segunda-feira, 22 de abril de 2024

Cartas avulsas XIII


Reino da Pitangueira
Terra Redonda&Azul
Lua Gibosa
Sistema Solar
Via Láctea
Zona Sul

Choveu a noite toda, acabei levantando às três e meia da manhã, desassossegado. Sentei na cama, olhos perdidos e mente agitada. Do nada fez-se em mim silêncio e deixei de ouvir a chuva. Parei também de ouvir minhas lamentações, lamúrias, tristezas e sobretudo os pensamentos repetitivos. 

Estava solitário, em contemplação, quando de lado percebo um presença. Senti uma paz profunda, como se tivesse mergulhado numa nuvem de harmonia celestial. O dia ainda não amanhecera, era primavera  de um ano triste. Estava em Juiz de Fora e acreditava até então que dali a poucas horas Juiz de Fora deixaria de estar em mim para sempre.

Fui levemente voltando os olhos para a minha direita. Sabia que era um anjo, sabia o que ele estava fazendo ali, sabia que decisões difíceis são o que são. Não precisava vê-lo, bastava saber que estava ali. Rezamos juntos, fechei meus olhos e pedi a ele que meu caminho fosse o que fosse, que nunca mais nos separaríamos. Ambos cumprimos esta promessa.

Hoje, passado uma vida e muitas jornadas, acho, não tenho certeza absoluta de mais nada,  que a vida tem seus mistérios, seus encantos e desencantos. Tudo que pensamos ser o correto não passa de uma declaração aparentemente verdadeira que mais cedo ou mais tarde levará a uma contradição lógica que parecerá verdadeira, oposta daquela que  até então seria a verdade. Enfim, nossas emoções são paradoxais em tempo integral. 

É isto aí!

Poema de Sete Faces
Carlos Drummond de Andrade
Publicado na obra Alguma poesia (1930), o poema versa sobre os sentimentos de inadequação e solidão do sujeito, temáticas frequentes na obra de Drummond.

Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai, Carlos, ser gauche na vida

As casas espiam os homens
Que correm atrás de mulheres
A tarde talvez fosse azul
Não houvesse tantos desejos

O bonde passa cheio de pernas
Pernas brancas, pretas, amarelas
Para que tanta perna, meu Deus? Pergunta meu coração
Porém, meus olhos
Não perguntam nada

O homem atrás do bigode
É sério, simples e forte
Quase não conversa
Tem poucos, raros amigos
O homem atrás dos óculos e do bigode

Meu Deus, por que me abandonaste?
Se sabias que eu não era Deus
Se sabias que eu era fraco

Mundo, mundo, vasto mundo
Se eu me chamasse Raimundo
Seria uma rima, não seria uma solução
Mundo, mundo, vasto mundo
Mais vasto é meu coração

Eu não devia te dizer
Mas essa Lua
Mas esse conhaque
Botam a gente comovido como o diabo

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Palavras que rimam com você III



Uma palavra
que traduza
das flores
o perfume

uma frase
que seja
bela e profusa
feito pétalas

flutuar no céu  
vagar nas estrelas 
lua nova, cometas
medos e coragens

tem coisas
que só de você
somente você
guardo em mim.

É isto aí!







 

O solteirão, a supermãe e a nora escolhida


Segunda-feira, 14março, 10 horas

Alô? É da casa da Nanda?

Não, você ligou errado.

Desculpe, eu devo ter me confundido.

Tudo bem, não se preocupe, isto acontece.


Segunda-feira, 14março, 13 horas

Alô, por favor, a Nanda...

Olha só, não é daqui, você tem certeza que ela se chama Nanda? Desculpe eu te perguntar, mas você já ligou umas dez vezes neste número.

Sim, claro que tenho. Espere, puxa vida, eu não sei o que está acontecendo, pois  já liguei neste número e sempre falei com a Nanda. Olha, desculpa mesmo. Não sei o que ocorreu.

Tudo bem, estas coisas acontecem. Pode ser que exista uma conexão. Como é esta Nanda?

Bem, ela é bonita, morena, 1,60 de altura, pesa uns 60 Kg, tem por volta de 37 anos, é advogada, divorciada, tem uma filhinha de três anos, mas, desculpe mais uma vez, eu não deveria estar falando estas coisas todas. Não entendo como liguei várias vezes para este número para falar com a Nanda. Eu peço mil desculpas pelo incômodo.

Vocês se conhecem a muito tempo?

Nos conhecemos num aplicativo de solteiros carentes, mas tudo bem. Vou checar o número, apesar de me parecer familiar. Grato, até logo.


Segunda-feira, 14março, 14 horas

Alô? É da casa da Nanda?

Flávio Renato, você é um idiota!

Espera aí, como sabe meu nome? 

Deve ser por que sou a sua mãe, em triste memória de gestação perdida para gerar um filho tão imbecil. 

Mamãe?!?! Puxa vida... mamãe, desculpa, eu não sabia, eu não deveria, eu não sei explicar esta confusão.

Não sabe uma merda. Esta Nanda deve ser mais uma destas rameiras que você paga para fingir que é homem. Em vez de casar com a Adalgiza, de quem sempre fiz gosto, vai procurar uma prostitutazinha da ralé, com filha sem pai, e ainda liga para mim achando que eu sou ela. Você é um imbecil, Flávio Renato, um idiota, um retardado, um banana, um débil mental, um fracassado...

Desculpa, mamãe, mas vou desligar, por que preciso urgentemente ligar para o meu analista.


Quarta-feira, 16 de março, 16 horas

Alô, eu queria falar com a Nanda...

Flavinho, que surpresa agradável! Sumiu, hem!! Estou sendo abandonada?

Flavinho? Ninguém me chama de Flavinho. Quem é você?

Sou eu, a Adalgiza, bem que a sua mãe falou que você queria conversar comigo, e que iria brincar de me chamar de Nanda. Alô, alô? Flavinho? Alô...


Sexta-feira, 18 de março, 11 horas

Alô, quem está falando?

É a Nanda, amor.

Você está na casa da minha mãe?

Não, amor. De onde você tirou esta ideia? Sequer conheço sua mãe. 

Meu santinhodasvertigens, está tudo rodando. Olha vou desligar, refazer minha homeostase e retorno assim que conseguir respirar novamente.


Sexta-feira, 18 de março, 12 horas

Alô! Eu quero falar com a Nanda.

É ela, amor, euzinha plena.

Olha, eu preciso fazer uma pergunta, mas seja sincera, ok?

Sim, amor, sempre sincera com você.

Por acaso minha mãe te contratou para que você me desse um telefone onde ela também atende, e que era também  o seu, para que ela me deixasse constrangido e humilhado, além de armar com uma suposta Adalgiza para falar comigo?

Eu, amor? Mas de onde você tira estas coisas?

É por que isto mexeu comigo, olha só, Adalgiza, precisamos conversar.

Amor eu sou Nanda, entendeu? A sua Nanda. 

Puxa vida, está tudo confuso. Eu posso explicar

Não precisa, amor, já entendi, esta Adalgiza é a sua via preferencial. Tudo bem, eu já desconfiava que tinha outra, e não estou com raiva. Até um dia, amor! Valeu pelas rosas!


Enquanto isto, numa rede paralela:

Alô! Adalgiza?

Nanda!? Tudo bom, amiga?

Tudo bom, querida. Deu tudo certo, pode bater que a bola está na marca do penalty, vai que é seu.

Obrigada, amiga; minha sogra vai passar aí para acertar as despesas.

Valeu, querida, foi um prazer fazer negócio com vocês.

É isto aí!

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Invasão alienígena na Pitangueira


Não sei o que era aquilo. Acordei com um zumbido forte vindo do quintal. Cheguei sorrateiramente na janela e ao olhar para baixo, percebi que havia um objeto aparentemente sólido, de forma  geométrica com três dimensões visíveis: altura, largura e comprimento. Tal qual um prisma, possuía todas as suas faces no formato de um paralelogramo, sendo formado por 6 faces, 8 vértices e 12 arestas. Não havia portas ou janelas aparentes. 

Vi dois vultos saírem de uma aparente manifestação quântica de tunelamento pela lateral do veículo. Supostamente era um casal, mas devido à distância e a frágil luminescência, difícil garantir. Cataram todas as jabuticabas, limões, graviolas, abacates e pitangas nas árvores. Ela (?) colocou o pé esquerdo na piscina e a água borbulhou. Ele (?) fez sinal de silêncio e apontou para o alto, onde eu estava, na janela. Acenaram, entraram rapidamente no veículo, desaparecendo na lateral e logo a nave desmaterializou.

Mas que sacanagem foi esta? pensei. Tanto mato, tanto quintal e estes bostinhas vem, aqui no meu quintal, depois de ter dado duro para as árvores frutificarem; adubei, rocei, aguei, e agora isto. Na manhã seguinte coloquei uma placa de radioatividade em cada árvore. Pois você acredita que não passou três dias e os pervertidos voltaram, pegaram o resto das frutas e levaram as placas? A próxima vai ser na porrada.

É isto aí!


quarta-feira, 17 de abril de 2024

Cartas avulsas XII


Havia o brilho do seu olhar nas gotas orvalhadas do sereno sobre a caprichosa teia adornando o pé de graviola. O sereno formou-se na noite clara, de céu limpo e calmo. Brinquei com a difração da luz matinal sobre a arte engenhosa da natureza. Eram seus olhos a iluminar minha saudade.

Neste instante ocorreu-me, num átimo de memória, lembrar que o poeta Fernando Pessoa escreveu, certa vez, que "só para ouvir o murmúrio do vento valia a pena ter nascido". 

Gosto de pensar que sua existência se justifica pela variedade de saudades que é capaz de acumular. Saudades da gente, das coisas, dos lugares, das comidas, das sensações, dos sentimentos e tantas outras coisas mais que atravessaram as membranas do coração e ali se enfurnaram feito bicho da seda.

Então, de uma maneira instintiva fui engendrando sua ausência nesta carta, de forma que desejo concluí-la dando-lhe este poema do Fernando Pessoa, afinal foi por ele que fiei a saudade do brilho deste seu olhar, nesta manhã de outono. Espero que goste.

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)
Poema: Realidade

A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.

Basta existir para se ser completo.

Tenho escrito bastantes poemas.
Hei-de escrever muitos mais, naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.

Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.

Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem esforço,
Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos,
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.

Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.

7-11-1915

“Poemas Inconjuntos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993). - 83.

“Poemas Inconjuntos”. 1ª publ. in Athena, nº 5. Lisboa: Fev. 1925.






segunda-feira, 15 de abril de 2024

Confissões

Esta  postagem profética foi inicialmente publicada em Maio de 2017, aqui mesmo neste Reino da Pitangueira, já norteando o que viria depois. Sofreu apenas pequenas atualizações para conduzir o sentido pretérito aos dias de hoje. 

Eis que, num dia chuvoso, triste e frio, Fulano de Tal, ex-tudo, entrou no fechado e restrito Círculo do Templo dos Pecadores de Bens, em silêncio. Procurou um local discreto, afastado dos holofotes da Luz Celestial. Ajoelhou-se com extrema dificuldade devido ao excesso de peso e da artrite instalada há muito tempo. Postou os cotovelos sobre o encosto do confessionário, uniu as mãos e fez sua confissão ao Dom, o Mestre, em voz rouca e embargada :

Oh, Senhor Mestre de todas as Companhias dos Homens de Bem, beijo-te a mão e vos imploro:

- Fazei de mim um homem livre dos pecados descobertos, mas acobertai os escondidos.

- Que eu perca só o que foi denunciado, mas preserve o roubo acumulado.

- Que eu seja esquecido pela mídia.

- Que eu não sofra muitos achaques, se sofrer que sejam pequenos e breves.

- Que meus amigos desapareçam e meu inimigos me evitem.

- Que minhas contas em sete paraísos fiscais permaneçam intactas.

e por fim, já que só posso fazer sete pedidos:

- Que a Gildinha seja fiel, além da minha esposa, é claro. Como? Só uma? Que seja a Belinha, então, afinal ela é mais, humm, digamos assim, mais dentro do meu padrão de adiposidade tateável.

Amém!!!!

Assim disse o Mestre dos Mestres dos Mestres dos Mestres, Pai de todas as Companhias de Bem:

Vá, poveraccio, tua fé nos salvou!


É isto aí!

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Só pensando.

Já reparou que toda vez que tem um eclipse solar, a horda e as guildas se ouriçam e saem espalhando que agora será o fim disto, o fim daquilo, etc., o arrebatamento, a morte dos inimigos, a determinação dos escolhidos?

Toda e qualquer pessoa medianamente informada sabe que os eclipses solares acontecem duas vezes ao ano, com um intervalo de aproximadamente seis meses entre eles, coincidindo com o alinhamento das órbitas solar, lunar e terrestre. 

Onde chegaremos com esta percepção?

É que assim, supostamente, as maldades humanas, bestiais e vorazes parece que ficam de lado, pois talvez o importante seria a profecia se cumprir como querem e ou desejam seus interlocutores. No final sempre cairá ou ocorrerá uma desgraça entre um evento e outro, coisa normal para um planeta tão belo e tão mal frequentado. Desta forma seria feita a Justiça Divina como estava escrito, livrando a cara dos mandantes?

Vamos combinar que é cada profecia mais bem elaborada que a outra. Santos, profetas, líderes religiosos e videntes disputando  fervorosamente quem vencerá a disputa. Ao vencedor, as batatas, tal como filosofou Quincas Borba, em imperdível romance de Machado de Assis.

Para Quincas Borba, a frase significa que os vencedores podem desfrutar das batatas nos campos de guerra, simplificando ao máximo o Humanitismo e seu preceito básico de que, na luta pela sobrevivência, quem vence é o mais forte. Bom lembrar que Humanitismo é o nome da filosofia criada por Joaquim Borba dos Santos, o Quincas Borba, um dos mais célebres personagens de Machado de Assis, que é exposta fundamentalmente no romance homônimo. 

O incrível Machado de Assis coloca em seu impagável personagem a ideia de que o Humanitismo, assim como a teoria da seleção natural, lançada por Charles Darwin entre 1842 e 1844, está baseado na sobrevivência dos mais aptos e enxerga a guerra como forma de seleção da espécie. A filosofia de Quincas Borba afirma que a substância da qual emanam e para a qual convergem todas as coisas é Humanitas. Leia o Livro e decifrará as profecias, os eclipses e as batatas no campo.

É isto aí!

terça-feira, 9 de abril de 2024

Lembra de mim - História da Música (Ivan Lins - Vitor Martins)



Atenção: O texto abaixo foi copiado da página de Ivan Lins no Facebook, onde conta a história da música “Lembra de Mim”, composta em parceria com Vitor Martins:

Amigos,

“Lembra de mim” foi composta em 1992 em Woodland Hills, L.A. Califórnia e faz parte de uma  coletânea de canções feitas neste período , que chamei de "Saudades do Rio", já que não aguentava mais aquela cidade sem esquinas, onde você perde seis horas por dia dentro de um automóvel, se não mais.

Muita saudade de meus parentes e amigos e da natureza estonteante.  

Pois bem, a melodia até que saiu rápido, mas havia certa melancolia em mim. Quando voltei ao Brasil, essa música ficou guardada por quase dois anos. No final de 1994, comecei a pré produção do CD "Anjo de mim", num apart hotel em Sampa e foi ali que desovei três canções da coletânea, incluindo "Lembra de mim". Não tinha letra ainda, mas já estava nas mãos do Vitor Martins.

Quando chegou a letra , me deu um aperto no coração. Me veio a lembrança de uma paixão de juventude, que terminou quase bruscamente, me deixando mal por quase dois anos. Além de nunca mais ter visto, tinha medo de um dia reencontrá-la, para dizer a verdade, o que realmente aconteceu  há dez anos, na saída de um show, no extinto Canecão, me balançou, mas depois passou. 

Curiosamente não sei se o Vitor pensou em alguém quando escreveu a letra . Ele é muito fechado nestes assuntos; mas o texto veste bem em tanta gente, não é?

Abraços

Ivan


Lembra de mim (Ivan Lins - Vitor Martins)

Lembra de mim
Dos beijos que escrevi
Nos muros a giz
Os mais bonitos
Continuam por lá
Documentando
Que alguém foi feliz...

Lembra de mim
Nós dois nas ruas
Provocando os casais
Amando mais
Do que o amor é capaz
Perto daqui
Há tempos atrás...

Lembra de mim
A gente sempre
Se casava ao luar
Depois jogava
Os nossos corpos no mar
Tão naufragados
E exaustos de amar...

Lembra de mim
Se existe um pouco
De prazer em sofrer
Querer te ver
Talvez eu fosse capaz
Perto daqui
Ou tarde demais...

Lembra de mim!...

Lembra de mim
A gente sempre
Se casava ao luar
Depois jogava
Os nossos corpos no mar
Tão naufragados
E exaustos de amar...

Lembra de mim
Se existe um pouco
De prazer em sofrer
Querer te ver
Talvez eu fosse capaz
Perto daqui
Ou tarde demais...

Lembra de mim...

Abaixo a belíssima interpretação de Sandra Duailibe (São Luís MA), compositora, cantora, youtuber e produtora cultural brasileira. É odontóloga de formação, empresária do turismo, e desde 2005 dedicada exclusivamente à música. Fez diversos shows no Brasil e no mundo. Dividiu o palco com Tibério Gaspar, Simone Guimarães, Miele, Claudia Telles, Nonato Buzar, dentre outros. 

Sandra também homenageou a capital federal no show Brasília: 50 anos de música com a Orquestra Filarmônica de Brasília, em 2010.


Siga Sandra Duailibe: www.fb.com/sandraduailibe
Inscreva-se no seu canal do Youtube: https://goo.gl/nKUA8U 




domingo, 7 de abril de 2024

Do poema que fiz




Fiz um poema 
seu e meu 
um poema 

descrito,  
contado, 
exposto, 

narrado, 
relatado, 
explicado, 

dito de amor, 
mil vezes revelado
recontado na história.

O escrevi, este poema
na folha das
memórias 

guardei 
escondi
dobrado

para o dia 
que não fosse 
mais preciso guardá-lo. 

É isto aí!


Papo de Esquina - Existem pessoas más

 


Existem pessoas más, encobertas pela hipocrisia, que é uma característica onde falsidade e dissimulação andam de mãos unidas. Conheço hipócritas, são perfeitos, sempre limpinhos e perfumados. Adoram mentir, adoram, obter vantagens com traições, rasteiras e maldades, tudo com muita discrição e elegância. Conheço o tipo. 

Existem pessoas más, encobertas pela inveja. Ao contrário, ou complemento da hipocrisia, mentem descaradamente, porque lutam em total desespero para que você perca o que tem - um carro, um amor natural e lindo; uma casa; um emprego; amizades duradouras; etc. Ele nunca quer alguma coisa sua para si, apenas tem tesão pela dor da sua perda, preferencialmente provocada por ele, mas se for por outra pessoa, regozijam também, afinal, aceitam encomendas do inferno. 

Existem pessoas más que são boazinhas. Fuja delas. Saiba que não possuem nenhuma relação com as pessoas boas. Trazem consigo aquele sorrisinho, aquele andar felino, aquele jeito de quem acabou de tomar banho, mas nunca evidenciam sentimentos. As boazinhas não têm lado nem defeitos aparentes; não têm atitude, tendem a ser puxa-sacos profissionais e sempre conformam-se com a coadjuvância. Mas, alto lá, mas sempre procuram que as coisas aconteçam com querem - custe o que custar e leve o tempo que demorar. 

Existem pessoas más portanto fique esperto, fique esperta.

É isto aí!

sábado, 6 de abril de 2024

Ziraldo!!!


 "Todo lado tem seu lado

Eu sou o meu próprio lado

E posso viver ao lado

Do seu lado, que era meu."

Trecho do poema do Menino Maluquinho

Meu querido poeta e multipolisuper cartunista, chargista, pintor, escritor, dramaturgo, cartazista, caricaturista, cronista, desenhista, apresentador, humorista e jornalista Ziraldo, não fiquei triste com sua partida sem despedidas, mas do deserto que se segue na cultura nacional após partir.

Um abraço, sim, sei, o Céu está em festa!

É isto aí!


quinta-feira, 4 de abril de 2024

Cartas de Amor LXXXIV


Reino da Pitangueira,
Planeta Terra&Lua,
3° do Sistema Solar,
Via Láctea, Zona Sul

Querida, dança comigo?

Calma meu bem! Não fique aflita. Deu que numa madrugada insone você entrou nos meus pensamentos e daí, inevitavelmente, não tive como deixar de pensar em você explicada pela filosofia. Já esclareço, querida, calma, isto, calma. Saiba que Sêneca ensinou que você, linda, não é aquela de quem se elogiam as pernas ou os braços, mas aquela cuja inteira aparência é de tal beleza que não deixa possibilidades para admirar as partes isoladas.

Daí arrisquei chamá-la para dançar no imenso salão dos sonhos lúcidos, numa inefável noite sem luar. Você flutuava no salão, e eu, bem ... eu perambulava com minha rigidez clássica. Como sabe, não sei dançar. Sempre fui horrível neste quesito social. Ainda bem que isto não é ponto categórico, claro, positivo ou terminantemente decisivo para gostar de você. Bailemos então, eu disse, dentro do possível, com movimentos de deslizamento e giros, executados em um ritmo de três tempos deslocando-nos pelo salão de forma quase harmoniosa, perseguindo, na medida do possível, o compasso da música.

Não chore, não, por favor, não chore. Você esta linda no seu vestido de baile. Logo perguntei - Querida, vamos parar um pouco, respirarmos  e tomarmos fôlego? Sente-se melhor? Que bom. Veja, o dia já vai aparecer e a magia desta madrugada tão linda esvai. Logo a vida seguiu, num ir e vir infindo. 

Sabe, a saudade é isto, dançar por encantamento com seu ser que habita em mim ao alcance dos meus pensamentos. Como já escrevi em outras cartas, tem hora que tudo que a pessoa precisa é da outra pessoa. 

Um cafuné nos cabelos, um afago na face, um beijo apaixonado e um abraço apertado.

É isto aí!



Música: Esquina do Brasil (Instrumental)
Músico: Nonato Luiz 
Autor: Evaldo Gouveia / Fausto Nilo
































terça-feira, 26 de março de 2024

Cartas Avulsas XI


Reino da Pitangueira
Terra Redonda&Azul
Lua Balsâmica
Sistema Solar
Via Láctea
Zona Sul

Nunca faça negócios, nunca namore, nunca se apaixone, nunca seja amigo/amiga, nunca se relacione socialmente, nunca se permita ser subordinado, nunca trabalhe ao lado de:

- Pessoas ingratas
- Pessoas preguiçosas
- Pessoas que adoram culpar outras pessoas
- Pessoas oportunistas com má índole
- Pessoas irresponsáveis, sem compromisso
- Pessoas manipuladoras
- Pessoas desonestas
- Pessoas egoístas
- Pessoas muito negativas
- Pessoas que a fazem sentir-se mal.
- Pessoas bajuladoras
- Pessoas que odeiam pessoas.
- Pessoas invejosas.
- Pessoas mitômanas.


É isto aí!




Mal súbito




De repente
há dor
medo
terror

Subitamente
a lassidão
o óbvio
a solidão

De repente
desapegado
perdido na
intransigência

Subitamente
cai o choro
desregrado
indigente.

É isto aí!

sexta-feira, 22 de março de 2024

Palavras que rimam com você II


É tarde
ademais
você sabe,
destarte,
que o éter
nostálgico
que carrego
sublima e
vira saudade
aqui, acolá,
como fosse
uma tarde
fria, densa
com lágrimas
em silêncio
e o nunca 
mais côncio



É isto aí!


Composição de Lorena Mendes e arranjos de Beatriz Cunha! Aqui no Barzinho em Casa MPB nós trazemos artistas independentes que não tem condições de arcar com produções dessa qualidade. Se curtiu essa ideia compartilha com os amigos que precisam conhecer nosso projeto! 



Letra Nossa Paz

Hoje eu te escrevo tais declarações
Depois que a sua boca seduziu meus lábios, recado dado, vem me ver
Sou teu lugar
Não espera o tempo demorar
Pra quando o sol se pôr
Pousar perto de mim, amor
Teu canto me chamou pra casa
E feito passarinho, voei
Contigo eu vou
Contigo eu sou
Contigo eu vôo

Amor, o teu olhar testemunhou meu vício em te olhar
E sem dizer sentir a nossa paz
Aquele encontro marcado, desejo calado
Virou grande amor

quinta-feira, 21 de março de 2024

Canção de Outono (Fernando Pessoa)

 


Este poema de  Fernando Pessoa  foi publicado em 28 de janeiro de 1922


No entardecer da terra,

O sopro do longo outono

Amareleceu o chão.

Um vago vento erra,

Como um sonho mau num sono,

Na lívida solidão.


Soergue as folhas, e pousa

As folhas volve e revolve

Esvai-se ainda outra vez.

Mas a folha não repousa

E o vento lívido volve

E expira na lividez.


Eu já não sou quem era;

O que eu sonhei, morri-o;

E mesmo o que hoje sou

Amanhã direi: quem dera

Volver a sê-lo! mais frio.

O vento vago voltou.


Fernando Pessoa

quarta-feira, 20 de março de 2024

Cartas Avulsas X

 


Reino da Pitangueira
Terra Redonda&Azul
Lua Gibosa
Sistema Solar
Via Láctea
Zona Sul

Querida Odete,

Aqui no Planeta está tudo bem. Os cegos andam, os coxos escutam e os surdos enxergam. Ah! e tem os viciados em subtrações, que subtraem, cada vez mais e mais.. A novidade é saber que existe Lua Gibosa. Nesta altura da vida, na velhice ampla, geral e irrestrita, nunca, jamais em tempo algum conheci tal lua.

Os astrofísicos assim determinam a fase intermediária entre a Lua cheia e o quarto minguante. Ela continua o seu movimento de revolução em torno da Terra, e mais uma vez o lado iluminado visível a partir da superfície terrestre diminui. E os astrólogos, daqueles que fazem horóscopos, também palpitam que a Lua Gibosa sugere um período de análise e aprimoramento, bom para continuar a evoluir suas intenções e ideias.

Eu aqui, comigo mesmo, conversando e proseando acho, no tal do achismo para não comprometer a sabedoria dos outros, de que este tal "período de análise e aprimoramento" tem que ser feito antes do trem partido,  do amor perdido, do ônibus lotado, tipo assim, senão para sempre virão as lágrimas umas aqui, outras ali, um sentimento dolorido, uma angústia arretada e aquelas tristezas que nunca mais vão embora,  

E o tal de "bom para continuar a evoluir suas intenções e ideias" é coisa de conto de fadas, de histórias para ninar a criança que já está bem crescidinha dentro de você. Pensei isto tudo por causa desta Lua Gibosa, da qual nunca ouvi falar, mas deve ser ela que faz doer meus pensamentos.

Por hoje é só, Odete, tem trabalho na mesa, no armário, na gaveta e na prateleira aberta. Acho que vou pedir redução de tempo livre. 

Valeu!

É isto aí!



segunda-feira, 18 de março de 2024

A fila do bambolê


A fila era extensa, muito muito grande. Dezenas, não, não eram dezenas, eram centenas de bambolês enfileirados. Recebi o bambolê ao adentrar ou sair, não sei bem ao certo. Ele era transparente e cintilante, e não permitia que tocássemos uns nos outros. Era uma espécie de anel de campo eletromagnético com armação flutuante e funcional. 

A temperatura muito agradável, estávamos todos, literalmente, sob enormes árvores floridas, com copas generosas. Achei estranho falar que estávamos sob as milenares árvores. De alguma forma a preposição "sob" virou uma chave temática para olhar para cima. Comecei  a olhar, havia um céu, mas não era um céu como aquele que conheço, onde levanto a cabeça, os olhos e a alma e vagueio pelo infinito, com ciente localização espacial inferior. 

Agora entendia tudo ao mesmo tempo, a mente girando girando, sabia dos céus, dos anjos, dos arcanjos, dos querubins, dos serafins, seria como eu fosse um chatgpt humano, tinha muitas respostas esperando pelas poucas perguntas inteligentes. Estava bem ali, ao alcance das mãos, o Céu dos Céus.

Enquanto olhava, ascendi em direção a um plano superior que pareceu-me familiar. Transcendi este plano, sentado sobre uma luz indecifrável, inefável, que deslizava num derrame de fótons até chegar a um guichê de bancada alta, acima da minha cabeça, de modelo colonial. Do alto e do nada, uma voz feminina perguntou:

- Nome?

- Nome.

- Mais um engraçadinho.

- Senhora, estou só nesta estranha existência, eu acho, não sei bem ao certo quem sou, o que sou e o que está ocorrendo neste exato momento..

- Meu Deus, hoje o dia promete. Senhor, por gentileza, diga o seu nome. Di-ga o seu no-me. Só isto.

- Eu já disse que  não tenho nome. Dezenas de nomes surgem e desaparecem dentro de mim, acho que sou muitos. 

De súbito ela mostrou seu delicado e fino rosto para além do guichê, quase face a face comigo (como ela fez isto?). Tinha olhos expressivos, falou algo ininteligível, badalou um sino e voltei para a fila do bambolê, daí deu um sono imenso e incontrolável, então acordei aqui. Onde é aqui? Agora sei meu nome mas não sei onde estou. Vou esperar que a mulher, que desmaiou ao me ver, acorde e explique porque acho que a conheço, mas desconheço o lugar. 

É isto aí!


segunda-feira, 11 de março de 2024

Cartas de Amor LXXXIII


Reino da Pitangueira,
Planeta Terra&Lua,
3° do Sistema Solar,
Via Láctea, Zona Sul

Querida, não repare a bagunça,

Só eu sei que aqui dentro está tudo revirado, ou coisado como você mesma diz. Acho engraçado você falar que as coisas estão coisadas. Há na boa ordem da língua pátria quem diga que coisado é particípio passado do verbo coisar, que geralmente é transitivo, pois necessita de complemento para constituir o predicado porque não têm sentido coisar por si só.

Como escrever cartas de amor não é minha melhor escolha, já que não sei como traduzir minha parte que é você coisada dentro de mim, fico coisando aqui e ali, até achar um meio de dizer que sonhei com você noite destas, pois sou destes que dormem e sonham apenas à noite. Foi bom, foi ... isto, foi bom, mas foi triste também.

Mudando de assunto, porque homem não chora nem fica coisado, a Sabiá Laranjeira postou quatro ovos, e está lá chocando a vida que a perpetuará, então, dentro de umas duas semanas teremos aumento na família. Plantei um pé de romã e tive que cortar uma palmeirinha que nasceu aleatoriamente num lugar onde não teria sucesso na vida. Além disto estou vendo se as sementes de uva irão germinar.

Queria muito saber escrever aquelas palavras estilosas, românticas, cheias de carinho só por serem capazes de existir no amor enquanto palavras. Sabe, existem palavras vicejantes, que passam dos olhos direto à alma. E destas estilosas e coisadas não domino bem a arte de traduzi-las de dentro de mim para o interior do interior do seu coração. Eu te prometo um dia ser capaz de trazê-las aos seus olhos, aos seus ouvidos, à sua pele e ao sentimento que nos une.

Um cafuné no cabelo, um afago na face, um beijo apaixonado e um abraço do fundo do meu coração para toda você que habita em mim.

É isto aí!






sexta-feira, 8 de março de 2024

Palavras que rimam com você

 


Estava sentado, 

diante da tela, 

janela do mundo,

e vi sua face,

olhos amendoados;

definitivamente

linda e luzidia.

Saudade faz-se

à montante da vida

enquanto o tempo

segue à jusante,

até o ponto

onde ausento.


É isto aí!



Fonte Youtube: Can't Take My Eyes Off You  


Gurt Lush Choir e Gasworks Choirs cantando "Can't Take My Eyes Off You" no Colston Hall no Gurt Gasworks Concert 2012.
  A canção foi escrita por Bob Crewe e Bob Gaudio, e ficou famosa por Frankie Valli.
Liderado aqui por Ali Orbaum. (Com apoio de Sarah Pennington e Sam Burns). Organizado por Dee Jarlett