sábado, 29 de novembro de 2014

Vende-se um ano velho






Enquanto isto, na seção de Classificados do único jornal da cidade:





Vende-se pela melhor oferta um Ano semi-novo, em bom estado de conservação. Aos interessados favor contactar no email fulanodetal@tal.com





- Prezado Sr. Fulano, li seu anúncio na seção de classificados. Gostei. Vem com acessórios? Doméstica de Luxo.





- Prezada Sra. Doméstica de Luxo, ele tem alguns pequenos reparos, lágrimas aqui, sorrisos ali, mágoas acolá, alegrias intensas e saudades eternas poderão ser removidas.





- Prezado Sr. Fulano, não comentou sobre amores perdidos, TPM, enxaquecas, idas ao ginecologista. Estes itens já vêem de série?





- Minha cara Doméstica de Luxo, como pode ter notado, sou do sexo masculino.





- Fulano, eu sei, mas queria saber se neste ano que você está comercializando tem estes itens.





- Querida Doméstica de Luxo, não tem. Os acessórios são apenas aqueles que já citei.





- Senhor Fulano, entendi, mas queria fazer só mais uma pergunta, se não se importa, mas é de ordem estritamente pessoal sobre o ano que está vendendo. Tem algum motivo particular?





- Simpática Doméstica - sim, foi um ano difícil, muito doloroso, de maneira que quero me desfazer dele bem depressa.





- Prezado Fulano, você ainda não disse o motivo, que seria de grande ajuda na nossa negociação, e poderá aumentar o preço final de acordo com a sua resposta.





- Dona Doméstica, a verdade é que no meio deste ano minha esposa partiu com uma pessoa, numa jornada de aventuras a dois, sem volta. Assim quero excluir este período da minha vida e quem comprar levará minha dor.





- Fulano, eu tenho uma proposta melhor - você teve uns seis meses de felicidade, eu tive outros seis meses até que meu marido faleceu. Que tal ficarmos dividindo estas nossas boas experiências com saldo de boas lembranças?





- Sério?





- Sim, sério?





E viveram felizes para...não sei, não sabem, até que o outro ano vença.





É isto aí!




Vende-se um ano velho

Enquanto isto, na seção de Classificados do único jornal da cidade:

Vende-se pela melhor oferta um Ano semi-novo, em bom estado de conservação. Aos interessados favor contactar no email fulanodetal@tal.com

- Prezado Sr. Fulano, li seu anúncio na seção de classificados. Gostei. Vem com acessórios? Doméstica de Luxo.

- Prezada Sra. Doméstica de Luxo, ele tem alguns pequenos reparos, lágrimas aqui, sorrisos ali, mágoas acolá, alegrias intensas e saudades eternas poderão ser removidas.

- Prezado Sr. Fulano, não comentou sobre amores perdidos, TPM, enxaquecas, idas ao ginecologista. Estes itens já vêem de série?

- Minha cara Doméstica de Luxo, como pode ter notado, sou do sexo masculino.

- Fulano, eu sei, mas queria saber se neste ano que você está comercializando tem estes itens.

- Querida Doméstica de Luxo, não tem. Os acessórios são apenas aqueles que já citei.

- Senhor Fulano, entendi, mas queria fazer só mais uma pergunta, se não se importa, mas é de ordem estritamente pessoal sobre o ano que está vendendo. Tem algum motivo particular?

- Simpática Doméstica - sim, foi um ano difícil, muito doloroso, de maneira que quero me desfazer dele bem depressa.

- Prezado Fulano, você ainda não disse o motivo, que seria de grande ajuda na nossa negociação, e poderá aumentar o preço final de acordo com a sua resposta.

- Dona Doméstica, a verdade é que no meio deste ano minha esposa partiu com uma pessoa, numa jornada de aventuras a dois, sem volta. Assim quero excluir este período da minha vida e quem comprar levará minha dor.

- Fulano, eu tenho uma proposta melhor - você teve uns seis meses de felicidade, eu tive outros seis meses até que meu marido faleceu. Que tal ficarmos dividindo estas nossas boas experiências com saldo de boas lembranças?

- Sério?

- Sim, sério?

E viveram felizes para...não sei, não sabem, até que o outro ano vença.

É isto aí!

Lua de mel




Acordei estranho naquele dia. Cabeça doendo, corpo todo dolorido, um gosto horrível na boca. Tive a impressão de que a cama estava diferente e ao tentar espreguiçar, deparei com um corpo feminino ao meu lado. Fui levantando quase escorregando, e já de pé puxei devagar a coberta. Uma moça abriu seus olhos e mirou nos meus. 





Ficamos assim alguns longos e irritantes segundos, um olhando nos olhos do outro, buscando entender o que estava acontecendo. Só então percebi que estava nu, e ao olhar em volta não vi minha roupa.





Voltei os olhos à moça procurando uma resposta e de repente minha memória denuncia que não estou no meu quarto. Comecei a ficar preocupado, pois não lembrava de ter saído de casa.





A porta abriu de súbito e uma mulher gorda elegante entrou em silêncio com uma bandeja cheia de frutas, pães, chá e café. Da forma que entrou, saiu, e quando voltei os olhos à cama, não havia mais ninguém lá. Procurei nos cantos, no chão, abri o guarda-roupa e nada. Enrolei no lençol e ao tocar a maçaneta descubro que a porta está trancada.





Com uma sonolência inexplicável, deito na espera de tudo ser parte de um sonho. Acordo com a mulher gorda elegante, nua, abraçada em mim. Tento levantar mas ela impede e experimentamos uma longa performance sexual. Ao fim, exausta, adormece e aí levantei rápido, fui direto à porta - estava aberta. Saí num corredor escuro, dando numa sala iluminada, exalando um fantástico cheiro de comida.





Com fome, aproximei e vi uma mesa repleta de uma saborosa ceia, e ao sentar um mordomo com vestes britânicas vitorianas, longilíneo, surgiu de algum lugar inesperado, e começou a servir-me em silêncio. Ao colocar o guardanapo sobre a perna, percebi que ainda estava nu, mas a fome foi maior que este detalhe. 





Ao término, aquela mocinha entrou na sala, vestida de um provocante tubinho preto, e com um sorriso enigmático sinalizou com o dedo indicador uma porta, à qual abri. Entrei e era um quarto onde estavam minhas roupas. Ela entrou atrás, passou por mim e abriu outra  porta, mostrando um banheiro. Daí, voltou-se, beijou-me em frenesi e mergulhamos numa inesquecível aventura carnal. Entrei para o banho e quando já estava pronto, a gorda elegante abriu a porta, e com o aceno chamou-me para sair. Levou-me até a saída daquela casa.





Ao perceber que estava na rua, fiz sinal para um táxi, para outro, para outro e já cansado daquilo, segui a pé até chegar em algum lugar que me desse referência de onde estava.Não havia ninguém na rua. Enquanto caminhava, um cadillac preto, de vidros escuros parou ao meu lado e a porta de trás abriu. Aceitei a carona, mas não consegui ver o motorista. Acho que cochilei, não sei, demorou muito até chegar na porta do meu prédio.





Desci e o carro arrancou depressa. Estava tudo normal, a rua, a portaria, as pessoas da área e até o seu Joaquim era real e entregou as correspondências normais. Em casa sempre é mais seguro, pensei, enquanto subia os doze andares pelo lento elevador. Vou dormir e amanhã penso nisto tudo.





Ao entrar no apartamento, a moça desconhecida estava sentada na minha poltrona preferida, ao lado do meu trompete, enrolada em uma toalha azul e outra nos cabelos, com um olhar perdido e uma garrafa de vinho vazia no parapeito da janela. Ao seu lado uma bolsa de viagem com indicativo que veio para ficar.





É isto aí!







Lua de mel

Acordei estranho naquele dia. Cabeça doendo, corpo todo dolorido, um gosto horrível na boca. Tive a impressão de que a cama estava diferente e ao tentar espreguiçar, deparei com um corpo feminino ao meu lado. Fui levantando quase escorregando, e já de pé puxei devagar a coberta. Uma moça abriu seus olhos e mirou nos meus. 

Ficamos assim alguns longos e irritantes segundos, um olhando nos olhos do outro, buscando entender o que estava acontecendo. Só então percebi que estava nu, e ao olhar em volta não vi minha roupa.

Voltei os olhos à moça procurando uma resposta e de repente minha memória denuncia que não estou no meu quarto. Comecei a ficar preocupado, pois não lembrava de ter saído de casa.

A porta abriu de súbito e uma mulher gorda elegante entrou em silêncio com uma bandeja cheia de frutas, pães, chá e café. Da forma que entrou, saiu, e quando voltei os olhos à cama, não havia mais ninguém lá. Procurei nos cantos, no chão, abri o guarda-roupa e nada. Enrolei no lençol e ao tocar a maçaneta descubro que a porta está trancada.

Com uma sonolência inexplicável, deito na espera de tudo ser parte de um sonho. Acordo com a mulher gorda elegante, nua, abraçada em mim. Tento levantar mas ela impede e experimentamos uma longa performance sexual. Ao fim, exausta, adormece e aí levantei rápido, fui direto à porta - estava aberta. Saí num corredor escuro, dando numa sala iluminada, exalando um fantástico cheiro de comida.

Com fome, aproximei e vi uma mesa repleta de uma saborosa ceia, e ao sentar um mordomo com vestes britânicas vitorianas, longilíneo, surgiu de algum lugar inesperado, e começou a servir-me em silêncio. Ao colocar o guardanapo sobre a perna, percebi que ainda estava nu, mas a fome foi maior que este detalhe. 

Ao término, aquela mocinha entrou na sala, vestida de um provocante tubinho preto, e com um sorriso enigmático sinalizou com o dedo indicador uma porta, à qual abri. Entrei e era um quarto onde estavam minhas roupas. Ela entrou atrás, passou por mim e abriu outra  porta, mostrando um banheiro. Daí, voltou-se, beijou-me em frenesi e mergulhamos numa inesquecível aventura carnal. Entrei para o banho e quando já estava pronto, a gorda elegante abriu a porta, e com o aceno chamou-me para sair. Levou-me até a saída daquela casa.

Ao perceber que estava na rua, fiz sinal para um táxi, para outro, para outro e já cansado daquilo, segui a pé até chegar em algum lugar que me desse referência de onde estava.Não havia ninguém na rua. Enquanto caminhava, um cadillac preto, de vidros escuros parou ao meu lado e a porta de trás abriu. Aceitei a carona, mas não consegui ver o motorista. Acho que cochilei, não sei, demorou muito até chegar na porta do meu prédio.

Desci e o carro arrancou depressa. Estava tudo normal, a rua, a portaria, as pessoas da área e até o seu Joaquim era real e entregou as correspondências normais. Em casa sempre é mais seguro, pensei, enquanto subia os doze andares pelo lento elevador. Vou dormir e amanhã penso nisto tudo.

Ao entrar no apartamento, a moça desconhecida estava sentada na minha poltrona preferida, ao lado do meu trompete, enrolada em uma toalha azul e outra nos cabelos, com um olhar perdido e uma garrafa de vinho vazia no parapeito da janela. Ao seu lado uma bolsa de viagem com indicativo que veio para ficar.

É isto aí!


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Homem não chora








Estávamos passeando na casa da vovó nas férias, as primeiras sem o vovô. Meu pai saiu cedo para comprar algumas coisas para a ceia de natal. Ao regressar, encontrou-me encolhido e triste, acabrunhado e solitário, escondido num canto da garagem.








Ainda do carro, trocamos um sentimento mútuo de tristeza. Ele entendia meus olhares. Desceu em silêncio e foi aproximando bem devagar. Eu já não olhava mais para ele. 









Afagou levemente meus cabelos e perguntou:




- O que aconteceu? Estava tão alegre quando saí.




- Pai, é verdade que homem não chora?




- Antes de responder posso saber o motivo da sua pergunta?




- É que eu senti uma saudade tão grande do vovô quando fui brincar com algumas coisas que ele me ensinou, que comecei a chorar, aí a vovó chegou perto de mim e do nada falou - mas o que é isto? Sabia que homem não chora?









Papai não disse nada - me pegou no colo em abraço e choramos sozinhos até passar a vontade de chorar.






É isto aí!


Homem não chora


Estávamos passeando na casa da vovó nas férias, as primeiras sem o vovô. Meu pai saiu cedo para comprar algumas coisas para a ceia de natal. Ao regressar, encontrou-me encolhido e triste, acabrunhado e solitário, escondido num canto da garagem.

Ainda do carro, trocamos um sentimento mútuo de tristeza. Ele entendia meus olhares. Desceu em silêncio e foi aproximando bem devagar. Eu já não olhava mais para ele. 

Afagou levemente meus cabelos e perguntou:
- O que aconteceu? Estava tão alegre quando saí.
- Pai, é verdade que homem não chora?
- Antes de responder posso saber o motivo da sua pergunta?
- É que eu senti uma saudade tão grande do vovô quando fui brincar com algumas coisas que ele me ensinou, que comecei a chorar, aí a vovó chegou perto de mim e do nada falou - mas o que é isto? Sabia que homem não chora?

Papai não disse nada - me pegou no colo em abraço e choramos sozinhos até passar a vontade de chorar.

É isto aí!

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Eu já estive do lado de lá






Pietà - Käthe Kollwitz - Berlin, 


Unter den Linden, Neue Wache 




Alto lá - este texto não é meu

Copiei e colei 

Autora - Luciana Duarte




Luciana Duarte conta aqui uma história real - a sua história. Eu a conheço há muitos anos e sempre que leio este texto, no contexto em que se deu a dor, cresço. Este episódio foi há algum tempo. Depois ela teve uma filha lindíssima, igual a ela mesma, que curte, abraça, beija, e ama como devem ser amadas as crianças. É um registro anterior a esta nova vida. É uma aula. É uma lição de força e fé. Vou parar de escrever para que você possa ler também:




Já fiz parte do grande número de famílias que moram na outra
margem deste rio, belo e misterioso, que é o trilho que percorremos neste
mundo. São pais, mães e filhos, que tem a felicidade de poderem se abraçar
todos os dias, de partilharem suas emoções e sonhos. Naquele tempo, eu
vivia com a tranqüilidade de uma pessoa adulta, pouco dada ao pessimismo e
possuidora da maturidade própria para enfrentar e ultrapassar os obstáculos que
apareciam pelo caminho.







Quando ouvia falar
de pais a quem a morte havia roubado um filho, eu sentia um grande pesar,
ficava tristemente impressionada e tornava-me solidária com a sua dor. Ao meu
jeito, tentava lhes levar algum conforto. Era sensível à sua mágoa, era amiga,
enfim, acreditava que compreendia e conseguia consolar. Mas, depois de algum
tempo, voltava à normalidade dos meus dias, às solicitações que a minha vida me
impunha e, mesmo sem perceber, ia aos poucos ficando alheia da tragédia desses
pais. 





Talvez pensando que respeitava o silêncio da sua dor ou achando que o
tempo, ao passar, poderia fazer mais por eles do que eu. Pressentia até que não
queriam ser perturbados e que impunham, mesmo, um afastamento.   Mas chegou o dia em
que a minha vida mudou.







 O MEU filho morreu.





Passei, então, para
este Lado. Para a margem do Rio onde vive uma multidão de pais e mães, feridos,
destroçados, com corações pra sempre mutilados. Casas onde há um lugar vazio,
onde se chora a partida, sem retorno, de um filho querido.   Inconsolável, achava
que nada mais poderia me aliviar. Sentia que muitas pessoas se afastavam,
fartas das minhas lágrimas e do meu sofrimento. As palavras que me eram
dirigidas me feriam ainda mais, não tinham qualquer sentido e não conseguiam me
consolar.







Cansada de sofrer,
comecei por construir barreiras protetoras que me defendessem. Não queria mais
sofrimento, não queria mais ser magoada e sabia que era difícil que alguém
entendesse a luta que se travava no meu íntimo, no meu coração e na minha alma.





A morte do meu filho
projetou-me para um poço escuro e tornei-me distante, inacessível, fechada para
o mundo. Achava que amigos, conhecidos, colegas e até alguns familiares, se
distanciavam de mim. Não falavam do meu filho, e percebia que havia um certo
embaraço quando nos encontrávamos. A cruz era minha e
eu via os dias a amanhecer, uns atrás dos outros, sem que o meu tormento se
atenuasse. Dias, semanas, meses passavam e ninguém me compreendia.







 Mas algo foi se
operando em mim e se ajeitando aos poucos em meu coração. Comecei a aceitar a
minha perda e assim dar espaço a mim mesma para chorar e me libertar da culpa,
da revolta e da angústia que me sufocava. Repensei a minha vida e percebi que a
análise que passei a fazer da morte - sobretudo da morte de um filho - era
bem diferente daquela que eu teria feito quando vivia na Outra Margem do Rio,
quando desconhecia totalmente a profundidade e dimensão desta dor. Compreendi que só
quando uma parte de nós morre, é que nos sentimos almas gêmeas de outros pais a
quem aconteceu o mesmo. 





Antes, eu também não
tinha capacidade para compreender e ficar ao lado, infinitamente, daqueles a
quem a morte tinha mutilado. Hoje, já vejo com
clareza que o abandono que senti por parte de pessoas que se movimentavam no
meu mundo, só teve como causa o mistério que a morte encerra e o quanto é
doloroso falar dela. E, quando se trata de um filho, apenas quem está muito
chegado a nós ou alguém que já entrou na mesma estrada de luto, pode nos compreender
verdadeiramente. Isto é humano. Hoje entendo... hoje compreendo que não era
insensibilidade das pessoas...







Eu, que vivo hoje
deste Lado, não posso me esquecer que já estive antes na Outra Margem. E como
agi naquele tempo com os Outros a quem tinha morrido um filho? Talvez da mesma
forma que hoje agem comigo. Agora eu sei qual o
modo como poderia ter sido ajudada. Quais as palavras que não queria ter ouvido
e como desejava que me deixassem falar desse meu ser amado, que a morte tão
cedo ceifou. Queria,
desesperadamente, que me escutassem. Por isso, hoje, eu
sei como chegar aos que vivem tranquilamente na Outra Margem.





Assim, não me sinto
magoada ainda mais... Se eles não sabem como se dirigir a mim, se não sabem as
palavras certas, se não entendem meu comportamento... lembro-me que eu, um dia,
também já estive do Lado de Lá... e também desconhecia a magnitude desta dor.





É isto aí!


Eu já estive do lado de lá

Pietà - Käthe Kollwitz - Berlin, 
Unter den Linden, Neue Wache 
Alto lá - este texto não é meu
Copiei e colei 
Autora - Luciana Duarte

Luciana Duarte conta aqui uma história real - a sua história. Eu a conheço há muitos anos e sempre que leio este texto, no contexto em que se deu a dor, cresço. Este episódio foi há algum tempo. Depois ela teve uma filha lindíssima, igual a ela mesma, que curte, abraça, beija, e ama como devem ser amadas as crianças. É um registro anterior a esta nova vida. É uma aula. É uma lição de força e fé. Vou parar de escrever para que você possa ler também:

Já fiz parte do grande número de famílias que moram na outra margem deste rio, belo e misterioso, que é o trilho que percorremos neste mundo. São pais, mães e filhos, que tem a felicidade de poderem se abraçar todos os dias, de partilharem suas emoções e sonhos. Naquele tempo, eu vivia com a tranqüilidade de uma pessoa adulta, pouco dada ao pessimismo e possuidora da maturidade própria para enfrentar e ultrapassar os obstáculos que apareciam pelo caminho.

Quando ouvia falar de pais a quem a morte havia roubado um filho, eu sentia um grande pesar, ficava tristemente impressionada e tornava-me solidária com a sua dor. Ao meu jeito, tentava lhes levar algum conforto. Era sensível à sua mágoa, era amiga, enfim, acreditava que compreendia e conseguia consolar. Mas, depois de algum tempo, voltava à normalidade dos meus dias, às solicitações que a minha vida me impunha e, mesmo sem perceber, ia aos poucos ficando alheia da tragédia desses pais. 

Talvez pensando que respeitava o silêncio da sua dor ou achando que o tempo, ao passar, poderia fazer mais por eles do que eu. Pressentia até que não queriam ser perturbados e que impunham, mesmo, um afastamento.   Mas chegou o dia em que a minha vida mudou.

 O MEU filho morreu.

Passei, então, para este Lado. Para a margem do Rio onde vive uma multidão de pais e mães, feridos, destroçados, com corações pra sempre mutilados. Casas onde há um lugar vazio, onde se chora a partida, sem retorno, de um filho querido.   Inconsolável, achava que nada mais poderia me aliviar. Sentia que muitas pessoas se afastavam, fartas das minhas lágrimas e do meu sofrimento. As palavras que me eram dirigidas me feriam ainda mais, não tinham qualquer sentido e não conseguiam me consolar.

Cansada de sofrer, comecei por construir barreiras protetoras que me defendessem. Não queria mais sofrimento, não queria mais ser magoada e sabia que era difícil que alguém entendesse a luta que se travava no meu íntimo, no meu coração e na minha alma.

A morte do meu filho projetou-me para um poço escuro e tornei-me distante, inacessível, fechada para o mundo. Achava que amigos, conhecidos, colegas e até alguns familiares, se distanciavam de mim. Não falavam do meu filho, e percebia que havia um certo embaraço quando nos encontrávamos. A cruz era minha e eu via os dias a amanhecer, uns atrás dos outros, sem que o meu tormento se atenuasse. Dias, semanas, meses passavam e ninguém me compreendia.

 Mas algo foi se operando em mim e se ajeitando aos poucos em meu coração. Comecei a aceitar a minha perda e assim dar espaço a mim mesma para chorar e me libertar da culpa, da revolta e da angústia que me sufocava. Repensei a minha vida e percebi que a análise que passei a fazer da morte - sobretudo da morte de um filho - era bem diferente daquela que eu teria feito quando vivia na Outra Margem do Rio, quando desconhecia totalmente a profundidade e dimensão desta dor. Compreendi que só quando uma parte de nós morre, é que nos sentimos almas gêmeas de outros pais a quem aconteceu o mesmo. 

Antes, eu também não tinha capacidade para compreender e ficar ao lado, infinitamente, daqueles a quem a morte tinha mutilado. Hoje, já vejo com clareza que o abandono que senti por parte de pessoas que se movimentavam no meu mundo, só teve como causa o mistério que a morte encerra e o quanto é doloroso falar dela. E, quando se trata de um filho, apenas quem está muito chegado a nós ou alguém que já entrou na mesma estrada de luto, pode nos compreender verdadeiramente. Isto é humano. Hoje entendo... hoje compreendo que não era insensibilidade das pessoas...

Eu, que vivo hoje deste Lado, não posso me esquecer que já estive antes na Outra Margem. E como agi naquele tempo com os Outros a quem tinha morrido um filho? Talvez da mesma forma que hoje agem comigo. Agora eu sei qual o modo como poderia ter sido ajudada. Quais as palavras que não queria ter ouvido e como desejava que me deixassem falar desse meu ser amado, que a morte tão cedo ceifou. Queria, desesperadamente, que me escutassem. Por isso, hoje, eu sei como chegar aos que vivem tranquilamente na Outra Margem.

Assim, não me sinto magoada ainda mais... Se eles não sabem como se dirigir a mim, se não sabem as palavras certas, se não entendem meu comportamento... lembro-me que eu, um dia, também já estive do Lado de Lá... e também desconhecia a magnitude desta dor.

É isto aí!

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A secretária do Analista da Pitangueira








Estávamos só nós dois na recepção do consultório havia uma meia hora. Já  tinha visto aquela mulher umas duas ou três vezes ali, mas só de passagem, um chegando e o outro saindo. Nossos horários deviam bater em algumas sessões.





Desta vez ficamos sentados frente a frente. Examinei-a em todas as curvas. Olhei bem para seu corpo, pernas grossas interessantes, cabelo de um loiro intenso, maquiada para uma noite de festa de gala, decote generoso ofertando seios fartos, um sorriso enigmático e havia aquele olhar entre sedutor e fatal literalmente na minha direção.









A secretária gostosinha chegou à sala, olhou para mim que olhei para sua boca deliciosa e ao mesmo tempo na sainha justa que salientava seu corpinho de miss, deu o recado:




- Desculpe o atraso, isto não é comum. O analista nunca atrasa. Vou ligar para ele.









A mulher nem sequer olhou para ela. Me devorava com os olhos, a danada. Quinze minutos de silêncio intenso foram quebrados com uma pergunta dirigida à minha pessoa:





- Você já reparou que todas as pessoas que conhecemos morrem?





- Olhei para ela, inevitavelmente baixei os olhos para seus peitos e coxas, olhei de novo nos seus olhos e levantei a sobrancelha direita, abrindo as duas mãos em palmas indagando silenciosamente onde iria dar aquilo.





-  É sério. Os gatinhos, os cachorrinhos, os passarinhos, parentes, amiguinhos, amiguinhas, o desejo, todos morrem. Uns morrem de partida, outros morrem de chegada, uns morrem de vez, outros de desaparecimento.





- Aí percebi que era sério. Ela não estava brincando. Então resolvi entrar no diálogo mórbido - e como você encara estas situações de morte?





- Não sei, pode ser que eu esteja divagando ou pode ser que não. Um dia estarei morta? O que valeu a pena nesta vida? Por exemplo, até as paixões. Você pode apaixonar repentinamente por alguém e nunca falar nada, então é você quem morreu. Também pode acontecer de que um dia a gente amanhece e descobre que beijar uma pessoa para esquecer
outra é bobagem. Você não só não esquece a outra pessoa como pensa muito mais
nela. Então esta pessoa não morre, e se alguém me amar muito, eu também não morro; mas e aqueles beijos abrasivos em bocas soltas? Morreram todas aquelas bocas?









- Interessante esta sua teoria. Como você se chama?





- Eu me chamo de sua, se quiser...





- Entendo... 





- Bobinho, com certeza você já percebeu que nós mulheres temos um instinto caçador selvagem e fatal, que faz qualquer homem sofrer e sentir prazer nisto...





- É... muito interessante isto daí...





- Eu sei disto, como sei e você sabe que se apaixonar é inevitável; que as melhores provas de amor são as mais
simples; que o comum não atrai pessoas como eu e você...





- Nossa, você fala de um jeito...





- Eu quero mais que falar deste jeito com você, e sei que de bonzinho você não tem nada. Estamos aqui, neste turbilhão de pensamentos e barreiras, desconhecidos e carentes. Olha como você me olha. Olha como eu te olho. O que há de desconhecimento nisto?





- É... lembrei daquela frase famosa -  "Tu te tornas
eternamente responsável por aquilo que cativas..."









- Nossa, esta frase é ridícula - serve bem para cachorros, gatos, vacas, mas você não pode se tornar responsável pela devassidão de um amor louco, apaixonante. Não há responsáveis pelos danos e prazeres de uma colisão de desejos. Um novo amor não preenche a lacuna do anterior, apenas faz com que você se despeça dos seus mais terríveis pesadelos. Se um dia perceber como um grande amor te faz falta, lembre-se querido, que a falta de um grande amor é um buraco sem fundo, que deve ser deixada prá lá até ser coberta pela poeira do tempo.





Nisto, a secretária abre a porta e anuncia:


- O senhor pode entrar.





Mas e ela? Já estava aqui quando cheguei.





Ela? Quem é ela? Está aqui nesta sala?





Foi quando percebi que não havia ninguém lá... Olhei para o vazio, para a secretária, para o vazio, para a secretária... levantei e dei um beijo escandalosamente apetitoso na sua boca que eu desejava desde o primeiro dia. No primeiro momento ficou tensa, depois foi relaxando, relaxando, relaxando e quando pensei que estava gostando, deu-me um joelhaço em sentido ascendente, na velocidade da luz, com força de alguns megatons. Expressei um gemido abafado e ao dobrar os joelhos em dor profunda, ela, de mãos espalmadas, aplicou-me uma impactante compressão nos dois ouvidos, que acelerou minha queda e provocou vômito.



Fiquei algum tempo desacordado, que não sei precisar. Ao abrir os olhos a secretária não estava mais na sala. Deparei com a loira e seu sorriso fúnebre a lançar-me profundo olhar de lamento pela situação embaraçosa. Fui embora me sentindo o pior dos piores, o malvado, o tarado do consultório. Um potencial estuprador de secretárias. Fiquei desesperado, com medo dela gritar, chamar a polícia, sei lá...





Na sessão seguinte não fui, nem na outra, nem na outra e estava decidido a nunca mais voltar, mas diante da insistência do analista, acabei aceitando a ideia do retorno, então levei flores e chocolate para pedir desculpas. A recepção estava vazia. Aguardei sentado na poltrona por tensos e intermináveis minutos o aparecimento da moça.



Ela então abriu a porta de acesso à área de serviço, viu as flores, olhou para os chocolates finos, aproximou-se, encaixou sua coxa direita entre minhas pernas, acariciou meu rosto e com olhar de fúria, perguntou - Por quê você foi embora e não quis mais voltar?



Olhei para o lado e vi a loira de seios fartos acenando um lacônico adeus...





É isto aí!   













A secretária do Analista da Pitangueira


Estávamos só nós dois na recepção do consultório havia uma meia hora. Já  tinha visto aquela mulher umas duas ou três vezes ali, mas só de passagem, um chegando e o outro saindo. Nossos horários deviam bater em algumas sessões.

Desta vez ficamos sentados frente a frente. Examinei-a em todas as curvas. Olhei bem para seu corpo, pernas grossas interessantes, cabelo de um loiro intenso, maquiada para uma noite de festa de gala, decote generoso ofertando seios fartos, um sorriso enigmático e havia aquele olhar entre sedutor e fatal literalmente na minha direção.

A secretária gostosinha chegou à sala, olhou para mim que olhei para sua boca deliciosa e ao mesmo tempo na sainha justa que salientava seu corpinho de miss, deu o recado:
- Desculpe o atraso, isto não é comum. O analista nunca atrasa. Vou ligar para ele.

A mulher nem sequer olhou para ela. Me devorava com os olhos, a danada. Quinze minutos de silêncio intenso foram quebrados com uma pergunta dirigida à minha pessoa:

- Você já reparou que todas as pessoas que conhecemos morrem?

- Olhei para ela, inevitavelmente baixei os olhos para seus peitos e coxas, olhei de novo nos seus olhos e levantei a sobrancelha direita, abrindo as duas mãos em palmas indagando silenciosamente onde iria dar aquilo.

-  É sério. Os gatinhos, os cachorrinhos, os passarinhos, parentes, amiguinhos, amiguinhas, o desejo, todos morrem. Uns morrem de partida, outros morrem de chegada, uns morrem de vez, outros de desaparecimento.

- Aí percebi que era sério. Ela não estava brincando. Então resolvi entrar no diálogo mórbido - e como você encara estas situações de morte?

- Não sei, pode ser que eu esteja divagando ou pode ser que não. Um dia estarei morta? O que valeu a pena nesta vida? Por exemplo, até as paixões. Você pode apaixonar repentinamente por alguém e nunca falar nada, então é você quem morreu. Também pode acontecer de que um dia a gente amanhece e descobre que beijar uma pessoa para esquecer outra é bobagem. Você não só não esquece a outra pessoa como pensa muito mais nela. Então esta pessoa não morre, e se alguém me amar muito, eu também não morro; mas e aqueles beijos abrasivos em bocas soltas? Morreram todas aquelas bocas?

- Interessante esta sua teoria. Como você se chama?

- Eu me chamo de sua, se quiser...

- Entendo... 

- Bobinho, com certeza você já percebeu que nós mulheres temos um instinto caçador selvagem e fatal, que faz qualquer homem sofrer e sentir prazer nisto...

- É... muito interessante isto daí...

- Eu sei disto, como sei e você sabe que se apaixonar é inevitável; que as melhores provas de amor são as mais simples; que o comum não atrai pessoas como eu e você...

- Nossa, você fala de um jeito...

- Eu quero mais que falar deste jeito com você, e sei que de bonzinho você não tem nada. Estamos aqui, neste turbilhão de pensamentos e barreiras, desconhecidos e carentes. Olha como você me olha. Olha como eu te olho. O que há de desconhecimento nisto?

- É... lembrei daquela frase famosa -  "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas..."

- Nossa, esta frase é ridícula - serve bem para cachorros, gatos, vacas, mas você não pode se tornar responsável pela devassidão de um amor louco, apaixonante. Não há responsáveis pelos danos e prazeres de uma colisão de desejos. Um novo amor não preenche a lacuna do anterior, apenas faz com que você se despeça dos seus mais terríveis pesadelos. Se um dia perceber como um grande amor te faz falta, lembre-se querido, que a falta de um grande amor é um buraco sem fundo, que deve ser deixada prá lá até ser coberta pela poeira do tempo.

Nisto, a secretária abre a porta e anuncia:
- O senhor pode entrar.

Mas e ela? Já estava aqui quando cheguei.

Ela? Quem é ela? Está aqui nesta sala?

Foi quando percebi que não havia ninguém lá... Olhei para o vazio, para a secretária, para o vazio, para a secretária... levantei e dei um beijo escandalosamente apetitoso na sua boca que eu desejava desde o primeiro dia. No primeiro momento ficou tensa, depois foi relaxando, relaxando, relaxando e quando pensei que estava gostando, deu-me um joelhaço em sentido ascendente, na velocidade da luz, com força de alguns megatons. Expressei um gemido abafado e ao dobrar os joelhos em dor profunda, ela, de mãos espalmadas, aplicou-me uma impactante compressão nos dois ouvidos, que acelerou minha queda e provocou vômito.

Fiquei algum tempo desacordado, que não sei precisar. Ao abrir os olhos a secretária não estava mais na sala. Deparei com a loira e seu sorriso fúnebre a lançar-me profundo olhar de lamento pela situação embaraçosa. Fui embora me sentindo o pior dos piores, o malvado, o tarado do consultório. Um potencial estuprador de secretárias. Fiquei desesperado, com medo dela gritar, chamar a polícia, sei lá...

Na sessão seguinte não fui, nem na outra, nem na outra e estava decidido a nunca mais voltar, mas diante da insistência do analista, acabei aceitando a ideia do retorno, então levei flores e chocolate para pedir desculpas. A recepção estava vazia. Aguardei sentado na poltrona por tensos e intermináveis minutos o aparecimento da moça.

Ela então abriu a porta de acesso à área de serviço, viu as flores, olhou para os chocolates finos, aproximou-se, encaixou sua coxa direita entre minhas pernas, acariciou meu rosto e com olhar de fúria, perguntou - Por quê você foi embora e não quis mais voltar?

Olhei para o lado e vi a loira de seios fartos acenando um lacônico adeus...

É isto aí!   


domingo, 16 de novembro de 2014

Mestre Joãozinho, os astros e Carlinhos









Mestre Joãozinho, eu vim pedir sua proteção e reza para que eu case com o Carlinhos.









Qual o seu nome, minha filha?









Cleuza, mas todo mundo me chama de Zazá.









Muito bem, Zazá. E este Carlinhos, quem é?









É o rapaz mais bonito da vila, o mais inteligente, o mais forte. É simpático, calmo, compreensivo e é o grande amor da minha vida.









E este moço é da cidade, Zazá?









Olha Mestre, nascido e criado aqui, às vezes o senhor até conhece. Ele é filho do seu Carlos da padaria.









Eu vou tomar minhas providências e consultar os astros, viu minha filha? Quarta-feira você volta que a gente termina esta prosa. Vai com Deus,viu minha filha, vai com Deus.









Mestre Joãozinho, eu quero o Carlinhos no altar comigo.









Como você chama, minha filha?









Elize, mas todo mundo me chama de Lili.









Então, Lili, fale um pouco deste Carlinhos.









Maravilhoso, bonito, trabalhador, honesto, decente, educado, respeitador e o pai dele é o dono da padaria.









Eu vou tomar minhas providências e consultar os astros, viu minha filha? Quarta-feira você volta que a gente termina esta prosa. Vai com Deus,viu minha filha, vai com Deus.









Mestre Joãozinho, eu preciso que o senhor me ajude a casar com o Carlinhos.









Qual o seu nome, mocinha?









Maria das Graças, mas pode me chamar de Gal.









Pois é, Gal, o que você tem para dizer deste Carlinhos.









Nossa, Mestre Joãozinho. Educado, elegante, inteligente, honesto, bonito, e o pai dele é dono da padaria.









Eu vou tomar minhas providências e consultar os astros, viu minha filha? Quarta-feira você volta que a gente termina esta prosa. Vai com Deus,viu minha filha, vai com Deus.









Mestre Joãozinho levanta, bate palma e fala para todos os presentes: por hoje acabou, peço a compreensão de vocês, mas tenho um assunto urgente com o futuro. Os astros pedem uma reflexão e preciso fazê-la.









Todo mundo toma a benção e parte para seu mundo.









Sozinho, Mestre Joãozinho pega o celular e liga para a esposa:




- Zefa, como é mesmo o nome daquele menino que está rodeando a nossa filha, a Carminha, e que não se aproximou ainda com medo?









- Já te falei Joãozinho, é o Carlinhos da padaria.









- Pois pode mandar ela convidar urgente o moço para almoçar lá em casa, por que é menino bom, de referencia prá casar. E pode amarrar ele com aquela simpatia do palito de dente na vela,  por que este não é partido que se jogue fora, ouviu Zefa - não podemos perder não.









Quem te disse isto, Joãozinho?









Como assim, Zefa? Foram os astros, mulher... foram os astros...









É isto aí!



Mestre Joãozinho, os astros e Carlinhos


Mestre Joãozinho, eu vim pedir sua proteção e reza para que eu case com o Carlinhos.

Qual o seu nome, minha filha?

Cleuza, mas todo mundo me chama de Zazá.

Muito bem, Zazá. E este Carlinhos, quem é?

É o rapaz mais bonito da vila, o mais inteligente, o mais forte. É simpático, calmo, compreensivo e é o grande amor da minha vida.

E este moço é da cidade, Zazá?

Olha Mestre, nascido e criado aqui, às vezes o senhor até conhece. Ele é filho do seu Carlos da padaria.

Eu vou tomar minhas providências e consultar os astros, viu minha filha? Quarta-feira você volta que a gente termina esta prosa. Vai com Deus,viu minha filha, vai com Deus.

Mestre Joãozinho, eu quero o Carlinhos no altar comigo.

Como você chama, minha filha?

Elize, mas todo mundo me chama de Lili.

Então, Lili, fale um pouco deste Carlinhos.

Maravilhoso, bonito, trabalhador, honesto, decente, educado, respeitador e o pai dele é o dono da padaria.

Eu vou tomar minhas providências e consultar os astros, viu minha filha? Quarta-feira você volta que a gente termina esta prosa. Vai com Deus,viu minha filha, vai com Deus.

Mestre Joãozinho, eu preciso que o senhor me ajude a casar com o Carlinhos.

Qual o seu nome, mocinha?

Maria das Graças, mas pode me chamar de Gal.

Pois é, Gal, o que você tem para dizer deste Carlinhos.

Nossa, Mestre Joãozinho. Educado, elegante, inteligente, honesto, bonito, e o pai dele é dono da padaria.

Eu vou tomar minhas providências e consultar os astros, viu minha filha? Quarta-feira você volta que a gente termina esta prosa. Vai com Deus,viu minha filha, vai com Deus.

Mestre Joãozinho levanta, bate palma e fala para todos os presentes: por hoje acabou, peço a compreensão de vocês, mas tenho um assunto urgente com o futuro. Os astros pedem uma reflexão e preciso fazê-la.

Todo mundo toma a benção e parte para seu mundo.

Sozinho, Mestre Joãozinho pega o celular e liga para a esposa:
- Zefa, como é mesmo o nome daquele menino que está rodeando a nossa filha, a Carminha, e que não se aproximou ainda com medo?

- Já te falei Joãozinho, é o Carlinhos da padaria.

- Pois pode mandar ela convidar urgente o moço para almoçar lá em casa, por que é menino bom, de referencia prá casar. E pode amarrar ele com aquela simpatia do palito de dente na vela,  por que este não é partido que se jogue fora, ouviu Zefa - não podemos perder não.

Quem te disse isto, Joãozinho?

Como assim, Zefa? Foram os astros, mulher... foram os astros...

É isto aí!

sábado, 15 de novembro de 2014

Dicas poéticas e culinárias.

Atenção - este texto não é meu

Copiei e colei

Autora: Marta Godoi

Fonte: https://www.facebook.com/marta.siqueiradegodoisampaio/posts/567693300042944?fref=nf&pnref=story








Dicas poéticas e culinárias.


*Dê um susto na cenoura ralada no azeite quente com cebola picada, sal e alho. Ficará levemente adocicada e tenra.


*Acorde o orégano esfregando-o nas mãos para antes de salpicá-lo sobre a pizza. O perfume tomará conta da cozinha e da casa.


*Deixe a carne de porco ou frango descansar no tempero preferido. Com alecrim repousam como guerreiros.


*Prepare, tempere e deixe o frango inteiro dormir por uma noite. Depois, só assar. Durante o sono todos os pecados se vão.


*Quando os ovos estiverem dançando na vasilha escolhida (nas transparentes dão um show) por uns dez minutos estarão cozidos. Jogue-os com força na pia. O barulhinho é puro som! Faça cachoeira com água fria sobre eles. Não vingarão dos dedos ao descascar.


*Para o arroz ficar branquinho e saboroso, jamais frite o alho. Assim, a sua essência sairá durante o cozimento. Arroz filosófico. Assim o batizei.


*Se todo o milho de pipoca estiver vestido de noiva é só servir quente com guaraná gelado. Faltarão noivos para tantas noivas. Uvas passas combinarão?


*A temperatura exata para tomar cerveja é quando a garrafa estiver mais ruça do que canela de pedreiro. (ouvi isso de um cara politicamente incorreto mas poeticamente feliz )


*Para que a sobra arroz tenha cara nova, jamais sirva-o fazendo buraco no meio da panela. Os rejeitados se unirão encrespando a cara de raiva.


*Para comer feijão com arroz como se fosse príncipe/princesa cozinhe o feijão de véspera e arroz deve ser de vesperinha, mesmo!


*Quadradinhos de alcatra ou contra filé temperados apenas com sal grosso moído com pimenta do reino (em moedor de gourmet igual àqueles que aparecem em programas chiques na tv) e grelhados os dois lados em frigideira com um fio de óleo bem quente, ficam perfeitos e não precisa nem usar faca para saborear.


*Para comer maçã de peito sem culpa, cozinhe-a em peças médias com sal grosso mergulhadas na água. Depois jogue esse líquido malvado para bem longe de suas artérias e asse-as em forno quente com o seu preferido molho de tomate com manjericão (de preferência de sua hortinha aromática). Bora, cozinhar? Poetizar?






Dicas poéticas e culinárias.

Atenção - este texto não é meu
Copiei e colei
Autora: Marta Godoi
Fonte: https://www.facebook.com/marta.siqueiradegodoisampaio/posts/567693300042944?fref=nf&pnref=story


Dicas poéticas e culinárias.
*Dê um susto na cenoura ralada no azeite quente com cebola picada, sal e alho. Ficará levemente adocicada e tenra.
*Acorde o orégano esfregando-o nas mãos para antes de salpicá-lo sobre a pizza. O perfume tomará conta da cozinha e da casa.
*Deixe a carne de porco ou frango descansar no tempero preferido. Com alecrim repousam como guerreiros.
*Prepare, tempere e deixe o frango inteiro dormir por uma noite. Depois, só assar. Durante o sono todos os pecados se vão.
*Quando os ovos estiverem dançando na vasilha escolhida (nas transparentes dão um show) por uns dez minutos estarão cozidos. Jogue-os com força na pia. O barulhinho é puro som! Faça cachoeira com água fria sobre eles. Não vingarão dos dedos ao descascar.
*Para o arroz ficar branquinho e saboroso, jamais frite o alho. Assim, a sua essência sairá durante o cozimento. Arroz filosófico. Assim o batizei.
*Se todo o milho de pipoca estiver vestido de noiva é só servir quente com guaraná gelado. Faltarão noivos para tantas noivas. Uvas passas combinarão?
*A temperatura exata para tomar cerveja é quando a garrafa estiver mais ruça do que canela de pedreiro. (ouvi isso de um cara politicamente incorreto mas poeticamente feliz )
*Para que a sobra arroz tenha cara nova, jamais sirva-o fazendo buraco no meio da panela. Os rejeitados se unirão encrespando a cara de raiva.
*Para comer feijão com arroz como se fosse príncipe/princesa cozinhe o feijão de véspera e arroz deve ser de vesperinha, mesmo!
*Quadradinhos de alcatra ou contra filé temperados apenas com sal grosso moído com pimenta do reino (em moedor de gourmet igual àqueles que aparecem em programas chiques na tv) e grelhados os dois lados em frigideira com um fio de óleo bem quente, ficam perfeitos e não precisa nem usar faca para saborear.
*Para comer maçã de peito sem culpa, cozinhe-a em peças médias com sal grosso mergulhadas na água. Depois jogue esse líquido malvado para bem longe de suas artérias e asse-as em forno quente com o seu preferido molho de tomate com manjericão (de preferência de sua hortinha aromática). Bora, cozinhar? Poetizar?

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O Mago da Pitangueira e o sentido da vida em quatro atos










1° Ato - A Casta das Tríades





Naquela tarde de calor escaldante, dezenas de fieis se acotovelavam para ouvir uma resposta que resolvesse seus problemas. Como a procura pelo Mago da Pitangueira vinha aumentando em PG e as condições de atendimento cresciam em PA, resolveu burocratizar o acesso do povo ao seu trono da sabedoria.





Inicialmente criou uma casta que denominou de Casta das Tríades:





Casta da Tríade Receptiva - Hierarquia Telúrica


Casta da Tríade Intermediária - Hierarquia da Purificação


Casta da Tríade da Ascensão - Hierarquia Celestial





Sobre a Casta da Tríade Receptiva - Hierarquia Telúrica:

A Hierarquia Telúrica é responsável por receber o peregrino, anotar nomes, pegar telefones, e-mails, registrar a presença de personalidades ilustres e selecionar quem seria entrevistado no processo através de um mecanismo de seleção pelo primeiro impacto.





Se o peregrino conseguisse passar pela entrevista, convicto na sua aflição, um apenso com as documentações, foto, e recomendações eram encaminhadas ao Hierarca Telúrico que aplicava um questionário básico com nove perguntas de diferentes temas, para avaliar se poderia prosseguir para a Casta Intermediária, da Hierarquia da Purificação.





Os peregrinos desclassificados nesta primeira triagem, ganhavam uma foto autografada do Mago, uma rosa branca e um cartão de comparecimento, que poderia utilizar como vale-desconto em algumas lojas da região. Em seguida participavam de um culto ao Cosmos e às forças da natureza, e recebiam três pequenas cápsulas, contendo em seu interior mantras e orações de libertação e cura, que deveriam ser administradas na três próximas Luas Crescentes, sendo que a ordem obedeceria ao teor dos reclames.



Sobre a Casta da Tríade Intermediária - Hierarquia da Purificação




Os peregrinos aptos a seguir a caminhada subiam pela Rampa da Piedade, onde eram acolhidos pela Hierarquia da Purificação com flores, água de rosas e ungidos pelo óleo da sabedoria. Assistiam uma pregação em vídeo - "Caminhos do Mago" e preenchiam um formulário com dezoito perguntas. Os escolhidos seguiam para o Topo do Eremita, onde eram acolhidos pelo Hierarca da Purificação, que ciente das respostas, faz três perguntas aos candidatos, ressaltando que não existem respostas erradas, existem as completas e as incompletas - Quem é você, qual é o seu sonho e qual é a sua meta?



Os não-contemplados voltavam pela encosta até um descampado onde os esperavam os músicos da Hierarquia Telúrica, que entoavam mantras libertadores e motivacionais, acompanhados de Harpas, violinos e Chocalhos. Os peregrinos podiam ficar enquanto assim desejassem. Dali estavam livres para retornar às suas casas, aos seus entes queridos, trabalho, etc. e livres do pecado. Estavam todos já no Caminho da Luz, repetiam incessantemente os mantras.



Sobre a Casta da Tríade da Ascensão - Hierarquia Celestial



Os bem-aventurados subiam uma suave rampa em pedras bem calçadas, ladeada por flores das mais diversas formas, cores e espécies, até atingirem um Templo Simples, bem primitivo, feito com madeiras nobres, de conforto espartano. Ali eram atendidos pelos dez peregrinos eleitos da Casta da Ascensão, em fila. Os Peregrinos Eleitos estavam com vestes obedecendo ao espectro de luz celestial, numa representação das amplitudes ou intensidades das cores que nos comunicam a espiritualidade do criador.



Os Peregrinos Eleitos tinham Cinco Cartões representando os Elementos e Cinco Cartões representando as Cores.



Os cinco elementos são água, fogo, madeira, metal e terra,

As cinco cores são:  preto, vermelho, azul e verde (juntos), branco e amarelo.



Ao final do Rito de Passagem, entregam os Cartões ao Hierarca Celestial, que avalia as escolhas, pois elas refletem como alimentam o seu espírito e como expressam a profundidade da sua experiência humana.



Aqueles mais voltados para as coisas celestes, eram autorizados a prosseguir a aqueles mais voltados para as coisas terrenas deveriam retornar e refazer seu caminho espiritual.

   


2° Ato - A Casta das Sete Vestais da Ribeirinha





Ocorreu, com a criação da Casta das Tríades, que o movimento de peregrinos em busca de cura e libertação multiplicou-se. Filas imensas formavam-se na entrada do sítio, com o surgimento de camelôs, barracas de comidas, camisetas alusivas, lembranças, etc. provocando tensões na entrada principal. 





Para tentar otimizar o acolhimento dos peregrinos, o Mago, sob intervenção de forças cósmicas, criou uma segunda casta, que por iluminação celestial, denominou de Casta das Sete Vestais da Ribeirinha, Constituída por sete sacerdotisas virgens, responsáveis pela primeira recepção dos Romeiros.



Sobre os Guardiões da Ordem do Templo:



Dada a necessidade de identificar melhor o sofrimento, criou-se uma recepção de marcação de atendimento, com distribuição de fichas numeradas por ordem de chegada. Este serviço era feito pelos Guardiões da Ordem do Templo.



Sobre o Núcleo de Triagem das Noviças da Ribeirinha: 




Em seguida, as pessoas eram encaminhadas para um imenso salão espartano, com banheiros, chuveiro, água, um restaurante Self-service, mesas e cadeiras onde iam sendo chamados pelo serviço de alto-falantes para uma triagem.



A triagem realizada pelo Núcleo de Triagem das Noviças da Ribeirinha, que encaminhavam as pessoas para uma sete sub-divisões.identificava a dor da pessoa e aquelas de origem num dos sete pecados capitais era catalogada e a pessoa recebia um cartão com uma das sete cores do espectro e de dentro da sala de triagem, já saiam num salão idêntico ao anterior, mas com maior conforto.



Aqueles sem identificação dos reclames com os pecados capitais eram convidados a assistirem um vídeo - documentário sobre a Vida do Mago da Pitangueira, em seguida recebiam um cartão de agradecimento e as bençãos manifestadas e um diploma de Pessoas do Bem, assinadas digitalmente pelo próprio Mago.



Sobre o Núcleo da Casta das Sete Vestais da Ribeirinha:



Vestal da Ribeirinha Vermelha recebia os que estavam acometidos da Gula;

Vestal da Ribeirinha Laranja recebia os peregrinos presos à Avareza;

Vestal da Ribeirinha Amarela era responsável pelas vítimas da Luxúria;

Vestal da Ribeirinha Verde recebia os acometidos pela Ira;

Vestal da Ribeirinha Azul recebia os que sofrem pela Inveja

Vestal da Ribeirinha Roxa acolhia os que sofrem pela preguiça

Vestal da Ribeirinha Violeta atendia aos que sofrem pela Vaidade.





Cada uma tinha que escolher por dia apenas vinte peregrinos na sua dor promovida pelo Pecado Capital. A resposta era por meio digital, já com agendamento inadiável e intransferível. Deveriam comparecer na data marcada na Recepção dos Guardiões do Templo, que os encaminhariam à Casta das Tríades, com crachá e orientações internas.



Aqueles com sofrimento e desequilíbrio, mas capazes de decidir perante as circunstâncias que se apresentavam, manifestavam ali mesmo o reequilíbrio da sua vida por que, dizia o Mago, a boa deliberação, ou seja, uma boa reflexão a respeito de cada ação faz surgir uma responsabilidade social para colaborar com o projeto que o Grande Arquiteto propôs ao mundo.





3° Ato: A Casta do Priorado Cosmogonauta do Lavradio





Ocorreu naqueles tempos de organizações sociais livres impetrarem mandatos judiciais pelo bloqueio de seus clientes ao Mago da Pitangueira, visto que era personalidade pública, com vantagens fiscais e tributárias. 





Naquele tempo, em meditação profunda, a Voz Interior comunicou-lhe que os seres humanos possuem livre-arbítrio e são livres para pecar ou para praticar boas ações. Mas serão recompensados ou punidos na vida futura conforme a sua conduta. Escuta, Mago, age como gostarias que agissem contigo - concluiu a Voz Interior.





Percebeu que deveria promover uma terceira via, que não permitisse mais dúvidas sobre a lealdade dele para com seus seguidores e a verdade que propunha aos que nele conseguissem chegar.





Criou então a terceira casta, a superior, intermediária entre ele e o povo - A Casta do Priorado Cosmogonauta do Lavradio.



Sobre a Casta do Priorado Cosmogonauta do Lavradio. 



O Priorado Cosmogonauta do Lavradio trata-se de um priorado simples, dependente da Abadia dos Argonautas do Lavradio. Para atingir o equilíbrio espiritual perfeito, o Mago nomeou dois Priores antagônicos e complementares entre si, cujo Ponto de Equilíbrio é o Ponto de Mutação do Peregrino.



Sobre os Priores Antagônicos e Complementares entre si:



O Prior de Ahura Mazda e seu antagonista, o Prior de Angra Mainyu, escutavam concomitantes aos reclames espirituais e materiais do peregrino, na presença de um Juiz Silente de Mithra.



Sobre o Juiz Silente de Mithra




O peregrino girava uma roda mística, referente ao seu pecado capital. Faria então seu pronunciamento sobre aquele tema.Cada Prior perceberia nele o pecado e as virtudes, sendo que ao final das oitivas, o Juiz Silente.

 

Era o Porta-voz do Abade Mor. Escutava atentamente os Priores, um a cada momento alternado, até que todas as ideias se anulassem. Se as ideias que conflitassem, eram nomeadas como "As intangíveis ao poder humano", e este peregrino deveriam ser imediatamente encaminhado ao Mago.



Sobre a Abadia dos Argonautas do Lavradio:



 O peregrino cujas ideias foram anuladas entre si é encaminhado ao Abade, e experimenta a cura e a libertação in situ em ritual místico e santo diante dos Doze Monges do Lavradio.





4° Ato





Ocorreu que, com a criação da Casta do Priorado Cosmogonauta do Lavradio, organizações vinculadas ao Direito Civil e Cidadania interpelaram judicialmente o  Mago da Pitangueira, pois não havia elemento de defesa dos peregrinos, excluídos pelo Priorado. A inclusão de um Juiz Silente de Mithra não dava nenhuma vantagem nem sequer garantia dos direitos individuais.





O Mago pensou... pensou... contemplou... meditou... e decidiu que manteria as castas, mas todos que não conseguiram chegar ao seu Saber Espiritual, que foram barrados em quaisquer um dos processos, poderiam utilizar de um número gerado para o Whatsapp, específico para aquela pessoa, disponível assim que tivesse impedido de prosseguir.




Sobre a Casta Menor dos Peccatoribus




O Mago jamais respondeu a quaisquer mensagens diretamente, nem sequer sabia do princípio básico de funcionamento do serviço. Para isto criou uma quarta Casta, que denominou de Casta Menor dos Peccatoribus, que consistia em jovens entusiastas dos seus valores cósmicos, que vagueiam pelo paralelo mundo cibernético, trabalhando em casa, sem vínculo direto e sem horário definido.





Foram treinados pela Casta das Sete Vestais da Ribeirinha em várias sessões e encontros carnais, espirituais, esotéricos e místicos, até que pudessem discernir sobre diversos temas capitais que responderiam em serviço pago pelo usuário à todas as dúvidas, questionamentos, e abordagens; e ao final davam conselhos e consolo online aos que sofrem, sempre em nome do Grande Iluminado, o Mago..





Assim caminha a humanidade e este deve ser o novo sentido da vida, meditou o Mago junto à sua Voz Interior.





É isto aí!