com sua presença numa festa destas muito chatas, com música new age, garçonetes exóticas e painéis abstratos. Vi que suas orelhas de gata se movimentaram em minha direção, como que desejando ler meus pensamentos. Pensei cá comigo - é fria, sai fora. É só mais uma bruxa para te cozinhar no caldeirão. Mas ela tinha um ar tão cândido. Mas, como uma gata, desapareceu felinamente falando.

Deu que um mês depois, no teatro, tive a sensação de que era ela na primeira fila, mas como estava lá em cima, nas galerias, a penumbra, não sei, tive dúvidas, mas a sensação era tão nítida que resolvi que deveria ir ao seu encontro após o espetáculo. Perdi o interesse pela peça que me custou muito dinheiro, e agora nem assistia mais, só pensando no momento mágico. Cheguei a sentir seus lábios tocarem os meus, seu corpo vedando meus poros, enfim estava taradão. 

Quando encerrou o espetáculo e o povo foi se levantando, tive uma das ideias mais estúpidas da minha vida. De súbito dei um salto do alto da galeria  para uma poltrona já vazia da parte de baixo. Aqui cabe um adendo, pois achei que a distância era curta, e a maciez das poltronas absorveria o impacto, porém torci o tornozelo esquerdo e lesionei os ligamentos da mão direita e, manco, tentei atravessar o teatro no sentido contrário à multidão saindo, e vendo que esta tática não funcionava, fui pulando as poltronas até chegar à primeira fila. Não estava mais lá.

Adquiri um celular com câmara potente, zoom, etc e tal, fiz um curso de fotografia pelo Youtube,  e fiquei só ligado na possibilidade de revê-la. Um dia, numa quarta-feira, sete semanas depois do teatro, saindo do cinema, a vi. Ao longe, a reconheci pelo andar felino. Apressei o passo, fui aproximando, aproximando, aproximando, toquei no seu ombro nu, levemente e virou-se - olhou-me mais uma vez no fundo dos olhos, rodou uma bolsa de uns trinta quilos em direção ao meu rosto, e enquanto dobrava os joelhos por nocaute técnico, ouvi-a angelicalmente proferir as primeiras palavras à minha pessoa - seu velho tarado! 

É isto aí!

domingo, 22 de novembro de 2015

A África sangra por todos os poros.

Criança em Mogadiscio (Somália)*
O lamaçal que soçobrou aqui, no quintal da minha casa, nas belas alterosas de Minas, ainda hão de promover dezenas de dezenas de desastres aqui e ali. A mortandade, as enfermidades, as intoxicações, mutações, e muitas outras coisas que tangem a natureza, farão uma mancha maculada na história, mas a pior desgraça serão as ações aqui e acolá para se colocar gaze em ferida de grosso calibre, por desconhecidos agentes da lei e da ordem, acobertados por agentes do legislativo e executivo, tanto os que foram, quanto os que ainda o são.

Não existem mocinhos de boa intenção que sejam integralmente salvadores da pátria amada, salve, salve. 


Enquanto o capital vil se apresenta na lama por aqui, a África sangra por todos os poros. É o segundo maior e mais populoso continente do mundo e é também o continente com maior número de conflitos duradouros em todo o planeta. De um total de 54 países que compõem a África, 24 encontram-se atualmente em guerra civil ou em conflitos armados, de acordo com um levantamento do site Wars in the World.

As batalhas mais devastadoras ocorrem, hoje, em Ruanda, Somália, Mali, República Centro-africana, Darfur, Congo, Líbia, Nigéria, Somalilândia e Puntlândia (Estados declarados independentes da Somália em, respectivamente, 1991 e 1998). Esses combates envolvem 111 milícias, guerrilhas, grupos separatistas ou facções criminosas.  Há sangue humano nas ruas da Nigéria, Tunísia, Mali, Burundi, Moçambique, e muitos outros conflitos tão graves quanto, mas diluidos e ocultos da mídia.


Mas nada disso tem muita importância para a mídia ocidental, pois Paris foi violentamente atacada no maior ataque terrorista (sic) contra a sua perola continental. Dos milhões de mortos na África apenas nesta década, muito se viu de interesses que passam pela Torre Eiffel, não necessariamente pelo Napoleão da vez.

É isto aí!

"Child in Mogadishu" por PHCM TERRY MITCHELL 
- http://www.dodmedia.osd.mil 
(http://www.dodmedia.osd.mil/DVIC_View/Still_Details.cfm?SDAN=DNST9802099&JPGPath=/Assets/1998/Navy/DN-ST-98-02099.JPG). 
Licenciado sob Domínio público, via Wikimedia Commons 
- https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Child_in_Mogadishu.JPEG#/media/File:Child_in_Mogadishu.JPEG



terça-feira, 17 de novembro de 2015

Que merda é isto tudo?




Estava arrasado. Coloquei For once in my life para tocar ininterruptamente no aparelho de CD, no volume mínimo, só para as batidas graves coordenarem meu coração. Era a nossa música, só nossa. Pensei em beber alguma coisa, mas desisti - melhor que não. 





Fiquei ali, olhando o vazio ... For once in my life I have someone who needs me .... Puxa vida, ela precisa de mim e eu, eu, meu Deus, quanta dor, eu a amo. Sempre a amei, desde o dia que nossos destinos se cruzaram num táxi que aceitou uma corrida dupla para fugirmos de uma chuva torrencial ... Someone I've needed so long... tocava esta música!





Entramos e saímos um da vida do outro muitas vezes, e em todas chorei, sofri, me acabei e a gente sempre voltava numa alegria tão grande, tão infinita, tão esplendorosamente amantes, sabe, e aquilo era o que só ela era capaz proporcionar-me, ela era o melhor em mim ... For once, unafraid, I can go where life leads me ... . Puxa vida, estou chorando de novo, eu havia prometido ser forte ... And somehow I know I'll be strong ... . 





Por volta das três horas da manhã, ouvi o elevador chegar, escutei seus passos leves e trôpegos, afligi pela luta para ela conseguir abrir a porta, pois agonizava com a chave batendo em todos os pontos, menos na fechadura. Desalentado, levantei para abrir e deixa-la entrar, para diminuir aquela aflição. Percebi, claro, sempre percebi, que estava completamente drogada, toda suja, urinada, vômito na roupa e cabelo, e pela primeira vez, ao colo de um homem sério, sem sinal de uso de droga, aparentemente um andarilho ou morador de rua devido às características comuns aos que vagam pelas calçadas diuturnamente.






Ele entrou em silêncio e colocou-a gentil e educadamente no sofá. Não falou nada, e aí me olhou no fundo da minha alma e me deu um abraço tão pesaroso, tão sentido, como se fosse ele a recebê-la naquele estado. Acho que foi por que não sabíamos o que dizer um ao outro, e então partiu. Sentei ao seu lado, no chão, e fiquei ali  alisando seu cabelo, lembrando das suas gargalhadas, das nossas brigas, do seu beijo delicioso e escandaloso. 





Eu não vou perder você para as drogas, não vou, nós vamos sair desta merda, eu saí e agora vou tirar você. ... As long as I know I have love, I can make it ... . Chorei até cansar de chorar, solucei, eu te amo, eu te amo, eu te amo for once in my life ... 









Dei-lhe um banho com cuidado, lavei seu cabelo, tão lindo, cacheado, escovei seus dentes - estava toda machucada, limpei suas unhas - parece que apanhou, sei lá, talvez caiu, que merda é isto tudo que a vida dá? Mas que desgraça, que merda de vida é esta? Voltei a chorar. Coloquei uma camisola que ela gostava, de algodão, e acabei dormindo ali, segurando a sua mão, sentado numa cadeira à beira da cama. Achei que não iria dormir, mas o sono me venceu.









Acordei assustado, no chão, e ao levantar, apenas um bilhete escrito em letras horríveis - adeus para sempre. Enquanto segurava o papel, a campainha tocou, era a polícia - ela estava lá embaixo, na calçada. Eu deveria reconhecer o corpo ... reconhecer o corpo, meu Deus do céu ... que dor, meu Deus ... reconhecer ... meu Deus ... que merda é isto tudo?









É isto aí! 







Que merda é isto tudo?

Estava arrasado. Coloquei For once in my life para tocar ininterruptamente no aparelho de CD, no volume mínimo, só para as batidas graves coordenarem meu coração. Era a nossa música, só nossa. Pensei em beber alguma coisa, mas desisti - melhor que não. 

Fiquei ali, olhando o vazio ... For once in my life I have someone who needs me .... Puxa vida, ela precisa de mim e eu, eu, meu Deus, quanta dor, eu a amo. Sempre a amei, desde o dia que nossos destinos se cruzaram num táxi que aceitou uma corrida dupla para fugirmos de uma chuva torrencial ... Someone I've needed so long... tocava esta música!

Entramos e saímos um da vida do outro muitas vezes, e em todas chorei, sofri, me acabei e a gente sempre voltava numa alegria tão grande, tão infinita, tão esplendorosamente amantes, sabe, e aquilo era o que só ela era capaz proporcionar-me, ela era o melhor em mim ... For once, unafraid, I can go where life leads me ... . Puxa vida, estou chorando de novo, eu havia prometido ser forte ... And somehow I know I'll be strong ... . 

Por volta das três horas da manhã, ouvi o elevador chegar, escutei seus passos leves e trôpegos, afligi pela luta para ela conseguir abrir a porta, pois agonizava com a chave batendo em todos os pontos, menos na fechadura. Desalentado, levantei para abrir e deixa-la entrar, para diminuir aquela aflição. Percebi, claro, sempre percebi, que estava completamente drogada, toda suja, urinada, vômito na roupa e cabelo, e pela primeira vez, ao colo de um homem sério, sem sinal de uso de droga, aparentemente um andarilho ou morador de rua devido às características comuns aos que vagam pelas calçadas diuturnamente.

Ele entrou em silêncio e colocou-a gentil e educadamente no sofá. Não falou nada, e aí me olhou no fundo da minha alma e me deu um abraço tão pesaroso, tão sentido, como se fosse ele a recebê-la naquele estado. Acho que foi por que não sabíamos o que dizer um ao outro, e então partiu. Sentei ao seu lado, no chão, e fiquei ali  alisando seu cabelo, lembrando das suas gargalhadas, das nossas brigas, do seu beijo delicioso e escandaloso. 

Eu não vou perder você para as drogas, não vou, nós vamos sair desta merda, eu saí e agora vou tirar você. ... As long as I know I have love, I can make it ... . Chorei até cansar de chorar, solucei, eu te amo, eu te amo, eu te amo for once in my life ... 

Dei-lhe um banho com cuidado, lavei seu cabelo, tão lindo, cacheado, escovei seus dentes - estava toda machucada, limpei suas unhas - parece que apanhou, sei lá, talvez caiu, que merda é isto tudo que a vida dá? Mas que desgraça, que merda de vida é esta? Voltei a chorar. Coloquei uma camisola que ela gostava, de algodão, e acabei dormindo ali, segurando a sua mão, sentado numa cadeira à beira da cama. Achei que não iria dormir, mas o sono me venceu.

Acordei assustado, no chão, e ao levantar, apenas um bilhete escrito em letras horríveis - adeus para sempre. Enquanto segurava o papel, a campainha tocou, era a polícia - ela estava lá embaixo, na calçada. Eu deveria reconhecer o corpo ... reconhecer o corpo, meu Deus do céu ... que dor, meu Deus ... reconhecer ... meu Deus ... que merda é isto tudo?

É isto aí! 

sábado, 14 de novembro de 2015

O neurótico, Flora e o balsamo




Andava chateado, falando sozinho, gesticulando, irritado, bravo, nervoso, agitado, irado, mas pelo menos falava com alguém, e isto o acalmava, de certa forma.





Tanto fez que certa manhã pediu divórcio depois de doze anos, pediu demissão do emprego dos sonhos, pediu a conta da padaria da esquina, pediu a conta do buteco do Zé Flávio e depois de tudo feito, correu na Cantina da Ângela e pediu Creuzinha, a garçonete, em namoro.





Ela recusou o convite, mas aceitou uns amassos num flat de Guarapari. Findo o prazo de validade máxima de dez dias da paixão e tara pelas pernas da moça, voltou para casa, para o emprego e para a rotina.





Voltou a andar chateado, falando sozinho, gesticulando, irritado, bravo, nervoso, agitado, irado, mas pelo menos falava com alguém, e isto o acalmava, de certa forma.





Desta vez não pediu divórcio, mas fez abandono de lar, não pediu demissão, mas entrou com um atestado do psiquiatra, mas encerrou a conta da padaria da esquina e a conta do buteco do Zé Flávio e depois de tudo feito, passou na Farmácia do Seu Juquinha e pegou Flora, a balconista, para uma conversa no banco da praça.





Ela recusou o convite, pois era hora de trabalhar, mas passou a aceitar uns amassos num hotel barato de Caratinga. Findo o prazo de validade, não voltou mais para casa. Descobriu que Flora era o bálsamo benguê da sua dor nervosa.





É isto aí!

O neurótico, Flora e o balsamo

Andava chateado, falando sozinho, gesticulando, irritado, bravo, nervoso, agitado, irado, mas pelo menos falava com alguém, e isto o acalmava, de certa forma.

Tanto fez que certa manhã pediu divórcio depois de doze anos, pediu demissão do emprego dos sonhos, pediu a conta da padaria da esquina, pediu a conta do buteco do Zé Flávio e depois de tudo feito, correu na Cantina da Ângela e pediu Creuzinha, a garçonete, em namoro.

Ela recusou o convite, mas aceitou uns amassos num flat de Guarapari. Findo o prazo de validade máxima de dez dias da paixão e tara pelas pernas da moça, voltou para casa, para o emprego e para a rotina.

Voltou a andar chateado, falando sozinho, gesticulando, irritado, bravo, nervoso, agitado, irado, mas pelo menos falava com alguém, e isto o acalmava, de certa forma.

Desta vez não pediu divórcio, mas fez abandono de lar, não pediu demissão, mas entrou com um atestado do psiquiatra, mas encerrou a conta da padaria da esquina e a conta do buteco do Zé Flávio e depois de tudo feito, passou na Farmácia do Seu Juquinha e pegou Flora, a balconista, para uma conversa no banco da praça.

Ela recusou o convite, pois era hora de trabalhar, mas passou a aceitar uns amassos num hotel barato de Caratinga. Findo o prazo de validade, não voltou mais para casa. Descobriu que Flora era o bálsamo benguê da sua dor nervosa.

É isto aí!

A mulher de piercing no seio (Fabio Hernandez)

Alto lá - Este texto não é meu
Confesso que copiei e colei.

Quem é o autor - É o cubano Fabio Hernandez , que se declara em autodefinição como um "escritor barato".

De onde copiei? Do Diário do Centro do Mundo

Meu amigo Thunder achava que tinha encontrado o amor de sua vida. Tereza, dizia ele, era perfeita. Repórter da seção de cultura de um grande jornal. Bonita, loira de cabelos que escorriam quase até a cintura, sexualmente petulante, inteligente. Falava de Proust, de Almodóvar e de artes marciais, e não recusava as fantasias de Thunder.

Piercing no seio, que ela dizia deixá-la em estado de contínua excitação, tatuagem de golfinho na virilha esquerda. Tudo bem que Thunder é uma gangorra sentimental, sempre à procura da mulher perfeita, mas sua descrição de Tereza me fez acreditar que aquela história duraria pelo menos algumas semanas. Não durou mais que dez dias. Quando Thunder me disse por que tinha demitido de sua vida uma mulher tão sensacional como Tereza, vi que ele tinha toda razão.

Tereza era a Mulher Tagarela.

Um homem suporta muitas coisas. Dor de dente, congestionamento, jogadores mercenários. Pedágios que se multiplicam, Claudia Leitte e Ivete Sangalo, o mosquito da dengue. Filas. Sogras, juízes de futebol, supermercados sábado pela manhã. É incrível a resistência do homem às calamidades.

O que não dá para suportar é a Mulher Tagarela.

Tereza, me disse Thunder, era uma Mulher Tagarela. Seu assunto favorito, como sempre acontece nesses casos, era ela mesma. Tereza se julgava uma eterna manchete. Contava suas histórias com entusiasmo barulhento. Seus olhos se arregalavam ao falar de si própria. Não havia pausa, não havia brechas pelas quais o pobre Thunder conseguisse deter o vulcão verborrágico da loira espetacular.

“Tudo bem que a mulher fale antes e depois do sexo”, me disse Thunder em sua estupefação tola. “Mas durante fica difícil. Não estou falando de conversa sexual. Ela me contava coisas como o elogio que tinha recebido do chefe, e de como tinha sido merecido. Uma vez ela me falou como tinha roubado o namorado rico e poderoso de sua irmã. Uma outra vez ela abriu os olhos subitamente e me disse se podia me fazer uma pergunta. Eu disse sim, e ela perguntou se eu podia trocar o pneu furado do carro dela. O pior é que troquei imediatamente.”

A Mulher Tagarela não tem limites. Simplesmente detesta ouvir. Depois de escassos segundos de aparente atenção, você nota em seus olhos fugidios que ela não esta ouvindo. Seus pensamentos estão na verdade voando em torno dela mesma. Nada do que você faz é capaz de prender o interesse da Mulher Tagarela. Por isso ela não tem amigas e nem amigos. É amiga apenas de si mesma.

Thunder é um jornalista aspirante a escritor. Contou empolgado a Tereza que uma editora de livros tinha decidido publicar o seu primeiro romance. O primeiro romance publicado de um aspirante a escritor é mais importante que o primeiro sexo ou que a primeira vez que dirige um carro. Ela bocejou e pediu a ele que fosse buscar um copo de água para ela. Metade gelada, metade natural. Estava com sede.

Foi quando Thunder desistiu. Não sem antes, é verdade, ter providenciado o copo sob medida de água para Tereza.

Thunder queria o básico. Nada além do básico. “Ela não precisava nem ler o manuscrito”, ele me disse. “Bastava pedir uma cópia e depois dizer que tinha achado alguns trechos legais.”

Nos poucos dias em que estiveram juntos, Thunder conheceu compulsoriamente toda a história de Tereza. Detalhes em geral pouco animadores de seus namorados passados. Johnny falhara algumas vezes. Lúcio tinha ejaculação precoce e se recusava a enfrentar a verdade e procurar um médico. Danny Boy gostava de vê-la com outro cara na cama. Edu, com certeza, não escovava os dentes. Tavito nunca tinha lido um livro, era um burro. Bruno achava que Sergio Leone era um jogador de futebol do Milan.

A Mulher Tagarela só tem palavras positivas para ela mesma. Nem com piercing no mamilo se salva.

Apenas uma espécie se compara a ela.

É o Homem Tagarela.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Pinto do Acordeon - Episódio Completo


Pinto do Acordeon (Conceição - PB, 1948 – São Paulo - SP, 2020), cujo nome de batismo é Francisco Ferreira Lima, foi um instrumentista, cantor, compositor e político brasileiro.

A música lhe gerou interesse desde a infância e ele também é aficionado por acordeon, instrumento em que se tornou um virtuoso, ficou conhecido desde quando fazia parte das apresentações com a trupe de Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”, período em que ganhou notoriedade da música nordestina e que produziu músicas que estão presentes até hoje nos festejos juninos brasileiros.

Gravou seu primeiro LP em 1976 e detém em torno de vinte álbuns gravados em seu nome (entre CDs e LPs), já tendo composto músicas para Elba Ramalho, Genival Lacerda, Dominguinhos, Fagner, Os 3 do Nordeste e Trio Nordestino. Um de seus sucessos, “Neném Mulher”, ficou consagrada na voz de Elba Ramalho e foi tema da telenovela Tieta.

Em 2008, foi para o Festival de Montreux, Suíça, no qual se apresentou junto com outros artistas brasileiros, entre os quais Gilberto Gil, Elba Ramalho, Milton Nascimento, Chico César, Flávio José, Aleijadinho de Pombal, e Trio Tamanduá.

É, com certeza, um grande músico com uma extensa trajetória, mas, acima de tudo, é uma figura inigualável, tão carismática quanto engraçada. 

O paraibano de Conceição de Piancó, seguindo a tradição de Luiz Gonzaga, mistura suas músicas à contação de 'causos'. E não dá ponto sem nó: uma história é melhor que a outra. O próprio Dominguinhos, seu amigo, não se aguentou e caiu na risada no meio da gravação para o filme O Milagre de Santa Luzia. 

Sua versão de 'New York, New York', de Frank Sinatra, já vale o programa. Mas tem muito mais: além de engraçado e afável, Pinto dá uma aula sobre a música nordestina e sua ligação com outros aspectos culturais e sociais da região, e faz um som de primeira na lendária sanfona branca de teclas pretas que pertenceu a Luiz Gonzaga.

Fonte Youtube: MilagreStaLuziaSerie 
Vídeo produzido por: Miração Filmes 
Vídeo dirigido por: Sergio Roizenblit.













Pinto do Acordeon - Episódio Completo


Pinto do Acordeon (Conceição - PB, 1948 – São Paulo - SP, 2020), cujo nome de batismo é Francisco Ferreira Lima, foi um instrumentista, cantor, compositor e político brasileiro.

A música lhe gerou interesse desde a infância e ele também é aficionado por acordeon, instrumento em que se tornou um virtuoso, ficou conhecido desde quando fazia parte das apresentações com a trupe de Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”, período em que ganhou notoriedade da música nordestina e que produziu músicas que estão presentes até hoje nos festejos juninos brasileiros.

Gravou seu primeiro LP em 1976 e detém em torno de vinte álbuns gravados em seu nome (entre CDs e LPs), já tendo composto músicas para Elba Ramalho, Genival Lacerda, Dominguinhos, Fagner, Os 3 do Nordeste e Trio Nordestino. Um de seus sucessos, “Neném Mulher”, ficou consagrada na voz de Elba Ramalho e foi tema da telenovela Tieta.

Em 2008, foi para o Festival de Montreux, Suíça, no qual se apresentou junto com outros artistas brasileiros, entre os quais Gilberto Gil, Elba Ramalho, Milton Nascimento, Chico César, Flávio José, Aleijadinho de Pombal, e Trio Tamanduá.

É, com certeza, um grande músico com uma extensa trajetória, mas, acima de tudo, é uma figura inigualável, tão carismática quanto engraçada. 

O paraibano de Conceição de Piancó, seguindo a tradição de Luiz Gonzaga, mistura suas músicas à contação de 'causos'. E não dá ponto sem nó: uma história é melhor que a outra. O próprio Dominguinhos, seu amigo, não se aguentou e caiu na risada no meio da gravação para o filme O Milagre de Santa Luzia. 

Sua versão de 'New York, New York', de Frank Sinatra, já vale o programa. Mas tem muito mais: além de engraçado e afável, Pinto dá uma aula sobre a música nordestina e sua ligação com outros aspectos culturais e sociais da região, e faz um som de primeira na lendária sanfona branca de teclas pretas que pertenceu a Luiz Gonzaga.

Fonte Youtube: MilagreStaLuziaSerie 
Vídeo produzido por: Miração Filmes 
Vídeo dirigido por: Sergio Roizenblit.








Olhos amendoados




Um conto curto de um sonho rápido.





Olhos amendoados, é o que mais me lembro. Ela entrou tão mansamente nos meus sonhos, foi de uma sutileza de gueixa, mas os lábios, ah! - os lábios em carmim, do jeito que me enlouquece.


O corpo era de uma escultura divina, a luz irradiando em sua aura, tudo tão tangível. Mãos finas, pele em seda, tão linda.





Aí acordei, caramba.





É isto aí!


Olhos amendoados

Um conto curto de um sonho rápido.

Olhos amendoados, é o que mais me lembro. Ela entrou tão mansamente nos meus sonhos, foi de uma sutileza de gueixa, mas os lábios, ah! - os lábios em carmim, do jeito que me enlouquece.
O corpo era de uma escultura divina, a luz irradiando em sua aura, tudo tão tangível. Mãos finas, pele em seda, tão linda.

Aí acordei, caramba.


É isto aí!

Fundo de Quintal - Nas Batidas do Coração


Clique aqui e escute no Youtube:


Fundo de Quintal é um grupo de samba brasileiro formado no Rio de Janeiro na década de 1970. Surgido a partir das rodas de samba do bloco carnavalesco Cacique de Ramos, agremiação criada por Bira Presidente, Ubirany e Sereno em 1961, o Fundo de Quintal tornou-se ao longo dos anos uma das maiores referências do gênero, em especial no pagode, vertente a qual o grupo se tornou o seu grande paradigma.

Realizadas todas as quartas-feiras na quadra do Cacique de Ramos, as rodas de samba organizadas pelo Fundo de Quintal – abertas a diversos sambistas – revolucionaram muitos aspectos o universo do samba, manifestada por uma renovada linguagem musical caracterizada por um estilo interpretativo ancorado à tradição do partido alto e na introdução nas rodas dos instrumentos tantã, repique de mão e banjo de quatro cordas, que foram responsáveis por grandes inovações harmônicas e percussivas no samba.

Com aval da intérprete Beth Carvalho e do produtor musical Rildo Hora, a RGE convidou músicos do Cacique a participar da gravação de estúdio do LP da cantora, De Pé No Chão, e pouco depois, a gravadora lançou Samba É No Fundo de Quintal, álbum de estreia do grupo.] Nesse disco, o Fundo de Quintal apresentou como formação os sambistas Bira Presidente, Ubirany, Sereno, Neoci, Almir Guineto, Jorge Aragão e Sombrinha. Entre saídas e entradas de integrantes, o Fundo de Quintal gravou outros LPs ao longo daquela década, dando ainda mais visibilidade às composições de seus novos músicos, como Arlindo Cruz e Cleber Augusto, como também de Guineto e Aragão, que seguiram carreira solo, e ainda de parceiros ligados ao pagodes do Cacique de Ramos, como Luiz Carlos da Vila, Beto sem Braço, Nei Lopes, Wilson Moreira, Noca da Portela, entre outros.

Fundo de Quintal - Nas Batidas do Coração


Clique aqui e escute no Youtube:


Fundo de Quintal é um grupo de samba brasileiro formado no Rio de Janeiro na década de 1970. Surgido a partir das rodas de samba do bloco carnavalesco Cacique de Ramos, agremiação criada por Bira Presidente, Ubirany e Sereno em 1961, o Fundo de Quintal tornou-se ao longo dos anos uma das maiores referências do gênero, em especial no pagode, vertente a qual o grupo se tornou o seu grande paradigma.

Realizadas todas as quartas-feiras na quadra do Cacique de Ramos, as rodas de samba organizadas pelo Fundo de Quintal – abertas a diversos sambistas – revolucionaram muitos aspectos o universo do samba, manifestada por uma renovada linguagem musical caracterizada por um estilo interpretativo ancorado à tradição do partido alto e na introdução nas rodas dos instrumentos tantã, repique de mão e banjo de quatro cordas, que foram responsáveis por grandes inovações harmônicas e percussivas no samba.

Com aval da intérprete Beth Carvalho e do produtor musical Rildo Hora, a RGE convidou músicos do Cacique a participar da gravação de estúdio do LP da cantora, De Pé No Chão, e pouco depois, a gravadora lançou Samba É No Fundo de Quintal, álbum de estreia do grupo.] Nesse disco, o Fundo de Quintal apresentou como formação os sambistas Bira Presidente, Ubirany, Sereno, Neoci, Almir Guineto, Jorge Aragão e Sombrinha. Entre saídas e entradas de integrantes, o Fundo de Quintal gravou outros LPs ao longo daquela década, dando ainda mais visibilidade às composições de seus novos músicos, como Arlindo Cruz e Cleber Augusto, como também de Guineto e Aragão, que seguiram carreira solo, e ainda de parceiros ligados ao pagodes do Cacique de Ramos, como Luiz Carlos da Vila, Beto sem Braço, Nei Lopes, Wilson Moreira, Noca da Portela, entre outros.

Mariene De Castro - Coração Leviano (Paulinho da Viola)

Mariene De Castro - Coração Leviano (Paulinho da Viola)

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Termo de posse

Poemeu - Termo de Posse

   Meu bem não dorme. 
              Meu bem não durmo.
                          Meu bem não durma
                                       Meu bem não jura...

                                   Meu amor faz drama
                         Meu amor faz cama
               Meu amor faz fama
    Meu amor apraz ...

      Minha preta tão boa
                         Minha nega não dou-a 
                             Minha meiga perdoa
                                            Minha vida zamboa  ...



É isto aí!

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Eu não existo, eu poetiso!


Casos crônicos em crônica do Analista da Pitangueira:

Ando lendo poesias horríveis, humm, ando lendo ... não, não ando lendo, eu leio e ando em tempos opostos, antagônicos, versados pela natureza de cada evento, é isto, eu ando e leio separadamente. Também não falo ao celular lendo, a não ser para declamar, mas o caso que não declamo, sabe?! - aquela entonação não aparece.

- Entendo.

O senhor entende mesmo? Sabe lá o que é esta loucura de ser vivo neste manicômio globalizado? Tem noção exata ou aproximada, com no máximo um desvio de uma casa após a vírgula, entre 1 e 4, para não arredondar, o senhor tem mesmo a exata razão de entender minha loucura particular, única, habitante em mim?

- Não, mas acredito que fala por que há nisto tudo uma razão.

Não há nada em mim, doutor, sou um niilista em fausto rufar da negação do tudo, desde o que sou, quem sou, e o que é isto tudo à minha volta.

- Bem, se o senhor vê um "isto tudo à sua volta", então há algo aí que dá vazão aos seus mais secretos e ocultos mistérios. 

(silêncio)

- Contemplando seu niilismo?

Se quer saber se o meu niilismo é apenas algum tipo de movimento negador de toda e qualquer coisa, a resposta é "não exatamente". Meu cérebro pode criar, recriar, destruir e edificar mundos fantásticos, pode me levar em locais onde nunca outro ser vivo jamais ousou sonhar. A verdade em tudo é que eu não existo,  doutor, eu poetiso! Mas não ando lendo.

- Muito bem, temos aqui um avanço. Finalmente o senhor afirma que pensa, e isto o faz ser vivente deste mundo, para onde a sociedade necessita tê-lo ressocializado e em segurança.

Então quer dizer que ser poeta é estar louco a ponto de necessitar ter uma camisa de força física e /ou preferencialmente química, só para provar que a minha negação do que está aí fora, neste espaço cósmico, é o real e meu eu, minhas percepções, são etéreas. 

- Veja só, o senhor reconhece uma negação de dentro para fora, mas a posiciona de uma forma excêntrica.

- E ser concêntrico satisfaz a quem, doutor? Nem as putas gostam de homens concêntricos, nem as pervertidas, e muito menos as não normais.

- O senhor gosta de putas ou de pervertidas ou de mulheres anormais?

E quem não gosta? São o elo entre os mundos, romperam barreiras seculares, e fazem do seu corpo um monumento literato, onde vão escrevendo as fases, reminiscências, transgressões e taras desta sociedade cada vez mais hipócrita. Quer saber? Chega por hoje. Fui passar bem ou mal, não me interessa em si, mas não ande lendo, doutor, não ande lendo. 

- Semana que vem, pode ser? Gostaria de vê-lo semana que vem. 

Não sei, doutor, mas caso esteja nesta órbita por aquela hora daquele dia, quem sabe? Se assim for que seja assim nosso próximo eclipse.

É isto aí!