terça-feira, 31 de março de 2015

O aeroplano e o saci




Um aeroplano destes bem grandes desapareceu do planeta há um ano. Nada mais se disse sobre isto. Teorias oficiais declararam que o motorista da condução tinha um sistema de treinamento na sua casa, semelhante aos milhões de jogos idênticos espalhados pelo mundo.





Outro aeroplano , da mesma viação, caiu em terras eslavas, daí que foi uma coisa mais estressante, com testemunhas, mídia e zona de guerra. Como as explicações não tiveram consistência, as consistências detonaram com as explicações.





Agora um outro aeroplano, também no velho continente, vai de encontro aos Alpes. O crime foi premeditado por um alucinado romântico e assassino, e logo nas primeiras horas o denunciado e culpado era o co-motorista. Segundo as autoridades, ele era gay, paranoide, depressivo, com menos de 70% de acuidade visual, e por fim descobriu que a noiva estava grávida de um filho seu (não ria, a consistência oficial é esta). 





Então o cidadão co-motorista esperou pacientemente o motorista-em-chefe ir ao banheiro, trancou a porta e rumou ao infinito e além. Enquanto assim procedia o seu superior, sem ter como ver coisa alguma, batia à porta com violência, mandando-o abri-la. E, claro não o fez.





Você acredita nestas histórias? Sei... entendo... tudo bem... olha só, fica tranquilo.





É isto aí! 

O aeroplano e o saci

Um aeroplano destes bem grandes desapareceu do planeta há um ano. Nada mais se disse sobre isto. Teorias oficiais declararam que o motorista da condução tinha um sistema de treinamento na sua casa, semelhante aos milhões de jogos idênticos espalhados pelo mundo.

Outro aeroplano , da mesma viação, caiu em terras eslavas, daí que foi uma coisa mais estressante, com testemunhas, mídia e zona de guerra. Como as explicações não tiveram consistência, as consistências detonaram com as explicações.

Agora um outro aeroplano, também no velho continente, vai de encontro aos Alpes. O crime foi premeditado por um alucinado romântico e assassino, e logo nas primeiras horas o denunciado e culpado era o co-motorista. Segundo as autoridades, ele era gay, paranoide, depressivo, com menos de 70% de acuidade visual, e por fim descobriu que a noiva estava grávida de um filho seu (não ria, a consistência oficial é esta). 

Então o cidadão co-motorista esperou pacientemente o motorista-em-chefe ir ao banheiro, trancou a porta e rumou ao infinito e além. Enquanto assim procedia o seu superior, sem ter como ver coisa alguma, batia à porta com violência, mandando-o abri-la. E, claro não o fez.

Você acredita nestas histórias? Sei... entendo... tudo bem... olha só, fica tranquilo.

É isto aí! 

segunda-feira, 30 de março de 2015

Casamentos e casamentes

Estou sentado num imenso sofá, num local completamente desconhecido, limpo e harmonioso. Ao meu lado uma das mulheres mais lindas e sensuais que já vi em toda a minha vida. A vista, privilegiada, contempla uma cadeia de montanhas e o oceano ao fundo, num contraste elegante. Ela me olha de uma forma desconcertante que não sei retribuir.

A questão aqui envolvida é que não sei nada sobre mim, nada sobre este lugar e nada sobre a moça. Lembro de coisas incríveis como o Louvre, onde acho que estive mergulhado num profundo ensaio conceitual, e também vagam passagens rápidas aqui e ali. Mas não sei de nada.

A escultura humana ao meu lado dirige a palavra numa língua que desconheço. Sequer entendo o sotaque porque se estou pensando apenas desta forma, devo ser monoglota. Não estou bêbado, nem drogado, nem com reflexos alterados. Minha cabeça não dói, meu corpo não reclama de nada, mas não sei de mim.

Ela continua num tom romântico falando coisas ao meu ouvido. Levanta-se e aí posso notar o quanto é maravilhosa, uma formosura esculpida por mãos divinas. E só então, ao tentar levantar percebo que estou nu, pelado, sem roupa sem nada. O curioso é que ela está também sem a roupa de baile e a poucos metros daqui há uma festa, com orquestra e muita gente dançando e cantando, na mesma estranha língua da moça.

Sem ter como evitar, levanto e caminho pelo salão, e todos me cumprimentam, tapinhas nas costas, uns beijinhos rápidos das mulheres, alguns na boca, outros na bochecha e outros soltos no ar. Continuamos o trajeto até o que parece ser um parlatório. Sou levado a ele. Daqui de cima vejo todos me observando, aguardando uma fala.

Olho para meu corpo nu, olho para as pessoas em requinte de gala, cruzo o olhar com a estonteante companheira, e caramba - não estou entendendo nada. Levanto as mão e falo pausadamente na minha língua que aquilo tudo era muito embaraçante, estranho e surreal. Recebo uma chuva de palmas, as pessoas vão ao delírio, grita,m assoviam, aplaudem, agitam os braços com alegria.

A moça sobre em largos sorrisos os degraus que nos separavam, e beija-me em frenesi. Meu Deus do céu... que beijo maravilhoso e aí ela começa a me morder e falar ... Beto... Beto... Beto. Engraçado, eu consigo entender esta parte. Beto deve ser meu nome. Sorrio para ela. Beto... Beto... aí que me dei conta, era o casamento de alguém... e a moça - Beto... Beto...

Vagamente começo a entender tudo o que falam. O salão não era bem um salão, era um templo religioso. A banda era um conjunto de arcos e cordas. Então pude concluir que eu estava no altar . E aí ela falou ... Beto, você tem que dizer SIM. Aí falei sim e infelizmente voltei ao normal, no conceito das pessoas sérias. Francamente, na minha viagem pós-despedida clássica completa aquilo estava muito mais legal.

É isto aí! 

terça-feira, 24 de março de 2015

Nunca deseje seu ex-amor

Tem uns dois anos, estava à toa, procurando alguma coisa na Internet, e isto é um perigo tão grande, que tal aventura deveria ser protocolada, registrada, carimbada e monitorada por uma agência federal. Era cedo ainda, as crianças já haviam deitado, a sogra roncava no sofá de frente para uma novela desconhecida, e eu esperando a hora do jogo, que seria o ponto culminante da noite.

Foi aí que a porca torceu o rabo e o diabo cutucou com a saudade, quando bateu a besteira de procurar o nome dela na rede. "Ela" foi simplesmente o grande e intempestivo amor, daqueles que só quem amou apaixonadamente irá entender. Quinze anos se passaram desde a maldita despedida, onde meu orgulho, idiota, não entendeu a gravidade da separação e o que esta dor ocasionaria na minha vida.

Como sabe, a fila anda, e acho que foi então que apareceu a Geraldinha, que assumiu o controle da situação, e hoje moramos numa casa pobre, mas é nossa, está paga e é decente. Os filhos na escola pública, eu na prefeitura e ela uma doce, dedicada e romântica rainha do lar. Mas naquela noite eu cometi a imprudência de procurar por "ela". Puxa vida, quanto mais passava o tempo, mais torturas e sofrimentos fluíam pela memória.

Achei-a na rede, acessei sua página, e meu Deus do céu, estava linda, com fotos deslumbrantes em lugares fantásticos, cercada de amigos, amigas, com a cara da riqueza e a sina da beleza. Era ela, a minha musa, que venceu, brilhou, ascendeu, enfim, conquistou seu lugar ao sol merecidamente. Levantei da cadeira ensandecido. Entrei no quarto e vi aquela tripinha seca deitada na cama de colchão de espuma D28, cobrindo com lençol remendado ainda do casamento, duas muchibinhas de travesseiro sob um cortinado encardido, ventilador histérico, piso de cimento queimado e aí chorei copiosamente.

Entrei dezenas de dezenas de vezes naquela página, imprimi sua foto, caramba - estava tudo acontecendo novamente. A tentação de surgir na sua vida era imensa, mas me contive. Deu que um dia fui acompanhar o despejo de uma invasão de área pública, e não é que ela estava lá? Era uma das invasoras, menos bela que na Rede. Fui me aproximando devagar, bem devagar, tremendo até não aguentar mais. 

Olhamos um nos olhos do outro. Tomei-a pela mão e não soltei mais. Ela sonhava com coisas que eu renunciara, e agora poderíamos sonhar juntos. Tudo ia bem até que resolvi acessar a página da Geraldinha. Gente, mas o que era aquilo, parecia uma Miss Universo desfilando na passarela da felicidade. Minha boca encheu d'água... a Geraldinha... puta que o pariu, e eu aqui sustentando esta gorda porca e preguiçosa que fica o dia inteiro na internet. Fiz menção de voltar, mas sabe como é, ninguém volta ao que acabou - outro já dominava a área.

É isto aí!






segunda-feira, 23 de março de 2015

Um beijo em si.

Senta logo, que preciso te falar um negócio.

Não.

Não o quê? Sentar ou ouvir o que tenho a dizer?

Não quero sentar.

Mas poderá ouvir?

Não quero ouvir o que sabe e não sei.

Mas aí não saberá o que tenho a dizer.

Então não diga e não saberei.

Mas é uma coisa sua.

Se é minha, já a tenho.

Não quer mesmo saber?

O fato é que não estou preparado para descobrir em mim algo que não sei se sei.

Não contarei então.

Isto, não conte e me beije.

Beijo molhado, lambuzado e ardente?

Um beijo, não destes assim, mas um beijo de quem tem algo meu em si.

É isto aí!

quarta-feira, 18 de março de 2015

Roy Orbison - A Love So Beautiful




A Love So Beautiful

The summer sun looked down
On our love long ago
But in my heat I feel
The same old afterglow
A love so beautiful
In every way
A love so beautiful
We let it slip away

We were too young to understand
To ever know
That lovers drift apart
And that's the way love goes
A love so beautiful
A love so sweet
A love so beautiful
A love for you and me

And I when I think of you
I fall in love again
A love so beautiful
In every way
A love so beautiful
We let it slip away
A love so beautiful
In every way
A love so beautiful
We let it slip away


Um Amor Tão Bonito

O sol do verão se pôs há muito tempo
sobre o nosso amor,
Mas em meu coração eu ainda sinto
aquele velho pôr-do-sol...
Um amor tão bonito
De todas as maneiras
Um amor tão bonito
Deixamos que acabasse

Éramos muito jovens para entender
Para ao menos saber
Que amantes se separam
E que o amor é assim mesmo
Um amor tão bonito
Um amor tão doce
Um amor tão bonito
Um amor para nós dois

E quando penso em você
Me apaixono de novo
Um amor tão bonito
De todas as maneiras
Um amor tão bonito
Deixamos que acabasse
Um amor tão bonito
De todas as maneiras
Um amor tão bonito
Deixamos escapar.....

Roy Orbison - A Love So Beautiful




A Love So Beautiful

The summer sun looked down
On our love long ago
But in my heat I feel
The same old afterglow
A love so beautiful
In every way
A love so beautiful
We let it slip away

We were too young to understand
To ever know
That lovers drift apart
And that's the way love goes
A love so beautiful
A love so sweet
A love so beautiful
A love for you and me

And I when I think of you
I fall in love again
A love so beautiful
In every way
A love so beautiful
We let it slip away
A love so beautiful
In every way
A love so beautiful
We let it slip away


Um Amor Tão Bonito

O sol do verão se pôs há muito tempo
sobre o nosso amor,
Mas em meu coração eu ainda sinto
aquele velho pôr-do-sol...
Um amor tão bonito
De todas as maneiras
Um amor tão bonito
Deixamos que acabasse

Éramos muito jovens para entender
Para ao menos saber
Que amantes se separam
E que o amor é assim mesmo
Um amor tão bonito
Um amor tão doce
Um amor tão bonito
Um amor para nós dois

E quando penso em você
Me apaixono de novo
Um amor tão bonito
De todas as maneiras
Um amor tão bonito
Deixamos que acabasse
Um amor tão bonito
De todas as maneiras
Um amor tão bonito
Deixamos escapar.....

domingo, 15 de março de 2015

Os anjos e a caxeta do Libório








Ryszard Krasowski


Dia destes estive num hospital visitando um amigo que se acidentou em casa correndo para atender o telefone, enquanto tomava banho. Estava sozinho e achou que não teria problema sair nu, escorregou no porcelanato e não viu mais nada, sendo descoberto na manhã seguinte pela empregada.





Na saída do apartamento do paciente, passei por um homem que achei conhecer. Alto, idoso, ereto e com um olhar muito penetrante. Continuei andando pelo corredor quando lembrei daquela pessoa. Ao voltar para reencontrá-lo, já havia desaparecido.





Será que é ele mesmo? Pensei e refleti - mas é impossível - já se passaram uns trinta anos. Bem, vou explicar: quando era criança, ia sempre nas férias, na roça, onde moravam meus avós. Nada melhor do que o campo para uma criança se sentir no paraíso. Nas sextas-feiras, na varanda do sobrado, meu avô recebia os  amigos de sempre para beber cachaça, comer torresmo e jogar caxeta ou caixeta como dizem mais ao sul. Entre seus amigos, tinha o Libório, divertidíssimo, padrinho do meu pai. Sua esposa já havia falecido, os filhos tinham ganhado a estrada e ele tocava seu sítio dentro das suas limitações pela idade.





Numa destas férias, em janeiro, com muita chuva, o Libório faleceu e fomos lá para a casa dele, do outro lado da encosta. Era uma sexta-feira, e aí os amigos, para homenageá-lo, ficaram jogando caxeta a noite toda, esperando o dia amanhecer para enterrar o falecido no cemitério da vila. A casa dele era pequena, e tinha apenas uma puxada de telhado na frente, em piso batido, com umas pedras próximo à porta. Devia ser de madrugada, e eu ali, aceso, pois nunca tinha visto um homem morto, nem sequer um velório, e muito menos uma chuva torrencial como aquela.





Ficava andando prá e prá cá e ao chegar na porta da cozinha, deparei com um homem encostado na bica, calado, olhando para mim sem estar me vendo. Achei que podia ser um dos vizinhos, apesar de nunca tê-lo visto. Não tive medo nem nada, mas fiquei com muito sono. Nunca mais esqueci seu rosto e na manhã seguinte não o vi no enterro.





Voltei rapidamente ao apartamento e meu amigo tinha acabado de falecer, saí dali e novamente cruzamos o olhar. Desta vez não olhei para trás.





É isto aí!

Os anjos e a caxeta do Libório

Ryszard Krasowski
Dia destes estive num hospital visitando um amigo que se acidentou em casa correndo para atender o telefone, enquanto tomava banho. Estava sozinho e achou que não teria problema sair nu, escorregou no porcelanato e não viu mais nada, sendo descoberto na manhã seguinte pela empregada.

Na saída do apartamento do paciente, passei por um homem que achei conhecer. Alto, idoso, ereto e com um olhar muito penetrante. Continuei andando pelo corredor quando lembrei daquela pessoa. Ao voltar para reencontrá-lo, já havia desaparecido.

Será que é ele mesmo? Pensei e refleti - mas é impossível - já se passaram uns trinta anos. Bem, vou explicar: quando era criança, ia sempre nas férias, na roça, onde moravam meus avós. Nada melhor do que o campo para uma criança se sentir no paraíso. Nas sextas-feiras, na varanda do sobrado, meu avô recebia os  amigos de sempre para beber cachaça, comer torresmo e jogar caxeta ou caixeta como dizem mais ao sul. Entre seus amigos, tinha o Libório, divertidíssimo, padrinho do meu pai. Sua esposa já havia falecido, os filhos tinham ganhado a estrada e ele tocava seu sítio dentro das suas limitações pela idade.

Numa destas férias, em janeiro, com muita chuva, o Libório faleceu e fomos lá para a casa dele, do outro lado da encosta. Era uma sexta-feira, e aí os amigos, para homenageá-lo, ficaram jogando caxeta a noite toda, esperando o dia amanhecer para enterrar o falecido no cemitério da vila. A casa dele era pequena, e tinha apenas uma puxada de telhado na frente, em piso batido, com umas pedras próximo à porta. Devia ser de madrugada, e eu ali, aceso, pois nunca tinha visto um homem morto, nem sequer um velório, e muito menos uma chuva torrencial como aquela.

Ficava andando prá e prá cá e ao chegar na porta da cozinha, deparei com um homem encostado na bica, calado, olhando para mim sem estar me vendo. Achei que podia ser um dos vizinhos, apesar de nunca tê-lo visto. Não tive medo nem nada, mas fiquei com muito sono. Nunca mais esqueci seu rosto e na manhã seguinte não o vi no enterro.

Voltei rapidamente ao apartamento e meu amigo tinha acabado de falecer, saí dali e novamente cruzamos o olhar. Desta vez não olhei para trás.

É isto aí!

quarta-feira, 11 de março de 2015

O cafajeste em mim.

Desde menino sempre sonhei em ser cafajeste. Não pela forma, mas pelo nome, sempre achei o máximo esta expressão. Ficava imaginando uma cena onde uma pessoa se aproximava e em tom de desespero, perguntava - o senhor é o Dr. Cafajeste? Sim, sou eu. Pelo amor de alguma coisa, me socorra... Aquilo era uma terapia para minhas expectativas de futuro.

Nas reuniões de família, perguntavam o que eu seria quando crescer só para ouvir a resposta e a gargalhada era geral. Tia Julinha se urinava de tanto rir; tia Telinha rolava no chão e o meu pai gritava lá do fundo do quintal - "este é o meu garoto! Que maravilha, uma coisa assim era melhor do que ser aviador, médico ou advogado".

Uns amigos do meu pai tinham umas duas ou três mulheres, estavam sempre alegres, e bem com a vida. Minha mãe não gostava deles. Falava com raiva do Carlinhos do Pneu. É um homem frio, calculista e trapaceiro. Roubou até da sogra, a dona Esmeralda, coitada, que morreu sem nada que o padrinho deixou para ela. Depois que sugou tudo da boba da Dadinha, arrumou uma putinha barranqueira -. esta era a parte que eu adorava ouvir - arrumou uma novinha, e agora fica aí andando de carro bonito e se acha o tal.. Uau; aquilo ecoava como música aos meus ouvidos (uma novinha) e seguia sorrindo para todo mundo.

Tinha o Gegê do Gás, que minha avó tremia só de ver ele lá em casa. Eu não entendia, por que ele era muito divertido, carinhoso com a esposa, mas aí vovó falava - é um cafajeste mentiroso, e a boba acredita em tudo que fala, mesmo com ele namorando com as meninas todas do bairro. Nossa! Gegê era meu ídolo - Meu sonho!!!

E o Bira da Feira? Sempre com uma camiseta apertada, mostrando os músculos. Ele ia fazer entrega das compras e tia Julinha saia pelos fundos - não suporto este machista grosseiro e insensível, dizia entre os dentes. O fato é que ele deu uns amassos nela e parece que uns tapas também, mas deve ter tido seus motivos, mas mulher não faltava na sua vida. Sempre com uma mais gostosa que a outra. E aquele cordão de ouro? Sempre quis ter um igual. 

Agora, tinha um amigo do meu pai, o Lelinho da Barra, que era meu ídolo. Tia Telinha tinha ódio dele. Ela falava assim - Lelinho? Um mau caráter, vagabundo e ambicioso e só quer mulher para sustentar suas ambições. Graças a Deus eu tive livramento daquele peste. 

Quando cheguei na adolescência, percebia que as meninas mais gostosas se sentiam atraídas pelos cafajestes, choravam e sofriam por eles, e se envolviam mesmo sabendo que as chances de o relacionamento dar certo eram mínimas. Eles eram fortes, pareciam seguros e poderosos, saiam para beber, jogar e fumar com os amigos, eram muito namoradores e tinham mulher nova todo dia, e as meninas ficavam histéricas disputando a atenção deles. Nunca entendia bem esta parte, a de que eu perdia para quem eu queria ser..

Bem, para minha grande decepção, na vida adulta não consegui ser cafajeste. O tempo passou, apaixonei pela Quitéria, uma menina tímida, até meio feinha, que morava duas casas abaixo da minha. Casei cedo, fui trabalhar no balcão de uma loja e enfim, tive três filhas e não consegui nem sequer um genro cafajeste. Agora esperar pelos netos..., quem sabe??. 

É isto aí!

Eu quero tudo!








Nunca tinha namorado e nem visto uma mulher nua e já estava com quase dezoito anos. Bom filho, exemplo na comunidade, muito religioso, excelente aluno do primeiro ano da faculdade de engenharia, honesto, dedicado e muito correto. Trazia consigo um amor proibido por uma mulher mais velha, casada com um vizinho residente no mesmo andar. 





Como a olhava demasiadamente apaixonado pelos cantos do condomínio, ela percebeu seu encantamento e tirava proveito da situação. Assim, explorava-o, mas fazia-se no âmbito social uma mulher sempre distante, admirável e um compêndio de perfeições físicas e morais. 





Ele aceitava e prontamente acatava suas ordens pela total submissão ocasionada por uma transposição do amor às relações sociais. Fazia mandados, ia no super-mercado, ao banco, e até eventualmente a acompanhava em lojas, desfiles e compras, quando ela propositalmente passava próximo à faculdade logo após as suas aulas. 





Quando estavam a sós, conversavam sobre tudo, e aí sempre provocava-o com roupas decotadas e curtas, batons carmim e perguntas cabulosas. O estado amoroso do rapaz era uma espécie de estado de graça que o transformara num nobre vassalo e ela era a intangível esposa do rei. Tratava-se, na sua concepção, de um amor puro, não adúltero. Sempre que alguém perguntava se tinha namorada, ruborizava e ocultava o objeto de seu desejo substituindo o nome dela pelo de uma mocinha qualquer.





Um dia o apanhou na porta da faculdade e dirigiram-se para um motel afastado, de alto luxo e enorme discrição. Ao chegarem, ficou mudo, em pânico, não sabia o que fazer nem o que falar. Custou a descer do carro, enquanto ela já adentrou no apartamento, ficando imediatamente nua, e deitada na enorme cama circular, pôs-se a esperá-lo. Entrou e deparou com aquela escultura natural, em pele de seda e sede de amor.





Estava ali, parado, encostado na parede, sem saber onde colocar os olhos, até que, num rompante de coragem, perguntou-lhe - o que você quer de mim? Com um malicioso sorriso em sua face alva e santa, ainda deitada, flexionou as pernas, abrindo-as em ângulo reto perfeito, estendeu-lhe os braços e sussurrou - eu quero tudo!





Imediatamente pegou o cardápio e começou a pedir à telefonista todas as comidas e bebidas que constavam nele. Pacientemente levantou-se enrolada no lençol, tomou o telefone das suas mãos suadas, pediu desculpas à mocinha, e segurando-o, conduziu-o delicadamente à poltrona, sentou-se, colocou-o no colo e foi acariciando-o e explicando a função de cada elemento do seu corpo. Ao final da explicação, ainda afagando os seus cabelos, foi que percebeu que ele havia dormido como uma criança protegida nos braços da mãe.





É isto aí!




* Gravura: God Speed — uma pintura de Edmund Blair Leighton de 1900: uma visão vitoriana tardia de uma senhora prestando um ato cortês a um cavaleiro prestes partir para batalha.

Eu quero tudo!

Nunca tinha namorado e nem visto uma mulher nua e já estava com quase dezoito anos. Bom filho, exemplo na comunidade, muito religioso, excelente aluno do primeiro ano da faculdade de engenharia, honesto, dedicado e muito correto. Trazia consigo um amor proibido por uma mulher mais velha, casada com um vizinho residente no mesmo andar. 

Como a olhava demasiadamente apaixonado pelos cantos do condomínio, ela percebeu seu encantamento e tirava proveito da situação. Assim, explorava-o, mas fazia-se no âmbito social uma mulher sempre distante, admirável e um compêndio de perfeições físicas e morais. 

Ele aceitava e prontamente acatava suas ordens pela total submissão ocasionada por uma transposição do amor às relações sociais. Fazia mandados, ia no super-mercado, ao banco, e até eventualmente a acompanhava em lojas, desfiles e compras, quando ela propositalmente passava próximo à faculdade logo após as suas aulas. 

Quando estavam a sós, conversavam sobre tudo, e aí sempre provocava-o com roupas decotadas e curtas, batons carmim e perguntas cabulosas. O estado amoroso do rapaz era uma espécie de estado de graça que o transformara num nobre vassalo e ela era a intangível esposa do rei. Tratava-se, na sua concepção, de um amor puro, não adúltero. Sempre que alguém perguntava se tinha namorada, ruborizava e ocultava o objeto de seu desejo substituindo o nome dela pelo de uma mocinha qualquer.

Um dia o apanhou na porta da faculdade e dirigiram-se para um motel afastado, de alto luxo e enorme discrição. Ao chegarem, ficou mudo, em pânico, não sabia o que fazer nem o que falar. Custou a descer do carro, enquanto ela já adentrou no apartamento, ficando imediatamente nua, e deitada na enorme cama circular, pôs-se a esperá-lo. Entrou e deparou com aquela escultura natural, em pele de seda e sede de amor.

Estava ali, parado, encostado na parede, sem saber onde colocar os olhos, até que, num rompante de coragem, perguntou-lhe - o que você quer de mim? Com um malicioso sorriso em sua face alva e santa, ainda deitada, flexionou as pernas, abrindo-as em ângulo reto perfeito, estendeu-lhe os braços e sussurrou - eu quero tudo!

Imediatamente pegou o cardápio e começou a pedir à telefonista todas as comidas e bebidas que constavam nele. Pacientemente levantou-se enrolada no lençol, tomou o telefone das suas mãos suadas, pediu desculpas à mocinha, e segurando-o, conduziu-o delicadamente à poltrona, sentou-se, colocou-o no colo e foi acariciando-o e explicando a função de cada elemento do seu corpo. Ao final da explicação, ainda afagando os seus cabelos, foi que percebeu que ele havia dormido como uma criança protegida nos braços da mãe.

É isto aí!

* Gravura: God Speed — uma pintura de Edmund Blair Leighton de 1900: uma visão vitoriana tardia de uma senhora prestando um ato cortês a um cavaleiro prestes partir para batalha.

terça-feira, 10 de março de 2015

Como se desfazer das conexões cósmicas

Aline, eu te amo.

Adolfo, para com isto, eu não te amo.

Então você me odeia?

Não, Adolfo, claro que não. Eu apenas não te amo.

Mas e o nosso passado? Não significou nada?

Olha Adolfo, eu não tenho vergonha do nosso passado, mas não tenho interesse que isto seja base para o meu futuro.

Mas Aline, existe uma conexão cósmica divina e mística entre meu amor e sua vida.

Adolfo, sou psicanalisada, realizada, estudada, formada e pós-graduada em teses baratas.

Então você aceita ponderações, desde que sejam com personalidade, independente de serem verdadeiras..

Não foi isto que eu disse.

Como não disse? Subjugou meu sentimento e destruiu minhas expectativas. Olha só, Aline, o destino nos uniu. Não há outra explicação para tanto amor. Eu tenho você em cada existencia física e espiritual que há em mim.

Adolfo, você não me ama, você tem obsessão. E isto não tem nada a ver com destino.

Mas, Aline, não existem coincidências no universo. O acaso nos uniu por um motivo.

Só se foi para me ver sofrer por ter você me incomodando, Adolfo.

Nossa, como você é má.

Eu não sou má, mas o fato é que não te amo. Qual é a sua dúvida?

Só uma. Se eu pudesse voltar ao passado, o que eu teria que fazer para que você ficasse feliz?

Fácil - era só não ter ido àquele maldito baile.

Eu te odeio, Aline!

É isto aí!

Odete e a antítese nelsonrodrigueana

Tentei falar com Odete ontem, mas ela nunca está e nunca pode ser encontrada, pois segundo seus princípios, é ela a caçadora. Diz a lenda que de certa feita, um renomado psicanalista à margem do Paranoá tentou demovê-la deste sentimento e foi de tal maneira ineficaz que virou sua crença e seus instintos passando a se deixar seguir por Odete pelos labirintos de Brasília. Mas isto é outra história.

Nesta terça-feira, cinco horas da manhã, eis que meu analógico Nokia toca seu indefectível soar e pela janela de luz do compartimento de comunicação vejo reluzir o nome da minha deusa do planalto central.

- Odete, que surpresa agradável!

- Olá, amore, você me queria ontem e agora está surpreso?

- Não, é que ficamos tanto tempo sem contato, daí a saudade, e sobretudo a sua ausência em mim.

- Uau, adoro sua performance romântica.

- Mas, o que conta de Brasília, querida?

- Então, amore, como sabe minhas fontes são sempre fidedignas. Dia destes, em discreta garçoniére, acompanhada de pessoas da mais fina corte, escutei de Carminha, esposa de um valete do congresso, que atende um importante assessor de poderosa comissão, que  ouviu de uma eminência furta-cor destas que vagueiam na sombra, que nem toda nudez será castigada.

- Pelas barbas do profeta, Odete, isto é muito enigmático. Um drama de purificação nelsonrodrigueano às avessas seria a redenção da sociedade da casa grande, mas exigiria um auto-flagelo a que custo? E os antagonistas da cacica, parlatórios em estado bruto, movidos por um rancor desmedido e que arquitetam sua vingança? Como isto termina?

- Nossa, querido, como você é bobinho, enquanto os paneleiros de grife esperam que a hipocrisia dê uma trégua em suas vidas elitizadas, limpinhas e assépticas, seus modernos heróis de terninho siciliano vão entrando num jogo sem volta de pretensa dominação e humilhação. A questão é que, como foi escrito, verão que os filhos da mãe gentil não fogem à luta e que não são imbecilizados como querem fazer notar no jornal do bonder  

- Então quer dizer que o tio suquita do Leblon...

- Alto lá, querido, não falei nada, e aproveita que é baixa temporada e vem me ter em Brasília, amore...

- Humm, não sei, ir em Brasília, mas espera, acho que vou... alô.. alô... caramba, minha linha caiu feito promessa de oposição.

É isto aí!

segunda-feira, 9 de março de 2015

Férias no front

Este blogueiro que escreve esteve ausente por motivos de força maior. Mas voltarei, aliás, voltei, aliás, nunca sai, apenas ausentei, aliás, caramba - que sujeito chato - para de se desculpar e manda ver. Só mais um pouco e meus queridos e fiéis leitores (sim, existem) poderão passear pelas novidades da Pitangueira.

Enquanto isto a turma do Frying Pan com Caviar excitou-se em movimento frenético contra a nossa presidenta, enquanto por outro lado (outro lado da Frying Pan, onde as coisas esquentam por debaixo do pano), os outros dois presidentes da casa baixa e da casa alta da do poder legislativo são poupados. Como a Pitangueira é um reino monocrático e imperialista em causa própria, estes exemplos são recebidos aqui com certo desdém. Enfim, não basta ser da nobreza Tupy Frying Pan, tem que bater a sobra do caviar nas janelas da Vieira Souto.

Vou ligar para Odete e me atualizar. Valeu!

É isto aí!

domingo, 1 de março de 2015

A primeira vez












A primeira vez




O hiato passional












Estou consciente, mas não consigo ver nem falar nada. Acho que estou no hospital, pois lembro de estar em casa e tudo escureceu. Escuto vozes sussurradas e som de aparelhos médicos. Não tenho medo, nem sequer estou desesperado. Passei pela vida com méritos e vitórias.

E tem na memória uma moça que navega silenciosamente entre o real e o imaginário, acelera o passo e percorre com uma delicadeza inconfundível a borda externa da minha espaçonave neuro-sensorial. Não tenho dúvidas de que a conheço. É ela, o grande amor da minha vida. Linda, tímida, meiga, inteligente e apaixonante.

Enamoramos na faculdade, impregnou-se na minha alma e por estas coisas inexplicáveis, perdemos um do outro no meio da multidão aflita pela vida adulta. Naquele dia a fitei nos olhos, triste, e ao largar minha mão, no meio da tempestade, gritou que me amava, e a turba do destino nos afastou. Casei, tive filhos e netos, venci a batalha e guardei o amor. Agora volta, com uma candura tão docemente saborosa que não me faz querer perde-la outra vez..

Sabe quando você sonha e depois deseja muito alguma e a alcança? Isto é fantástico, pois dá sentido à vida. Mas entre o ponto de partida e a conquista, milhões de coisas aconteceram, houve choros e lágrimas, sorrisos, gargalhadas, dores, frustrações, brigas, discussões, vitórias, derrotas, e tantos outros fatos que em determinados dias você até esquece daquele sentimento, que fica guardado em algum lugar da memória. Este espaço atemporal entre o desejo e a conquista é o hiato passional.

É ele, o hiato passional, é que dá o real sentido a tudo e o doce sabor da conquista. Agora ela está aqui, saiu de dentro de mim depois destes anos todos, de toda uma vida e transborda nos meus sonhos. Esta página se fecha aqui e agora se abre outra.

É isto aí!